O livro Memórias da Plantação: episódios de racismos cotidianos foi lançado em 2008, mas traduzido para o português somente em 2019. A obra da autora portuguesa Grada Kilomba, que é psicóloga, escritora, professora e uma artista incrível, foi o livro mais vendido da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) de 2019.

Memórias da Plantação é um estudo que Grada faz com mulheres negras afro-alemãs ou que vivem na Alemanha. Grada Kilomba atualmente vive na Alemanha onde cursou doutorado em Filosofia na Freie Universität Berlin. Ela busca compreender como o racismo afeta a vida dessas mulheres negras no dia a dia.

Temas como solidão, estereótipos, politicas, sexualidade, afeto, suicídio e estética são abordados de uma maneira como nunca havia visto. No primeiro capítulo, Grada conta uma experiencia que teve ao ir realizar sua matricula no doutorado na Alemanha e como as pessoas a tratavam: ora duvidando que ela era estudante ora “sugerindo” que ela não precisasse ocupar aquele espaço.

Este livro, confesso, mexeu com meu emocional e ativou alguns gatilhos, mas foi extremamente importante para que eu pudesse revisitar vários pensamentos sobre o mundo e sobre mim. Perceber que sou violentada todos os dias é bem complicado, mas é real. Primeiro por ser negra e depois por ser mulher, e como essa escala de opressões atinge várias de nós em qualquer lugar do mundo.

A visão que Grada traz neste livro diz respeito à importância de entender a mulher negra como sujeito em nossa sociedade, portanto é imprescindível ouvir o que estas mulheres tem a dizer sobre sua vida cotidiana. Só assim é possível entender o conceito de interseccionalidade que a autora sempre pontua: lutar por todas as causas. Não é possível ser feminista e racista ao mesmo tempo, é essencial lutar contra todas as formas de opressões que nos rodeiam.

Ao tempo que é um grito de socorro, é um estudo de como nos últimos anos essa problemática vem sendo tratada, silenciada na maioria das vezes, mas reforça a importância que nós mulheres negras temos nessa luta, o quão significativa é o nossa produção de conhecimento, o adentrar nas universidades e em tanto outros espaços que nos foram negados ao longo do tempo, e ainda são, em pleno século XXI, e que estamos persistindo, pois há um proposito maior! A libertação das opressões para todas as camadas sociais, o fim das desigualdades.

Memórias da Plantação: episódios de racismos cotidianos também mostra o como pessoas privilegiadas estão atuando no combate à essas opressões, e chama a atenção para a responsabilidade que eles possuem diante dessas questões. É preciso que pessoas brancas se atentem para isso, pois é no dia a dia que somos sufocadas pelas violências do racismo, do machismo, da homofobia que são reproduzidos cotidianamente. É preciso sair da zona de conforto, e isso não significa que “vocês” tenham que abdicar de tudo que “vocês tem”, mas que é preciso que todos tenham. Então, o que “vocês” fazem para contribuir no dia a dia contra as desigualdades sociais?

 

 

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Jéssica Machado dos Santos. Socióloga, educadora popular, ativista, youtuber e idealizadora do coletivo Negras Ginga.

 

 

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