*Texto originalmente publicado no site The Sociological Cinema.

Recentemente conversei com uma mulher que me contou que quando homens dão em cima dela ou a assediam, às vezes a única coisa que ela pode dizer para fazê-los parar é que ela tem um namorado. Coincidentemente, mais tarde naquele mesmo dia, ouvi outra mulher dizer que frequentemente a única forma de fazer seu namorado parar de insistir por sexo é dizer a ele que está menstruada.

Para aprender algo sobre a lógica invisível do patriarcado, simplesmente escute atentamente às estratégias usadas pela mulheres para recusar os homens. Se “eu tenho um namorado” é um método testado e comprovado de fazer com que homens parem com o assédio, então são os namorados – ou seja, homens – que são tratados com respeito, e o modo como uma mulher é tratada não necessariamente depende de seus próprios desejos.

Então, se o namorado realmente existe, as mulheres levantam a bandeira do namorado para afastar homens em espaços públicos, mas para aquelas que voltam para casa e para seus namorados, a bandeira não tem utilidade. Para navegar por esse espaço mais íntimo, parece que uma maneira de as mulheres conseguirem dizer não aos seus namorados sem medo de uma retaliação é declarar que estão menstruadas. E aqui, novamente, pode-se deduzir a lógica distorcida do patriarcado. As mulheres são anatomicamente sujas e indesejáveis pelo menos uma vez ao mês, uma ideia que os filmes de Hollywood refletem e promovem com regularidade.

Fazendo uma retrospectiva, não apenas é aparente que as mulheres são geralmente menos respeitadas do que os homens, a julgar pelas desculpas que muitas dão aos seus parceiros íntimos, mas que sua capacidade de provocar desejo é de alguma forma incerta e passageira. Além disso, enquanto o desejo de um homem é justificativa suficiente para ele chamar uma mulher para sair ou pedir sexo, independentemente de o espaço ser público ou privado, o desejo de uma mulher de ser deixada sozinha precisa ser justificado.

Em 1986, Marie Shear escreveu celebremente em sua resenha de A Feminist Dictionary que “Feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente”, e meu entendimento é de que muitas pessoas leem essa citação como uma provocação inflamada ou um exagero nascido da raiva. Não é nenhum dos dois. Se parte do que significa ser uma pessoa é ser considerada a autoridade final no que se refere ao seu próprio desejo, então as mulheres ainda não são consideradas pessoas.

Tradução de Bruna de Lara.