1. O que é um DIU?

 

Significa dispositivo intrauterino (ou seja, colocado dentro do útero), que tem como finalidade básica evitar a gravidez (contracepção), embora possa ser usado com outras finalidades (para redução do sangramento menstrual em mulheres com hemorragia, por exemplo). Há vários tipos de DIU em todo o mundo, porém na foto mostramos os que estão disponíveis comercialmente no Brasil.

 

2. Quais os tipos de DIU existem?

 

Na foto mostramos os tipos de DIU no Brasil: os primeiros são o T de Cobre e o Optimus (antigo Multiload), medicados com cobre, e o terceiro é o Mirena ou DIU de levonorgestrel (LNG), medicado com o levonorgestrel que é hormônio (um tipo de progesterona).

Fotografia de DIU de cobre.Fotografia de um DIU.

 

 

3. Quais os mecanismos de ação? Como o DIU impede a gestação?

 

Ao contrário do que propalam algumas pessoas e organizações, repetindo mitos e espalhando inverdades, o DIU NÃO é abortivo e seus mecanismos de ação são pré-fertilização, isto é, ele atua evitando o encontro do óvulo com o espermatozoide.

Todos os DIU disponíveis atualmente no mercado são medicados. Assim, no endométrio há uma combinação do efeito corpo estranho com a ação do produto combinado (cobre ou progesterona). Ocorre uma reação inflamatória do endométrio com produção de substâncias citotóxicas e ativação de enzimas resultando na destruição dos espermatozoides. Evita-se, portanto, a fecundação.

Adicionalmente, o DIU com hormônio torna mais espesso o muco cervical e leva a atrofia endometrial. Ele impede que os espermatozoides entrem no útero e encontrem o óvulo.

 

Ilustração de um corpo e ao centro um útero.

4. Qual a chance de falha de um DIU?

DIU são considerados LARC, isto é, métodos contraceptivos reversíveis de longa duração, altamente efetivos. Assim, para os modelos apresentados, nós teríamos as seguintes taxas de falha:

  • DIU de Cobre: 6 a 8 falhas em cada 1.000 usuárias
  • DIU com hormônio (Mirena): 2 falhas em cada 1.000 usuárias

Em comparação com outros métodos amplamente usados, a ligadura tubária, que é um método também muito efetivo, porém considerado irreversível, tem 5 falhas em cada 1.000 usuárias.

Já a pílula anticoncepcional é considerada um método de efetividade moderada porque seu efeito é altamente dependente do usuário. Assim, em condições ideais (uso perfeito) como em situações de pesquisa ou usuárias que aderem estritamente às instruções, a taxa de falha é de 3 para 1.000 usuárias, porém na vida real (uso típico), em que as pessoas esquecem de tomar, não tomam nos horários corretos, esquecem de levar consigo ou ter fácil à mão a pílula, a taxa de falha é bem maior, de 90 a cada mil usuárias (9%), porque é mais fácil esquecer!

Não há método contraceptivo perfeito com taxa de gravidez zero, porém a chance de engravidar com DIU é mais baixa do que engravidar com a ligadura, especialmente quando se usa o DIU com hormônio. As mulheres deveriam ser esclarecidas sobre essa efetividade antes de escolherem ligar as trompas.

 

5. Promove infecção?

 

Não, ele vem esterilizado e não é capaz de introduzir um micróbio dentro de seu útero.

Os dispositivos mais antigos tinham um fio que possibilitava a subida de microrganismos para dentro do útero e por isso se disseminou o temor do risco de infecção pélvica, conhecida como DIPA (Doença Inflamatória Pélvica). Esse modelo de DIU existia nos EUA e foi retirado do mercado. Hoje os fios do DIU são de outro material que não permite que isso aconteça.

Assim, se você colocou um DIU e teve infecção, essa infecção não foi provocada pelo DIU, possivelmente era um micróbio que já estava em seu organismo ou que você adquiriu posteriormente, por outra razão. Há evidência inclusive de que o DIU de levonorgestrel protege contra DIPA, porque espessa o muco cervical e evita a ascensão de micróbios para a cavidade uterina.

 

6. DIU dá câncer de útero?

 

Este é um mito infelizmente muito difundido. O DIU não causa câncer de útero, o “grande vilão” causador do câncer cervical é o HPV, um vírus que se pega pela relação sexual (e cuja transmissão poderia ser evitada se utilizando camisinha). Os estudos mais recentes na verdade têm demonstrado que parece que o uso de DIU reduz a chance de ter câncer de útero em torno de 45%.

 

7. DIU dá cólicas?

 

O DIU de cobre pode aumentar um pouco a cólica em algumas mulheres, sobretudo nos primeiros meses de uso, mas a maioria não sente nada. Já o DIU com hormônio pode reduzir as cólicas, apenas 2 mulheres em cada 100 podem se manter com cólicas.

 

8. E dá sangramento?

 

O DIU de cobre pode aumentar o volume de sangramento durante a menstruação, mas isto dura em torno de 6 meses. Geralmente a mulher se adapta. Quando não se adapta, existem medicações para reduzir o volume de sangramento.

Algumas usuárias podem optar por retirar o DIU por esse motivo, mas é pouco frequente. Vale lembrar que se a mulher tem menstruações abundantes com anemia ou sangramento genital de etiologia não esclarecida há uma contraindicação para a inserção do DIU (no primeiro caso, só do T de cobre). Já o DIU com hormônio reduz em 90% o volume da menstruação e 20% das mulheres podem se tornar amenorreicas (isto é, parar de menstruar).

Nos 6 primeiros meses, há sangramentos irregulares (chamados de spottings, geralmente do tipo “borra de café”) que não fazem mal à mulher e representam adaptação do organismo ao método. Existem medicações para parar o sangramento caso ele incomode a mulher.

Em torno de 15% das mulheres podem não se adaptar ao sangramento, mas 85% ficam satisfeitas caso o médico tenha explicado adequadamente o que esperar do método e do período de adaptação. Essas explicações obviamente devem ser dadas antes da inserção, para que a pessoa não se preocupe desnecessariamente com os efeitos depois de já está usando o DIU.

 

9. Quanto tempo dura um DIU?

 

O DIU de cobre dura 10 anos, o de hormônio 5 anos. Recentemente, estudos têm demonstrado que o efeito do T de Cobre 380 se prolonga até 12 anos e o do Mirena até 7 anos, podendo-se postergar a retirada ou a troca se essa for uma decisão da usuária.

 

10. Tem no SUS?

 

O SUS tem o DIU de cobre, mas não tem o DIU com hormônio em todos os serviços, por decisão do Ministério da Saúde. No entanto, em alguns serviços, através de convênios com ONGs há disponibilidade do DIU de levonorgestrel, em geral hospitais-escola preparados para capacitação e treinamento de residentes e outros profissionais de saúde como provedores.

 

11. Como saber se eu posso usar?

 

A maioria das pessoas pode usar o DIU, mesmo quem não teve filhos ou é adolescente. Há um mito de que as nuligestas (mulheres que nunca tiveram filhos) não podem ou devem usar DIU, porém sem qualquer evidência científica.

Embora a inserção possa ser um pouco mais dolorosa e desconfortável em mulheres que nunca engravidaram ou pariram, isso é muito variável e a taxa de expulsão do DIU é a mesma em mulheres que tiveram e não tiveram filhos de acordo com as evidências mais recente.

Sabe-se que ao retirar o DIU a chance de engravidar é a mesma de quem nunca usou um DIU. Ele não causa infertilidade! Existem restrições seu uso (infecções sexualmente transmissíveis ativas, cervicite mucopurulenta, anomalias uterinas distorcendo a cavidade, DIPA ativa ou nos 3 últimos meses, câncer cervical), mas seu médico será capaz de dizer se você pode ou não usar o DIU através da anamnese e do exame pélvico.

 

12. Existem exames necessários para colocar o DIU?

 

Não, a exigência de ultrassonografia e de fazer previamente o Papanicolaou ou exames de sangue é completamente descabida. Se seu exame de Papanicolaou estiver atrasado, pode-se aproveitar o exame pélvico e fazer a coleta, por uma questão de oportunidade, para aproveitar a ocasião, e não porque seja necessário.

 

13. Eu preciso estar menstruada para colocá-lo?

 

Não, este é mais um mito que se criou e que muito dificulta a programação da inserção no SUS. O que se alegava era que menstruação facilitaria a inserção, mas a inserção pode ser realizada em qualquer fase do ciclo desde que se tenha certeza de que a mulher não está grávida.

 

14. Como o DIU é colocado?

 

Ele é colocado pelo médico ou pela enfermeira treinada passando um espéculo (como se passa para a coleta de Papanicolaou), depois se pinça o colo com uma pinça de Pozzi, se mede o colo com histerômetro e em seguida se insere o DIU que já vem com o equipamento insertor.

Cerca de 80% das mulheres não precisam de anestesia, pois a dor é de leve a moderada. Cerca de 20% das mulheres precisam de algum alivio para dor. Não precisa de internação, é um procedimento simples e que dura menos de 20 minutos. Fotografia de um DIU sendo inserido em uma protese.

 

 

15. Pode dar trombose venosa ou arterial?

O DIU de cobre não tem hormônio e não nenhuma relação com trombose. O DIU com hormônio contém o levonorgestrel, um progestagênio. Os progestagênios isolados não estão associados a aumento de risco de trombose venosa e por isto podem ser usados em que já teve trombose venosa, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde.

 

Referências:

Family planning: a global handbook for providers. Baltimore and Geneva: CCP and WHO, 2011.*Madden T, McNicholas C, Zhao Q, Secura GM, Eisenberg DL, Peipert JF. Association of age and parity with intrauterine device expulsion. Obstet Gynecol. 2014;124(4):718-26.

Lyus R, Lohr P, Prager S; Board of the Society of Family Planning. Use of the Mirena LNG-IUS and Paragard CuT380A intrauterine devices in nulliparous women.Contraception. 2010; 81(5):367-71.

Ease of insertion and clinical performance of the levonorgestrel-releasing intrauterine system in nulligravidas. Bahamondes MV, Hidalgo MM, Bahamondes L, Monteiro I. Contraception 2011; 84:e11–6.

Mantha S, Karp R, Raghavan V, Terrin N, Bauer KA, Zwicker JI. Assessing the risk of venous thromboembolic events in women taking progestin-only contraception: a meta-analysis. BMJ. 2012; 345:e4944.

Post originalmente publicado no Facebook.