Mês de abril, ainda início de quarentena, foi a minha fase de tentar ocupar cada minuto do meu dia com alguma atividade, temendo o tédio. De todas as coisas que se pode sentir essa é a que eu menos gosto. O tempo de vida do tédio é maior dentro de mim.
Comecei a pensar em tudo que eu sempre quis fazer e ainda não tinha feito… aquelas receitas arquivadas, os filmes da lista que nunca são vistos, os livros que sempre ficam pra depois. Então, escolhi ler os livros que sempre ficam pra depois. Mas, eu tinha mais uma coisa pra escolher. Qual deles?
Essa era fácil! Desde que eu comecei a aprofundar os estudos sobre feminismo sentia que precisava ler O Segundo Sexo da Simone de Beauvoir (aquele da famosa citação “Não se nasce mulher, torna-se mulher”), embora às vezes eu tentasse me convencer de que assistir alguns vídeos sobre o livro já era mais do que o suficiente. Spoiler alert! Não é.
Sabia que era dessas leituras que pedia umas pausas pra respirar. Parar pra pensar. Aquela parada que às vezes não tem volta.
Decidi comentar com algumas amigas que estava pensando em ler. No momento que comentei veio a ideia de convidá-las pra ler comigo (e eu costumo levar a sério os compromissos que eu mesma crio). Eu precisava que só mais alguém topasse. E duas amigas fecharam esse rolê!
Rolou o primeiro encontro, decidimos que leríamos um capítulo por semana e que nos encontraríamos às sextas-feiras (online) para a discussão (ok, vou parar de usar esse tempo verbal que eu já nem sei mais qual é). Criamos um grupo “Leitura da Simoninha” (porque a gente adora quando a Rita Von Hunty chama ela assim) e ao longo do tempo nos denominamos “simoninhas”.
Amigas das amigas foram aparecendo e amiga da amiga da amiga também! Parece que é muita gente, né? Para ficar mais claro, somos sete. Ou seja, é muita gente para um grupo de discussão de livro, vai!
E ouso dizer que foi (está sendo!) um sucesso! Recentemente terminamos o primeiro volume emocionadas por ter chegado até aqui. Juntas percorremos uma longa estrada a cada sentença, e a discussão tomou forma de diferentes mulheres. Construímos e estreitamos laços a cada vírgula. Veio à tona memórias, traumas, esclarecimentos, compreensão e companheirismo. Sororidade ganhou vida.
Mas também houve indignação à flor da pele quando vimos direitos das mulheres que já pareciam ter sido conquistados há muito sendo ignorados quando convém. Assistimos a tudo isso de um lugar novo. A Simone nos alertou, nos levou de volta ao início de tudo, virou a gente do avesso pra mostrar que não somos menos e através de exemplos dolorosos de serem lidos nos fez compreender como somos vistas perante os olhos do outro.
Não, a gente não identificou tudo que nos foi atribuído sem o devido consentimento de primeira, mas a gente raspou um pouco mais da tinta que nos escondia de nós mesmas. E o mais importante, raspamos tinta umas das outras.
Podem tentar nos definir com um monte de adjetivos, um monte de expectativas, projeções irreais, astrais, mas, agora, nós podemos nos definir como infinitas mulheres que unem-se em uma só.
Somos seres tão mulheres que afloramos as melhores características de nossa personalidade em meio a tanta opressão, tão necessárias agora para transformarmos o mundo. Precisamos conquistar esse lugar, e a gente vai!
Espero que esse texto inspire mais mulheres a lerem essa obra magnífica. Como último comentário digo que a experiência amplifica quando você conhece e reconhece os rostos por trás tela.
Vem com a gente nessa aventura impetuosa que é ser mulher?
Capa dura : 936 páginas
Dimensões do produto : 24.8 x 16.2 x 6.8 cm
Editora : Nova Fronteira; 1ª Edição (1 outubro 2008)
Idioma: : Português
