Apresentadora de TV e ex-BBB, Hana acredita que há um esvaziamento dos ideais feministas por meio de ações de marketing de diversas empresas, em especial no ramo da beleza

 

Conhecida por falar sobre feminismo e defender a causa animal e ambiental nas redes, Hana Khalil enxerga pontos positivos e negativos no debate sobre questões feministas na internet. Entre as vantagens, estão a democratização do acesso. Para ela, mais pessoas puderam aprender o que era feminismo por causa das redes sociais.

“Os movimentos sociais ganharam força porque a internet se viabilizou como uma ferramenta democrática. Assim, podemos gerar discussões para provocar as pessoas a pensar. Elas conseguem entender o contexto social no qual vivem para analisar a realidade das coisas e avaliar, por exemplo, em quais movimentos elas se encaixam mais. Por isso, o movimento feminista, em especial, ganhou tantas adeptas”, afirma.

Por outro lado, Hana acredita que o discurso feminista, que estimula o empoderamento feminino, foi esvaziado de sentido, principalmente após começar a ser utilizado pelas marcas que têm as mulheres como público-alvo. Ela vê com ceticismo as ações de marketing e campanhas publicitárias que incluem conteúdos ditos como feministas, ainda mais quando esse discurso progressista não se reflete no que a marca se propõe a vender.

“Acredito que várias marcas tenham uma boa intenção quando resolvem prestar atenção nos discursos, mas, obviamente, isso é feito dentro de um contexto capitalista. Por mais que essas empresas queiram abordar questões do movimento feminista e emancipação feminina, às vezes até pela proposta da marca mesmo, pode continuar sendo problemático”, explica.

“Se uma marca apresenta esses discursos, mas através de seus produtos, estimulam as mulheres a gastar rios de dinheiro em procedimentos estéticos e outras questões patriarcais, é um pouco contraditório.”

Hana cita alguns exemplos que indicam quando a empresa não está usando os conceitos de empoderamento feminino de forma ética. Em algumas ocasiões, o Dia Internacional da Mulher é lembrado de forma superficial como uma data de comemoração, sem levar em consideração todas as lutas das mulheres que inspiraram a origem desse feriado.

“Se a marca se propõe a falar sobre o Dia da Mulher como ele é, tem que falar sobre feminicídio, sobre tripla jornada de trabalho, sobre desigualdade de salários. Precisa ser uma data pra gente enxergar as opressões, observar o que conquistamos e o que ainda falta, porque falta muita coisa. Não é um texto dizendo ‘Feliz Dia da Mulher’; não existe ‘Feliz Dia da Mulher’”, opina a apresentadora.

“Uma empresa que usa a visibilidade do Dia da Mulher precisa ter muita responsabilidade. Ainda existem algumas que abordam a data de uma maneira super sexista. Já vi coisas como ‘Feliz Dia do em 5 minutos eu fico pronta’, sabe? Quando você reproduz falas ditas por mulheres e que são totalmente estereotipadas e isso chega a virar piada e meme. E são coisas que a gente precisa reconsiderar na nossa cultura todos os dias”, continua.

Hana, que também trabalha como influenciadora digital, admite que já recusou propostas de publicidade de empresas que atuavam contra o que ela defende sobre feminismo e utilizavam discursos contraditórios, inclusive no ramo da beleza.

“Marca de beleza necessita ter muito jogo de cintura para poder abordar essas questões. A quantidade de proposta de job que eu já recebi para abordar discursos em cima de marcas que não se comprometem com a libertação feminina, e que, pior do que isso, lucram porque geram pressão estética nas mulheres, não é pequena. É complicado para uma clínica de estética, por exemplo, fazer um discurso de aceitação, dizer ‘ame o seu corpo do jeito que ele é’, se ela lucra com a insatisfação das mulheres com seus corpos.”

Ela enxerga várias dessas ações de marketing como um desserviço para o movimento, pois esvazia o discurso feminista e reduz as questões a uma discussão banalizada. Mesmo assim, observa que há empresas que abordam o assunto de modo coerente.

“No fim das contas, todas essas marcas querem ter uma validação do seu público quando fazem isso. Elas buscam abrir precedentes para serem validadas por esse movimento, para serem reconhecidas como posicionadas. Mas tem um abismo entre fazer de uma forma ética, que realmente indique que o discurso está sendo utilizado para representar socialmente um grupo oprimido há gerações, e fazer isso somente para lucrar”, completa.

 

 

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