Atualmente as declarações versam sobre uma “nova” forma de racismo na contemporaneidade. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, o racismo define-se enquanto uma teoria sem base cientifica, fundada em uma crença de superioridade de uma raça sobre outra. A autora portuguesa Rosa Cabecinhas diz que essa e outras definições de racismo são insuficientes para dar conta dos “novos” racismos, uma vez que outras formas de expressão de discriminação racial e não somente nas suas manifestações mais veladas, como as que observamos hoje em dia no Brasil, e está inserido de maneira tão íntima com o povo brasileiro que, por muitas vezes, diz-se falas racistas sem nem ser perceber.

Por sua vez, Luiz Augusto Campos vai definir o racismo em três dimensões a partir de uma analise de teorias sociológicas. A primeira delas, que está mais ligada à definição trazida pelo dicionário, entende o racismo como um fenômeno enraizado em ideologias, doutrinas ou conjuntos de ideias que atribuem uma inferioridade natural a determinados grupos. A segunda está ligada à atitudes, práticas ou comportamentos preconceituosos e/ou discriminatórios na reprodução do racismo, como no caso de falas racistas que fomentam a estrutura do racismo na sociedade. Por ultimo, a terceira abordagem crê que o racismo teria assumido características mais sistêmicas, institucionais ou estruturais nos dias atuais, sendo essa que movimenta as outras dimensões. Seriam os casos em que, por conta do racismo, pessoas acabam tendo seus direitos cerceados, como, por exemplo, em um ambiente de trabalho.

Para Arivaldo Santos Souza, a noção de racismo institucional explica essa situação pela qual uma determinada sociedade internaliza a produção das desigualdades em suas instituições, muitas vezes impossibilitando o acesso a direitos por parte de grupos vulnerabilizados. Desse modo, é possível pensar o racismo enquanto um fenômeno naturalizado no cotidiano. Essa naturalização está estruturada a partir de um viés de branquitude presente na sociedade. Lia Vainer Schuman  traz que mesmo com as explicações para as desigualdades raciais o racismo brasileiro denota especificidades, é velado e sutil, porque parte do pressuposto de uma ‘democracia racial’ que só fomenta e assegura os privilégios brancos. Edson Bomfim dos Santos corrobora essa perspectiva ao dizer que foi criado um sistema meritocrático que fortalece o processo de desigualdade, justificado pelo mito da democracia racial, onde a convivência harmoniosa da nossa pluralidade étnica e racial favorece tais relações sem que se altere as posições ou situações hierárquicas de poder .

Outro aspecto importante é como a mídia contribui significativamente para o agravamento das situações de violência e genocídio da população negra. Jurandir Araújo retrata o que já vem sendo discutido: o racismo presente de forma velada e sutil. No entanto, enfatiza que alguns casos apresentam-se abertamente e influenciam decisivamente para que a população negra seja a maior vítima da violência no país, principalmente a juventude negra. Outro fator que influencia decisivamente para o alto índice de violência no país, segundo ele, são as desigualdades socioeconômicas e étnico-raciais que acometem a sociedade brasileira. A mídia é, em grande parte, a responsável pelo estereótipo do jovem pobre, negro e criminoso [1]. É como se a esse jovem fosse vetado o direito de produzir outra coisa que não a violência. A mídia influencia quem ainda não formou as próprias convicções, por isso deve ser questionada, confrontada por quem deseja usá-la como referência.

Tendo em vista toda problemática do racismo, enquanto um fenômeno que estrutura  a construção das relações na sociedade, torna-se um tanto difícil combatê-lo. Um dos pontos principais são ações que partem do micro ao macro numa escala social, corroborando com a literatura, que traz como o racismo na contemporaneidade se apresenta de formas sutis, em falas e em algumas ações do cotidiano, mas também se apresenta de forma macro, como política de exclusão e extermínio. A existência de leis no código penal brasileiro não diminuiu as praticas racistas no país, isso tudo implica em instituições que estão perpassadas pelo racismo. É preciso tratar desse assunto de forma coerente, em escolas, ambientes de trabalho. É preciso estar posicionado a todo momento. Como já colocado anteriormente, nesse processo de mudança social os sujeitos brancos também precisam se pensar enquanto raça e não como uma norma social. No combate ao racismo a visibilidade deve e tem que ser pensada a partir de uma perspectiva da população negra, mas isso não implica que a luta não seja de todos.

[1] Silva (2009) apud Araújo (2015)

 

Joanne Oliveira, 21 anos , mulher sertaneja estudante de psicologia e membra do Grupo de estudos em relações raciais. Instagram: @joanne.oliv

 

REFERÊNCIAS

Cabecinhas, R. Expressões de racismo: mudanças e continuidades. In: Mandarino, A.C.S. & Gomberg, E. (Eds.) Racismos: Olhares plurais (pp.11-43). Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia , 2010.

CAMPOS, Luiz Augusto. Racismo em três dimensões: uma abordagem realista-crítica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 95, p. 1-19, 2017.

DE ALMEIDA ARAÚJO, Jurandir. Violência, Racismo e Mídia. InSURgência: revista de direitos e movimentos sociais, v. 1, n. 2, p. 462-482, 2015.

DE SOUZA, Arivaldo Santos. Racismo Institucional: para compreender o conceito. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), v. 1, n. 3, p. 77-88, 2011.

DOS SANTOS, Edson Bomfim. Branquismo, pensamento colonizado e racismo no Brasil. Anais do Seminário de Ciências Sociais, v. 3, 2018.

HIRATA, Helena. Divisão internacional do trabalho, precarização e desigualdades interseccionais. Revista da ABET, v. 17, n. 1, 2018.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia & Sociedade, v. 26, n. 1, p. 11, 2014.

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