Maggie Gyllenhaal abalou Hollywood semana passada ao revelar que tinha sido recusada para o papel de par romântico de um protagonista masculino de 55 anos de idade, por ser “velha demais”. Ela tem 37 anos. Sua experiência frustrou e surpreendeu muitas pessoas, e nós queríamos saber o quão típico isso é da forma como Hollywood realmente funciona.

O pôr do sol do sex appeal de uma mulher na Sunset Boulevard é notadamente mais curto do que na realidade genética, e a história de Gyllenhaal é parte de uma tendência de desaparecimento de protagonistas femininas nos filmes de maior rendimento bruto depois de as atrizes completarem 30 anos.

 

A idade média de uma protagonista feminina em comédias românticas é de uns 30 anos

 

Em uma revisão dos filmes românticos de maior receita bruta desde 1978, entre os dois principais subgêneros românticos (comédias e dramas), a idade média das protagonistas femininas é de uns 30 anos:

Legenda: As idades dos dois principais protagonistas nas 15 comédias românticas de maior receita bruta e nos 15 dramas românticos de maior receita bruta, medida pela receita acumulada em todos os anos de existência de cada filme, começando em 1978 e indo a 2015.

Apenas um punhado de atrizes acima dos 30 interpretaram protagonistas românticas nesses filmes e, normalmente, como sedutoras maduras de homens jovens. E se elas forem mulheres negras, nem adianta pensar nisso.

 

A Sra. Robinson na verdade tinha 36 anos

 

Na tela grande, as mulheres vão de Lolitas a Yentes tão rápido que parece que estão vivendo em anos de cachorro. Só 12% dos 100 filmes de maior rendimento bruto do ano passado tinham protagonistas femininas, diz Patricia White, presidente de Cinema e Estudos de Mídia na Swarthmore College:

A disparidade corresponde à sabedoria de mercado equivocada de que apenas filmes feitos por, sobre e direcionados a homens (especialmente jovens) fazem dinheiro. Os filmes são julgados pela receita bruta do fim de semana de abertura, e os lançamentos mundiais são comuns agora.

Vejamos o caso de Anne Bancroft, imortalizada por seu papel de sedutora madura em “A primeira noite de um homem”. Em 1966, ela estrelou no filme de John Ford “Sete mulheres”. Se você ainda não assistiu, uma olhada no pôster do filme passa a ideia básica:

 

 

 

Um ano depois, em 1967, Bancroft interpretou a Sra. Robinson, que competia com sua própria filha pelas afeições de Ben Braddock, interpretado por Dustin Hoffman. Hoffman não era nem 6 anos mais novo do que Bancroft; a mulher que interpretava sua filha, Katherine Ross, era apenas 2 anos mais nova do que Hoffman. Talvez a Sra. Robinson tenha desnorteado milhões de pessoas por mais motivos do que apenas as normas sociais ou os tabus sexuais.

 

A tela pequena é mais receptiva a atrizes mais velhas do que a tela grande

 

Dê crédito à HBO e ao Showtime, e à televisão em geral. Eles vêm dando papéis a mulheres de quase 40 e 50 anos há décadas. White mencionou que pode haver um fator econômico impulsionando a diferença entre a televisão e o cinema e que “as mulheres sempre foram tidas como o público-alvo básico do mercado de televisão, e tiveram mais chances de escrever, produzir e conduzir programas”.

Entre aquelas nos canais a cabo premium agora ou em temporadas recentes: Gretchen Mol (Boardwalk Empire), Mary-Louise Parker (Weeds), Carice van Houten e Lena Headey (Game of Thrones), Polly Walker (Rome), e Natascha McElhone e Heather Graham (Californication). Jessica Lange (em seus 60 e poucos anos) e Angela Bassett (em seus 50 e poucos) interpretaram papéis sexualizados no programa da FX American Horror Story. Há outras atrizes que poderíamos incluir em uma lista mais longa de exemplos, mas esses poucos já deixam claro que a televisão é mais amigável com atrizes mais velhas quando se trata de papéis românticos.

 

O Dr. DeMille nunca iria ficar pronto, porque o close-up era uma charada

 

Há muitas mulheres interpretando papéis de destaque na televisão e no cinema, mas com frequência não em papéis românticos em filmes de alta renda bruta. Até aqui, não dissemos muito sobre os anos pré-1978. Uma breve revisão das idades das atrizes em grandes filmes desde 1941 (filmes conceituados, embora não de grande renda bruta) mostra que a maioria tinha menos de 30 anos, também.

Entre os filmes que incluíam protagonistas femininas acima dos 30, “Crepúsculo dos Deuses” se destaca. Considerado um dos melhores filmes de todos os tempos pela American Film Institute, estreou com uma Gloria Swanson de 51 anos como atriz principal. O filme não era romântico, entretanto; é um em que uma beldade da época do cinema mudo se recusa a aceitar a lenta rejeição de Hollywood a ela conforme envelhece. Mais do que um excelente filme, pode ser também o mais realista.

Já o resto da lista do AFI apresenta excessivamente atrizes abaixo dos 30 anos. Ingrid Bergman em “Casablanca”? 27. Vivien Leigh em em “E o vento levou”? 26.

 

Sim, há atrizes que chegaram aos 40 como protagonistas românticas

 

Há atrizes que interpretam papéis românticos grandes depois dos 40 anos. Susan Sarandon atraiu a atenção de Kevin Costner e de Tim Robins em “Bull Durham” aos 41; Marisa Tomei, então aos 43, interpretou a esposa de Philip Seymour Hoffman e a amante de Ethan Hawke em “Antes que o diabo saiba que você está morto”. E quem poderia se esquecer de Angela Bassett, que fez 40 no ano de estreia de “A nova paixão de Stella”, em 1998?
Há uma pequena diferença entre comédias e dramas românticos quando se trata das faixas etárias. Nos dramas românticos, a idade média das protagonistas é um pouco abaixo dos 30:

 

  

Legenda: 14 dramas românticos de maior renda bruta, 1978 a 2015. “Brokeback Mountain” não está na lista, já que ambos os protagonistas são homens. O filme tem a 14ª maior renda bruta da categoria desde 1978.

 

Ao olhar as comédias românticas, a idade média curiosamente aumenta um pouquinho, tanto para homens quanto para mulheres:

Legenda: Filmes de comédia romântica de maior renda bruta, levando em conta o rendimento total, 1978 a 2015.

 

Myrna Hent, do Centro de Estudos da Mulher da University of California, em Los Angeles, fez uma nota em um e-mail para o Vox, dizendo que o processo de escolha de elenco de Hollywood é tão influenciado pelos “estereótipos testados e verdadeiros que estão enraizados profundamente em nosso cultura” quanto qualquer outro lugar nos EUA.

*Texto originalmente publicado no site Vox, traduzido por Bruna de Lara.

 

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