Entre Setembro e Outubro muitos países latino americanos como Brasil, Costa Rica, El Salvador, México e Chile celebram a sua independência. Lembrar essas datas é importante para discutir o complicado processo de colonização e descolonização, e compreender melhor a política e cultura do nosso rico continente.

Por isso, selecionamos três documentários que ajudam a conhecer um pouco mais da América Latina, falando de política, música e gastronomia.

 

“El Pepe, uma vida suprema”

pôster do filme "El pepe", uma foto do rosto do Mujica  ao fundo e em primeiro plano outra foto dele caminhando de bengala em um campo.

(Disponível na Netflix)

Se você não lembra o Pepe, ou José Mujica, ficou conhecido mundialmente ao se tornar presidente do Uruguai (2010 – 2015) e ser descrito como o “chefe de estado mais humilde do mundo”. Por trás da cara simpática de avô, está um homem com muita sabedoria, que antes de ser eleito foi guerrilheiro e preso político.

O documentário “El Pepe, uma vida suprema” se passa como uma longa conversa entre o diretor Emir Kusturica e o Presidente. Kusturica faz um belo trabalho, enquanto fala com Pepe ele aproxima o espectador a mesa e alterna com cenas de pessoas próximas e dos últimos dias de mandato.

Muitos dos relatos são de Lucía Topolansky, que ao falar da trajetória de Pepe, fala também da sua. Topolansky lutou no movimento de oposição durante a ditadura, foi  vice presidente do país entre 2017- 2020, e também primeira dama, já que é casada com o ex-presidente.

Boa parte das cenas acontece como um bate papo informal, no qual diretor e entrevistado falam de tudo um pouco, amor, empatia, sustentabilidade, futuro e a história política do Uruguai.

É um filme curto, apenas uma 1h e 14 min. Assiste, prometo que você não vai se arrepender.

 

“Mercedes Sosa: A Voz da América Latina”

Pôster do filme Mercedes Sosa, com uma ilustração da cantora ao centro.

(Disponível na Apple TV)

Uma das coisas legais de escrever aqui, são os “achados” que acabo encontrando nesse mundão da internet e “Mercedes Sosa: A Voz da América Latina” foi mais uma dessas boas surpresas. O documentário biográfico conta a história da cantora argentina Mercedes Sosa, também conhecida como “La Negra”, que assim como eu, adorava bordados, e em muitas de suas apresentações vestia casacos grandes bem trabalhados.

Reconhecida pelo seu estilo folclórico e poético, definir uma artista como ela, não é fácil. Segundo Flora, uma de suas grandes amigas, folcloristas são ligados a terra e Mercedes era ligada ao mundo. Foi chamada por alguns de “Edith Piaf da Argentina”, ou uma combinação entre Mick Jagger e Paul McCartney. Particularmente não gosto desse tipo de comparação, acho que cada uma dessas personalidades tem o seu lugar próprio e devido momento na história. Mercedes Sosa incrível como Mercedes Sosa.

O filme narrado e idealizado pelo seu filho, Fabián Sosa, tem um tom de admiração e saudade, ao percorrer toda a trajetória da cantora, a infância pobre na província de Tucumán, a sua relação com a família, casamentos, depressão, envolvimento político, e se falando de América Latina, claro perseguição e exílio.

Ganhadora de mais de 6 Grammys Latinos, ela conquistou o mundo, cantou com artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Sting, esteve em grandes palcos incluindo Carnegie Hall em Nova York e no coliseu em Roma.

Chico Buarque definiu a sua grandeza ao dizer: “A Mercedes é um símbolo da liberdade, não só da Argentina como de todos nós”

Se você é fã da cantora pode ficar tranquilo que tem uma série-ficção no forno.

 

“Street Food: América Latina”
pôster do filme Street Food: america latina, uma mesa muito coloridacom um abacate cortado ao meio no centro.

(Disponível na Netflix)

Os documentários anteriores falam sobre personalidades com grandes trajetórias e talentos reconhecidos. Mas a construção de uma cultura se faz com muitos anônimos igualmente talentosos, e é disso que a série documental “Street Food: América Latina” trata.

Em cada episódio somos apresentados a cozinheiros de mão cheia com uma história de vida emocionante, como é o caso de Dona Suzana (Salvador), que enfrentou muitas batalhas até a sua moqueca cair na boca do povo. Aqui, comida é sinônimo de empoderamento, independência financeira, cultura e afeto.

Dos mesmos criadores de “Chef’s table”, existe um ponto importante levantado pela jornalista Julia Warken sobre as duas produções. Enquanto “Chef’s Table” mostra uma culinária mais “refinada” e dos seus 30 episódios tem 9 focados em mulheres, “Street Foods” nas suas duas temporadas trás a comida popular com 15 episódios e 11 com protagonistas mulheres. E aqui cabe a reflexão da jornalista:

“No topo da cadeia alimentar, os grandes chefs ainda são homens em sua maioria. Nas barracas de rua e nos restaurantes populares, são as mulheres que pilotam o fogão – assim como nas casas. Movidas pela necessidade, elas transformam o ofício doméstico em fonte de renda. E quantas são devidamente valorizadas? Acredito que esse é um outro ponto positivo de “Street Food”: a série nos convida a ver o que há de humano por traz da comida que custa pouco e alimenta muitos.  Com um olhar mais atento, também podemos refletir sobre por que há tantas mulheres nesse meio. Quase sempre anônimas, elas são gigantes e deveriam ser mais prestigiadas.”

“Street Food” tem duas temporadas a primeira na Ásia e a segunda América Latina. A segunda temporada conta com seis episódios com cerca de 30 minutos cada, em seis países: Brasil, Argentina, México, Peru, Colômbia e Bolívia. A série vai te inspirar, emocionar, dar saudade de aglomeração, de comer na “barraquinha da esquina”, mas também faz refletir.

As três produções selecionadas apesar de estarem focadas em histórias pessoais falam muito sobre a cultura latino americana, ao abordar política, música e comida. Conhecer a cultura do nosso continente é fundamental para entender quem somos e as estruturas a nossa volta, e trazer questionamentos sobre questões de classe, raça e gênero.

 

Marina “Nina” Correa é carioca, e vive em Washington, DC (EUA) há três anos, foi para fazer mestrado em desenvolvimento sustentável e acabou ficando. Nina também é fundadora da Bordu, página que tem como objetivo espalhar ideias. Instagram @hello.bordu