Os pesquisadores de opinião pública há muito sabem que a forma como uma pergunta é construída pode afetar significativamente a resposta do entrevistado – pense na batalha linguística entre os termos “pró-vida” e “anti-escolha”. Então talvez não devesse surpreender o fato de que isso se aplica à agressão sexual: Tanto homens quanto mulheres apresentam respostas diferentes a perguntas sobre estupro, dependendo se a pergunta faz uso da própria palavra estupro ou se descreve o ato em questão. Mas ainda é estranho quão grande é o vão entre algumas dessas respostas.

Na verdade essa não é uma descoberta nova. Em um estudo recente acerca das atitudes dos universitários do sexo masculino em relação ao estupro, orientado por Sarah Edwards, da Universidade da Dakota do Norte, e publicado em Violence and Gender, os autores citam uma pesquisa conduzida nos anos 80:

Especificamente, quando itens da pesquisa descrevem comportamentos (por exemplo, “Você já coagiu alguém a manter relações sexuais com você, prendendo a pessoa para tal?”) em vez de simplesmente nomeá-los (por exemplo, “Você já estuprou alguém?”), mais homens irão admitir terem cometido atos de coação sexual no passado e mais mulheres irão reportar vitimizações passadas.

Edwards e sua equipe queriam entender melhor o lado masculino desse vão entre as respostas – isto é, por que os homens reagem de forma tão diferente (e divulgam informações diferentes) dependendo do palavreado usado –, então fizeram com que um grupo de homens universitários preenchesse algumas enquetes. Uma perguntava que tipos de atitudes eles cometeriam se “ninguém jamais soubesse e não houvesse nenhuma consequência”. Ela incluía itens que usavam tanto a palavra estupro quanto descreviam o ato de forçar alguém a fazer sexo contra sua vontade, sem chegar a usar a palavra com “e”. Outros itens da enquete avaliavam o nível de hostilidade dos participantes em relação às mulheres, hipermasculinidade (que inclui “ver o perigo como algo excitante, tratar a violência como algo másculo atitudes sexuais insensíveis”) e atração por agressões sexuais.

Quase um terço dos homens (31,7%) disse que, em uma situação livre de consequências, forçaria uma mulher a ter relações sexuais, enquanto 13,6% disse que estuprariam uma mulher. Deixando de lado o fato de que é assustador que um terço completo de um grupo aleatório de universitários homens admite isso, a diferença de 20 pontos percentuais ainda é estranha, mesmo que reflita o que já havia sido observado em pesquisas anteriores: no final das contas, os dois grupos estão dizendo exatamente a mesma coisa.

Então como que aqueles que apoiaram o estupro se diferem daqueles que “apenas” apoiaram o sexo forçado? Edwards e sua equipe descobriram que os homens que apoiaram o estupro quando o termo foi usado eram mais hostis em relação às mulheres e tinham atitudes mais insensíveis em relação ao sexo.

Isso pode ter importância do ponto de vista preventivo. Os pesquisadores acreditam que “homens que apoiam nos itens da enquete o uso da força para conseguir sexo, mas negam o estupro nesses mesmos itens podem não sentir hostilidade em relação às mulheres, mas sim ter tendências mais na linha do machismo voluntário”.

Em outras palavras, nem todos os estupradores em potencial andam por aí falando sobre como odeiam as mulheres, e isso sugere que “não há uma abordagem universal quando se trata da prevenção de agressões sexuais”. Os pesquisadores acreditam que “homens que têm como motivação primária sentimentos negativos, de hostilidade em relação às mulheres e que conceituam suas próprias intenções e atitudes como estupro provavelmente não serão beneficiados pelo amplo grupo de ações preventivas realizado como parte dos esforços de conscientização das faculdades”. Em outras palavras, se você é o tipo de pessoa que tem tanta raiva das mulheres que a perspectiva de estuprar alguém não o incomoda de verdade, você dificilmente será tocado pelos programas de prevenção de agressões sexuais oferecidos pelas faculdades no início do ano.

Por outro lado, aqueles homens que apoiam a ideia de forçar alguém a fazer sexo, mas não a ideia de estupro quando ouvem essa exata palavra podem – a despeito do quão confusos e errados possam estar – ser mais educáveis:

Programas que usam uma abordagem de grupo baseada em normas parecem ser apropriados para homens que apoiam o uso da força mas negam o estupro, desde que o programa possa estabelecer um relacionamento com os participantes e passar credibilidade. Como esses homens não veem suas intenções sexualmente agressivas como estupro, não se inserindo nas questões que rondam as crenças no estuprador estereotipado e não se identificando com eles, esses programas poderiam ter sua eficácia reduzida por seus participantes não se verem retratados neles. Isso faria com que os homens que se beneficiariam mais dessa prevenção acabassem não sendo afetados por ela.

É um pouco estranho pensar em diferentes “tipos” de estupradores, dado que o ato é (obviamente) horrível e inescusável em qualquer contexto. Mas, do ponto de vista da prevenção, essa parece ser a direção em que alguns especialistas estão seguindo.

*Texto originalmente publicado no site Science of Us, tradução de Bruna de Lara.