*Texto originalmente publicado no site de notícia Salon.

A ciência confirma o que nós sabemos ser verdade: fazer um cara sentir-se “feminino” provavelmente fará com que fique na defensiva.

Existe uma coisa que feministas vem dizendo sobre masculinidade já faz algum tempo: é construída socialmente e tende a ser má.

A maldade aqui não se aplica apenas a masculinidade – as noções de “feminilidade” podem ser igualmente limitantes e problemáticas, embora tendam a não perpetuar o mesmo nível de violência ou perigo que a masculinidade tóxica. E investigadores acabaram de descobrir algo crucial sobre as funções da masculinidade tóxica nas vidas dos homens reais: primeiramente, isto faz com que sejam muito sensíveis ao serem vistos como fracos. Depois, torna-os maus.

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Washington publicada na última semana na revista Social Psychology, homens tendem a compensar quando sentem que sua masculinidade está ameaçada, minimizando seus gostos “femininos” e aumentando sua “virilidade”. O estudo enganou uma parcela aleatória dos estudantes universitários masculinos fazendo com que acreditássem que seus resultados de um teste de força do seu punho eram mais similares à média feminina e abaixo da média masculina (conseqüentemente, tornando os resultados “fracos” ou “ruins”).

Depois do teste, os participantes foram convidados a preencher um formulário, que incluía perguntas sobre sua altura, relacionamentos passados, traços de personalidade e seu interesse em vários produtos que claramente enviesavam “masculinidade” ou “feminilidade”. Os investigadores descobriram que os homens que acreditaram falsamente no seu teste de força que reproduzia resultados “femininos”, estavam mais propensos a exagerarem no questionário, fazendo coisas como adicionando cerca de três quartos de uma polegada a sua altura, que, você pode recordar, não é tipicamente alterável.

A “altura é algo que você pensa ser fixo,” o principal autor do estudo, o professor de Psicologia da Universidade de Washington, Sapna Cheryan, explicou, “mas a altura que você diz ter é maleável, pelo menos para homens.”

Uma segunda parte do experimento rendeu resultados similares: os participantes masculinos foram convidados a completar um “teste de masculinidade” computadorizado, no qual foram informados que a pontuação média era 72 de um total de 100 pontos que indicaria uma “masculinidade completa”. A eles foram aleatoriamente atribuídos uma pontuação de 26 ou 73 e, após, foram convidados a selecionar uma gama de produtos como forma de compensação. Os homens que receberam a contagem mais baixa de forma geral não optavam por produtos mais “femininos” comparados aos que tiveram a contagem mais elevada.

“Esta pesquisa mostra que os homens estão sob fortes normas prescritivas de ser de uma determinada maneira e trabalham duro para corrigir a imagem que projetam quando sua masculinidade está sob ameaça,” disse o co-autor do estudo, Benoît Monin, professor de Comportamento e Psicologia Organizacional da Universidade de Stanford.

Conforme os investigadores notaram, esta compensação tem conseqüências, especificamente da variedade mais frequentemente censurada por críticos de normas tradicionais de gênero. Via release de imprensa:

Os achados podem parecer divertidos, mas outros estudos descobriram que os homens compensam falta de masculinidade de formas que não são tão inócuas. Homens com cara de bebê, por exemplo, mais provavelmente tem personalidades assertivas e hostis e cometem crimes, do que seus pares mais definidos. Homens aos quais foi dito que tiveram baixa pontuação nos testes de masculinidade mais provavelmente agem agressivamente, assediando mulheres e menosprezando outros homens.

Adicionalmente, os homens desempregados mais provavelmente instigam a violência contra mulheres e homens que não sustentam primariamente suas casas ficam menos dispostos a compartilhar os afazeres domésticos.

Primeiramente, o estudo ilustra a sensibilidade geral (e extrema) dos homens ao perceber qualquer castração, que pode frequentemente ter conseqüências negativas para os próprios homens e para aqueles em seu entorno. Como observado por Amanda Marcotte em Raw Story, o medo de ser visto como não másculo “cria esta situação realmente grotesca, onde os homens têm mais liberdade para expressar interesses legítimos ou para fazer pedidos legítimos às mulheres, mas as mulheres tem que andar nas pontas dos pés a fim de não pressionar a tecla da castração”. Um exemplo claro?  O hiato de gênero persistente de quem deve tomar cuidado dos afazeres domésticos.

“Pedir à um homem para fazer trabalhos domésticos é um golpe duplo no fronte da castração percebida, ambos na ‘fraqueza’ de ser pedido para fazer coisas de ‘mulher’, como limpar”, escreve Marcotte. “É realmente duro fazer este pedido sem provocar uma resposta masculina compensatória, que provavelmente manifestará hostilidade ou reafirmará a hierarquia de gênero (como chamar sua esposa de ‘resmungona’).”

Há uma maneira para sair desta armadilha horrível de masculinidade tóxica: Os homens precisam reconhecer seu desejo socializado de compensar enquanto está acontecendo e então cortá-lo.

Tradução de Alessandra Gusatto e Bruna Leão.

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