Desculpe-me quando eu falei da sua roupa. Porque eu falei. Eu julguei. Eu ri. Eu achei feia, brega, vulgar. Não devia ter falado, mas falei.

Desculpe-me quando eu falei do seu cabelo. Porque eu falei. Falei que estava sem corte, feio, mal-tratado, armado, sem volume, opaco, desbotado, mal-pintado.

Desculpe-me quando eu falei do seu namorado. Porque eu falei. Falei que ele era feio, gordo, chato.

Desculpe-me quando eu falei do seu corpo (da sua bunda, do seu peito, da sua barriga, da sua perna, do seu umbigo). Porque eu falei. Falei que você estava gorda demais, flácida demais, magra demais e forte demais.

Falei da sua pele, do seu nariz, da sua profissão, da sua família, da sua voz, do seu cachorro, da sua religião, do seu carro, da sua casa e até da sua comida (!). Falei da sua vida todinha, de cabo a rabo.

Mesmo sem intenção, eu julguei e falei tanto mal de vocês, mulheres. E, o pior: sem vocês saberem.

Eu senti inveja, eu desejei o pior, eu torci pra dar errado, eu vibrei quando foi tudo por água abaixo.

Desculpem-me, mulheres. Não foi engraçado, não foi apropriado, não foi necessário, não foi nem um pouco empático da minha parte.

Levei um tempo para descobrir que não somos inimigas, e que, em vez de maltratá-las com as minhas palavras, deveria apoiá-las, não somente com palavras, mas também com ações.

Levei um tempo para deixar de apontar os seus defeitos e começar a olhar as suas qualidades, as quais hão de existir sempre!

Levei um tempo para elogiá-las, exaltá-las.

Levei um tempo para crescer, amadurecer, me tornar uma pessoa melhor e, enfim, me arrepender!

 

Renata Perre. Jornalista e contadora de histórias. Renata Gump. Já fui presa já sofri três acidentes de carro já morei em Nova York já servi café na Cacau Show. Já casei já tive uma gata e dois cachorros. Eu escrevo para não surtar. Eu surto para poder escrever.
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