Na hora de contar uma história os autores criam personagens a partir de suas vivências. Para isso, os escritores utilizam as características humanas que mais conhecem.  Este pode ser um dos motivos pelos quais, para muitos leitores, ainda é difícil se encontrar nas páginas dos livros que amam. A escritora e jornalista Valerie Tejeda sabe bem sobre essa realidade. Sendo latina e descendente de marroquinos nos Estados Unidos, a procura de um personagem que a representasse podia ser bem complicada. Atualmente, sendo uma escritora reconhecida, criou uma personagem que não só a representa, como a outras milhares de meninas como ela nos Estados Unidos. Hollywood Witch Hunter apresenta Iris, uma caçadora de bruxas descendente de uma família latina, com uma personalidade única e forte. Hoje, os livros de Tejeda são best sellers e a jornalista do Huffington Post aproveita para defender cada vez mais a representação cultural na literatura infantojuvenil.

Rafaela Haygertt: Como seu amor pela literatura surgiu?  O que fez com que você se conectasse com os livros que lia?

Valerie Tejeda: Desde pequena sempre amei me perder em uma boa história. Dessa maneira, sempre soube, desde muito nova, que eu mesma queria criar histórias. Acredito que me conectei à literatura porque sempre amei a ideia de escapar para outro mundo. Não há nada melhor na minha opinião!

RH: No seu trabalho, fica clara a preocupação com a representação cultural, especialmente no que concerne à comunidade latina. Pode me dizer por que acredita que esta expressão é tão importante?

VT: Bem, eu nasci e cresci na Califórnia. A família do meu pai é Judaico-mexicana, e a família da minha mãe é espanhol-marroquina. Quando criança, nunca me vi nos livros e isso me afetou muito, para ser honesta. Para mim, a representação na literatura é extremamente importante porque faz você se sentir valioso. Eu nunca tive isso quando criança. Por isso é tão significativo para mim ter certeza que os leitores de hoje cheguem a se encontrar nas histórias.

RH: Em um período como este, com um político como Trump no poder, qual a importância da representação cultural na literatura?

VT: Acho que a representação cultural na literatura é mais importante do que nunca neste momento. Há muita negatividade lá fora visando às comunidades marginalizadas. E quanto mais adequada a apresentação dessas comunidades marginalizadas, melhor. Sendo mexicana, e vendo quanto o ódio é dirigido aos mexicanos no momento, é doloroso. Isso, definitivamente, me fez pensar sobre quais projetos quero trabalhar para ter certeza de que estou representando as comunidades que realmente precisam de uma voz durante este tempo difícil.

RH: Você acredita que esta identificação com os personagens ajuda a criar novos leitores e espalhar esse amor pela literatura?

VT: Com certeza! Acho que, se as pessoas continuam a se ver em livros, elas serão mais propensas a ler, e, por sua vez, eles estarão mais predispostas a compartilhar seu amor por livros com os outros.

RH: Você acha que a representação cultural na literatura para jovens é suficiente hoje, como muitas pessoas estão reivindicando? Se não, o que pode ser feito para que isso aconteça?

VT: Não, eu definitivamente não acredito que seja suficiente no momento. Acho que é trabalho dos editores procurarem livros com representação cultural adequada. Como autores, tudo o que podemos fazer é escrever nossas histórias, mas cabe aos editores comprar esses projetos para ter um impacto duradouro na literatura de jovens adultos.

RH: Que autores você recomendaria para os adolescentes que estão começando a ler e procuram essa diversidade nos livros?

VT: Tantos vêm à mente, mas desde que estou focada na comunidade latina, vou recomendar um nome de autor latino, Zoriada Cordova. Eu acho que adolescentes de todos os lugares realmente irão adorar seus livros!

O livro Hollywood Witch Hunter ainda não tem data de lançamento nem tradução prevista no Brasil. Para saber mais sobre Valerie Tejeda e sua obra visite o site da autora.

Rafaela Haygertt é jornalista formada pelo Centro Universitário Metodista, do IPA e especialista em Teoria e Prática da Formação do leitor pela UERGS.
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