Hoje é o Dia Internacional Contra a Homofobia.

Venho fazendo textos sobre a exclusão sistemática de pessoas homossexuais em nossa sociedade, mas quero lembrá-los que segue inexistente um dia voltado à resistência lésbica e, ainda, segue silenciado o debate sobre a específica opressão vivida por mulheres que se relacionam com outras mulheres. Por isso, venho aqui hoje para falar sobre a importância de entendermos o funcionamento dessa repressão.

A lesbofobia tem um funcionamento distinto da homofobia e, por isso, não podemos situá-los em uma mesma nomenclatura. Embora ambos sofram coerção quanto à vivência de sua sexualidade, o homem é emancipado enquanto sujeito desejante. No caso da mulher que se relaciona com outra mulher, há um sofrimento a partir de uma lógica patriarcal e misógina. Ela tem, constantemente, seus relacionamentos deslegitimados. Isso acontece porque nesse relacionamento não há um homem para atestar que aquele corpo tem um dono.

Até a segunda metade do século XX, as mulheres eram consideradas propriedade de seus maridos. Destituídas de autonomia, seus corpos eram vendidos, trocados e ofertados como produto. Eram transferidos entre homens – de seus pais para seus maridos – e, assim, consolidavam-se certos contratos entre famílias. Desde então, ainda que se altere a lei, a mulher é privada de autossuficiência, sendo alguém para um outro – o homem. Assim funciona sua existência e, desse modo, sua sexualidade. Vemos isso com o pornô, vemos isso com a objetificação de todo e qualquer corpo feminino e vemos isso, especialmente, com as mulheres lésbicas.

O relacionamento entre mulheres não tem a presença de um homem. E, principalmente, é um relacionamento que não quer  a presença de um homem. Mas esses mesmos homens assediam essas mulheres, exigindo seus lugares nessa relação: “posso participar?”. No caso da rejeição, irritam-se, esbravejando: “não gostam porque ainda não ficaram comigo”. E, por vezes, isso finda em um ato de estupro corretivo, que se classifica em um ato de dominação para provar que aquele corpo vai ser, ainda que não queira, usado para fins de prazer masculino.

Esses relacionamentos são retratados em pornografia como um sexo de mulheres feminilizadas, de salto alto e de unhas grandes, estando infinitamente longe da realidade. Assim, mais uma vez, fala-se do uso dessas relações para que goze nelas um homem. Ainda que não queiram, seus corpos serão fetichizados e postos em uma tela para fazer esse homem ter seu prazer, que jamais pode ser negado.

Os relacionamentos entre mulheres são atravessados por homens que invadem, assediam, gritam, estupram, agridem e humilham mulheres. São, também, invisibilizados pela comunidade LGBT, que pensa abarcar, em sua grande sigla (ironia), o sofrimento de todos e todas. Assim, como extensão de todo o resto da sociedade, nossos relacionamentos são enfraquecidos e vistos como ilegítimos. Pensam os homens, mais uma vez, capazes de incluir nossas questões em suas próprias questões. A mulher, então, fica como inexistente.

Mas não somos. E nem devemos ser.

Que falemos da lesbofobia todos os dias. Especialmente hoje.

Hoje é dia 17 de maio. Repito: Dia Internacional Contra a Homofobia.

Se a luta contra a homofobia pareceu suficiente para você, talvez você precise repensar o seu lugar.

Catarina Bogeá
Compartilhe...