Aqui é o piloto falando, tivemos um imprevisto em nossa aeronave e os nossos motores vão parar em breve. Mantenham-se calmos e com os cintos afivelados. 

 

É… Foi mais ou menos isso que eu ouvi do meu chefe quando ele falou que pandemia quebrou as pernas da empresa e eu ia ficar sem emprego no fim do mês.

Bem vindos à bordo 

2020 prometia, eu juro para você. E não era papo furado de motivação de fim de ano. Eu realmente ia tomar vergonha na cara e fazer tudo aquilo que eu sempre planejei:

  • Ver mais meus amigos
  • Viajar mais
  • Fazer yoga
  • Ficar mais próxima da família
  • Ir para mais rolês

E desta vez tava sendo diferente porque eu tinha um plano de ação detalhado e bem prático. Os primeiros meses do ano foram tão bons, que era nítido que tinha tudo para quem saber ser  “o melhor ano da minha vida”. (Por que não?)

Tripulação, portas em automático

Eu adoro essa frase da equipe de bordo. E falando em avião, a minha relação com viagens começou muito cedo. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse era: aeromoça (confesso que às vezes eu mudava para professora ou veterinária também, indecisa desde pequena). Eu lembro que tentava imitá-las pegando o carrinho de frutas de casa e saia servindo mimos para minha família no sofá.

Acho que eu gostava mesmo era da sensação de liberdade que isso me remetia. Eu achava viajar emocionante, do mesmo jeito que começar um novo ano. Você não sabe o que aquela aventura reserva para você, mas tem esperança de aproveitar ao máximo todas as oportunidades que aparecerem. Inclusive eu falei pro meu namorado: “Esse ano eu quero viajar pelo menos uma vez por mês, nem que seja para alguma chácara ou cidade perto do interior”. (Coitada…)

Mantenha o celular em modo avião 

Bom, agora o voo começou. É Janeiro e eu consegui reunir amigos especiais aqui em casa para a virada do ano. Cada um preparou um prato para a ceia e tivemos um ano novo regado a risadas e boas conversas até umas 8 da manhã. A partir deste ponto, começamos 2020 com o pé direito e ninguém podia nos parar.

Em Fevereiro, eu tive uma conquista muito legal. Decidi fazer um curso em Goiânia, eu moro em Brasília, então a viagem foi bem rapidinha, mas eu nunca tinha viajado totalmente sozinha. Se não tinha alguém me acompanhando no trajeto, sabia que teria me esperando no destino final. Mas dessa vez foi diferente.

Fui sozinha no trajeto, no destino e no curso. E foi surpreendente, eu aproveitei a minha própria companhia de um jeito que nunca imaginei. Me levei para jantar e tomar bons drinks, adorei conhecer pessoas novas e aproveitar mais a minha própria companhia. Foi libertador saber que eu não preciso de ninguém para me divertir e fazer o que eu quero.

Senhores, por favor permaneçam sentados e com os cintos de segurança afivelados. 

Chega Março e de repente eu estou de QUARENTENA. Dei adeus ao meu cantinho de trabalho presencial e comecei meu home office feliz e inocente achando que iria durar no máximo um mês.

Sem trânsito, super produtiva, fazendo exercícios todos os dias (#quarentreino), yoga, meditação, tomando sol, call com as amigas e adorando pedir todos os delivery gostosos.

Março, Abril, Maio, Junho, Julho. Tá bom, já deu de brincar disso.

“Este ano a gente vai marcar” Você já parou pra pensar que você e seu amigo se viram pela última vez e vocês não se deram conta disso? A gente era feliz e não sabia! As relações sociais agora são apenas por meio da internet. Que saudade de um olho no olho, de um abraço apertado, de um café da tarde ou de um litrão no bar para jogar conversa fora.

Mãe, a gente já chegou?

O céu tava lindo, sem nuvens, aeromoça engomada. Tenho a sensação que o avião de 2020 nem chegou a decolar direito e já acabou a gasolina. E aqui estamos nós: colocando máscaras de oxigênio sobre o nariz e a boca. E a frase “coloque a máscara em você e depois na criança” nunca fez tanto sentido, isso porque agora é preciso cuidar primeiro de nós mesmos para não infectar o outro.

Acho que não tem muito o que possamos fazer mesmo. Só manter a calma, esperar as orientações para os próximos passos, e claro, tentando não surtar. Eu espero que o resgate venha logo para nos tirar dessa situação o quanto antes. Mas aproveitando, menina, já que estamos aqui, deixa eu já fazer uma lista de resoluções para depois da vacina:

  • Ver mais meus amigos
  • Viajar mais
  • Fazer yoga
  • Ficar mais próxima da família
  • Ir para mais rolês

A vida depois da vacina promete, eu juro para você.

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