A língua portuguesa, tal como é conhecida no Brasil contemporâneo foi modificada desde sua origem para se tornar o que entende hoje como a língua brasileira, a qual, é necessário notar, ainda está se transformando, e logo trará palavras que não existiam a pouco tempo atrás.

É necessário que se perceba a constante mudança da língua, não só portuguesa, mas em geral, isto pois, ela se apresenta como um instrumento vivo, que muda de acordo com a cultura, costumes e transformações tecnológicas, isto é, tudo influencia na língua falada, e por esse motivo, é de suma importância que se entenda sobre sua história.

Quando se analisa a origem das línguas, percebe-se que todas as línguas europeias e asiáticas, tem em sua base o indo-europeu. E por esse motivo, encontra-se derivados da língua portuguesa nesta base comum, isto é, do indo-europeu constata-se o latim – além do osco e o úmbrio. Sendo esta a origem de todas as línguas do continente europeu e asiático, ela trouxe consigo o desenvolvimento de outras linguagens, como, a título de exemplo, o Germânico – falado no noroeste da Europa – e, o Indo-iraniano.

O indo-europeu ramificou-se a partir da migração do povo ariano, os quais eram os falantes dessa língua, e percorreram parte da Europa e da Ásia, possibilitando a subdivisão dessa língua entre as tribos que encontravam durante as migrações. O ramo do indo-europeu que traz relevância para a pesquisa é o itálico, isto pois, ele apresenta o latim, entre outras línguas, dos povos que habitavam o Lácio.

Desse modo, o Latim surge na região da Roma, que foi fundada em meados a 753 a.C. e a partir desse período, com Alexandre, o grande, comandando, a região geográfica não para de crescer até se tornar o Império Romano. Durante esse período, várias cidades e comunidades foram dominantes, modificando sua cultura, costumes e língua:

Poucos homens mudaram o mundo tão profundamente. Em seu breve reinado – escassos treze anos – Alexandre conquistou mais territórios do que qualquer outro guerreiro, antes ou depois. Sua marcha épica através da Ásia provocou uma enorme maré humana, não só de soldados, mas de comerciantes, administradores e colonizadores. Ampliou enormemente os horizontes do mundo antigo, misturando raças e culturas, conduzindo a civilização para uma nova era mais cosmopolita. [1]

A língua falada no Império Romano pela elite e acadêmicos era o Latim Clássico, ele apresentava-se como a língua elitizada, enquanto que o Latim Vulgar era falado pelos povos de classes sociais e econômicas mais baixas, o que veio a se tornar o português.

Com as invasões dos Romanos o Latim Vulgar foi se transformando, uma vez que os povos dominados ao falar a língua do dominante colocavam características de suas próprias culturas, fazendo com que a língua se modificasse, isto é, não havia um único Latim na região, e nem mesmo um único Latim Vulgar.

A queda do Império Romano do Ocidente se deu, entre vários outros aspectos, por causa de invasões bárbaras que ocorreram fazendo com que novamente houvesse aculturação, isto é, as invasões trouxeram a cultura do invasor e retiraram a do povo que estava ali. Este evento transformou a língua:

Foram inúmeras as lutas para expulsar os mouros do território peninsular. Já em fins do século XI, muitos fidalgos vieram fazer parte do exército, sob comando de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela. Dentre eles, destacou-se D. Henrique, conde de Borgonha, a quem, por seus serviços, recebeu D. Tareja, filha do rei, em casamento (Em 1905), e teve, por dote, o governo do Conde Portucalense, situado na costa ocidental da Península Ibérica, entre os rios Douro e Minho [2]

O condado Portucalense só se tornou independente em 1143, após várias invasões, as quais sempre trouxeram influencias culturais diferentes, fazendo com que houvesse mudança na língua falada.

Com o surgimento de Portugal emerge a nação portuguesa, a qual tem como dialeto o galeziano, também chamado de galego-português. A partir do século XV o país começou a se expandir, e por ficar em um ponto geograficamente estratégico sua expansão se deu por via marítima, fazendo com que conquistassem mais regiões.

Essa exploração implementada por Portugal fez com que sua cultura e língua fossem propagadas para onde sua população fosse. Assim, percebe-se que o português, com a colonização de outros povos, ficou conhecido em outras regiões, como, nas ilhas da Madeira e dos Açores, no Brasil, Ásia, Oceania e África.

No século XIV, os portugueses descobrem os arquipélagos da Madeira e dos Açores, que começam a povoar em princípios do século seguintes. Em 1415, tomam Ceuta. Depois, descem pouco a pouco a costa da África em 1488, Vasco da Gama chega a Índia. Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil. Depois, os portugueses prosseguem até Malaca às ilhas de Sonda, às Molucas, à China e ao Japão. A língua portuguesa, transportada assim para o ultramar, vai-se expandir por vastos territórios. Política e administrativamente, nada resta hoje do antigo Império. O Brasil tornou-se independente em 1822, e a descolonização que se seguiu à revolução de 25 de abril de 1974 pôs termo à presença portuguesa na África. A língua, porém, essa permaneceu no Brasil em diferentes países da África e da Ásia. [3]

A vinda dos portugueses ao Brasil, trouxe a possibilidade de lucro com os artefatos que aqui encontravam, como, por exemplo, o pau-brasil. Assim, com o intuito de explorar a terra, era necessário que se dominassem o povo que estava aqui, e fez isso por meio da aculturação.

Isto é, eles impuseram suas leis e costumes àqueles que estavam no país, uma vez que, determinavam novos comportamentos aos índios, descreditando seus hábitos, leis e língua. Os índios que estavam na região eram os Tupis e os Guaranis, os primeiros estavam no Ceara até a Lagoa dos Patos, enquanto os últimos apresentavam-se na bacia Paraná-Paraguai e no extremo Sul do Brasil. Percebe-se a aculturação uma vez que fala-se “(…) em conjunto tupi-guarani, dada a semelhança de cultura e de língua”[4].

Os portugueses colonizaram o Brasil, sem se preocupar com a identidade do país, e ao instalaram os Africanos fizeram com que o novo país colonizado tivesse mais uma cultura, língua e costume, apresentado àqueles outros que estavam sendo impostos no país.

Por esse motivo, a identidade do brasileiro, que se criou tardiamente, apresenta-se como um misto de todas as culturas que estavam no país na época. Dessa faceta multiétnica do Brasil, encontra-se vários modos de falar o mesmo português do Brasil.

 A sociedade era, de fato, um mero conglomerado de gentes multiétnicas, oriundas da Europa, da África ou nativos daqui mesmo, ativadas pela mais intensa mestiçagem, pelo genocídio mais brutal na dizimação dos povos tribais e pelo etnocídio radical na descaracterização cultural dos continentes indígenas e africanos. [5]

Entre as regiões do Brasil contemporâneo nota-se a diferença de sotaques e de significado das palavras, tudo isso é apresentado de um Brasil que foi colonizado por portugueses, os quais trouxeram novas culturas para o país.

Percebe-se que a construção da língua falada no Brasil, bem como suas mudanças se deram por meio da dominação de povos. Essas mudanças continuaram existindo, pois, atualmente, com a globalização, sempre haverá culturas sendo apresentadas e mudanças ocorrendo em como se fala a língua materna e em como novas palavras podem fazer parte da língua brasileira.

 

Marobah é escritora publicada em sete antologias. Depois da primeira publicação aceitou isso como um sinal para deixar o Direito um pouquinho de lado e ir atrás da Escrita Criativa. Preocupa-se com questões sociais e representatividade, sempre tentando abordar isso nos textos, além de adorar tudo que se relaciona com cultura e tenta aprender o máximo de línguas possíveis por causa disso.

 

 

Referência bibliográfica

 

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: USP, 2015.

MELO, Carina Adriele Duarte de. Guia de Estudo – História da Língua Portuguesa. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2017.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 3. ed. São Paulo: Global, 2015.

STEIN, Jarelle S.; NOBLE, Vivian (coo.). Impérios em Ascensão. Rio de Janeiro: Abril, 1999.

TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Tradução de Celso Cunha. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

 

Notas:

 

[1] STEIN, Jarelle S.; NOBLE, Vivian (coo.). Impérios em Ascensão. Rio de Janeiro: Abril, 1999, p. 31.

[2] MELO, Carina Adriele Duarte de. Guia de Estudo – História da Língua Portuguesa. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2017, p. 28.

[3] TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Tradução de Celso Cunha. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014, p. 42 – 43.

[4] FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: USP, 2015, p. 35.

[5] RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 3. ed. São Paulo: Global, 2015, p. 327.

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