Tassia Menezes, 28 anos, é uma cantora e compositora carioca apaixonada pela música negra africana e da diáspora. Foi em um intercâmbio para a África do Sul que a jovem se redescobriu e renasceu Taslim, nome que significa felicidade em uma das línguas nativas do Malawi, país da África Oriental. Desde antes de se lançar como cantora profissional, a jovem sempre entendeu que queria compor as próprias músicas para que pudesse usar sua voz e falar das coisas que acredita. Suas canções autorais fazem uma viagem musical por vários estilos da cultura negra, carregando em suas letras mensagens antirracistas e de representatividade do ponto de vista de uma mulher negra.

Estreando pelo selo Mondé Musical, o single/clipe “Pretinha” mostra o amor entre duas mulheres pretas e será lançado no canal da artista no YouTube e em todas as plataformas digitais de streaming, no dia 12/06, para celebrar o dia das namoradas e pautar a normalização dessas relações afetivas.

Segundo a artista, ainda são poucos os espaços onde esses relacionamentos são tratados de forma natural. Por isso, a música e o videoclipe trazem um amor real, onde elas são parceiras, se divertem com as amigas e são felizes como qualquer outro casal. “É importante que a gente não caia no lugar de apagamento dessas relações, mas também que haja um cuidado para não reproduzir um viés de sexualização, onde duas mulheres juntas são um fetiche ao olhar masculino”, reflete Taslim.

Essa história foi idealizada pela cantora, mas a diretora do clipe, a cineasta e atriz Nádia D’Cássia, natural da cidade de São Luís (MA), foi a responsável por materializá-la, dirigindo, roteirizando e atuando. As duas se conheceram em 2019, em uma residência artística realizada no Rio de Janeiro, e estabeleceram uma forte conexão. A decisão da parceria para o videoclipe de Pretinha foi natural. Com viagem marcada para o Maranhão, Taslim convidou a cineasta para ajudá-la a contar essa história de amor. Além de falar sobre raça e gênero em suas canções, a artista também prioriza esses recortes nas suas contratações. Na produção de Pretinha não foi diferente:  a equipe foi composta 100% por mulheres negras, tornando-as protagonistas não só da história, mas também de sua construção; e oferecendo a elas oportunidades de mostrarem seu trabalho e se desenvolverem profissionalmente, já que essas mulheres representam menos de 1% do mercado de produção audiovisual, de acordo com a ANCINE.

Todo o processo de desenvolvimento artístico da cantora foi iniciado após a sua experiência no continente africano. Após retornar do intercâmbio, a saudade fez com que ela mergulhasse ainda mais naquela cultura e produzisse canções que a conectassem com essa vivência. Começou a ouvir músicas da Nigéria, de Angola, Cabo Verde e Mali, e aos poucos foi se aprofundando nas sonoridades diversas que encontrou e desenvolvendo a sua própria, misturando ritmos africanos, brasileiros e afrodiaspóricos, que a aproximam do gênero afropop. Taslim traz como referência nomes como Fela Kuti, Miriam Makeba, Mayra Andrade e Yemi Aladé. Da cena brasileira, a artista cita Luedji Luna e Liniker, sendo a segunda uma das pessoas que mais admira musicalmente no momento atual, além dos mestres Gilberto Gil e Elza Soares. Como influência estética, a inspiração é da artista norte-americana Janelle Monáe e sua abordagem afrofuturista.

No último ano, buscando outra forma de se aproximar do público, Taslim começou a cantar músicas de outros artistas em shows e, mais especificamente durante a quarentena, decidiu fazer algumas versões de canções consagradas tocadas no piano. “Fiz versões de músicas do Olodum, Péricles, Belo, Xênia França, Luciane Dom e Chico César. No geral, trago canções de artistas pretos.” – explica.

Ainda para este ano, a artista prepara o lançamento de seu primeiro álbum “Pretambulando”. O conceito que dá nome ao disco foi criado pela compositora, trazendo para o foco o movimento do povo preto no mundo ao longo da história. As canções, todas autorais, tratam de dores e alegrias da negritude e também de temas sociais como assédio sexual, homofobia, população de rua, representatividade e empoderamento. O trabalho conta com a produção musical de Roger Fraiha, primeiro empresário da cantora, e William Magalhães, que já produziu discos de artistas de destaque como Gilberto GilGal CostaCaetano VelosoEd MottaDaniela Mercury e o premiado álbum Galanga Livre, de Rincon Sapiência.

 

Taslim

SOBRE TASLIM

Nascida e criada na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, Taslim começou a cantar na infância, quando frequentava a Igreja Católica. Formada em Jornalismo pela PUC-Rio, a artista encontrou a chance de investir na música após sua inserção no mercado de trabalho formal. Em 2013, ela se inscreveu no Curso Básico da Escola de Música Villa-Lobos, com foco em canto e teoria musical.

“Sempre sonhei estudar música, mas a realidade financeira da minha mãe, que me criou sozinha, só permitia o estritamente necessário. Depois de formada, comecei a trabalhar com mídias digitais em uma agência de comunicação e pude tirar meu sonho do papel. O primeiro dia de aula foi muito emocionante e especial pra mim”, conta a artista.

Além do vocal, Taslim também se interessou por aprender outros instrumentos para potencializar o desenvolvimento de suas composições. Fez aulas de teclado/piano e hoje já está tocando em apresentações e vídeos, além de algumas inserções do seu álbum também.

Sua paixão pelos palcos reacendeu durante o processo de construção coletiva de um show em seu primeiro ano na Villa-Lobos, mas por questões de trabalho, ela precisou se afastar da música e quase chegou a desistir dela. Em 2016, Taslim recebeu um convite de seu ex-colega de turma, Roger Fraiha, que propôs gerenciar sua carreira. Ele se tornou o primeiro empresário e produtor da artista, e desse reencontro nasceu a canção “Pretambulando” (2017), que marca a estreia da artista como cantora e compositora.

“Quando Roger me convidou, confesso que não foi uma decisão fácil. Eu tinha muitos medos em relação às mudanças que poderiam ser geradas na minha vida a partir daquela decisão. Fora o fato de que eu me sentia bem insegura naquela época: estava anos sem cantar e era bastante inexperiente. Como eu iria lançar uma carreira? Mas segui o famoso “vai com medo mesmo” e tomei uma das decisões mais acertadas da minha vida. Hoje não me vejo fazendo outra coisa.” – relata a cantora.