Quantas vezes não ouvimos nossas amigas, mães ou irmãs dizerem que “mulheres dirigem mal”, “menina tem que se cuidar”, “mulher precisa se dar o respeito” e outras coisas do gênero? Bom, essas são frases evidentemente machistas. Portanto, a pessoa que as profere, independentemente de seu gênero, é machista, não é?

Existem opiniões diferentes entre feministas sobre isso. Vamos apresentar aqui, resumidamente, os principais pontos de quem afirma que mulheres podem e não podem ser machistas. Aí você decide qual se identifica mais, pode ser?

 

Mulheres não podem ser machistas

 

Como sabemos, o machismo é um sistema de valores que está entranhado na nossa sociedade e que, infelizmente, está presente na socialização tanto de homens quanto de mulheres. Assim como outras ideias preconceituosas e opressoras, os valores machistas são passados à frente como uma série de fatos naturais e, portanto, indiscutíveis. A mulher é mais cuidadosa, emotiva, maternal, vaidosa. A repetição constante dessas supostas regras universais, naturais e impassíveis de mudança acaba fazendo com que muitas de nós as incorporemos, ainda que sem perceber.

É a partir daí que algumas feministas preferem afirmar que mulheres não são machistas, mas reproduzem o machismo. O objetivo é não criar uma equivalência entre atitudes que são reproduzidas inconscientemente a partir de uma socialização misógina de atitudes que são conscientemente tomadas.

Além disso, dizer que mulheres não são machistas, mas reforçam ou reproduzem o machismo, enfatiza o fato de que mesmo as mulheres que tem um discurso machista são também vítimas do machismo. Segundo essa perspectiva, o homem machista ainda que inconscientemente se beneficia da opressão que exerce, pois ela garante a manutenção do patriarcado e de todos os privilégios masculinos que ele carrega. Já a mulher que reproduz machismo está apenas propagando um discurso que oprime a ela mesma. Não há benefícios aí.

Isso porquê a hierarquia de gênero pode ser representada por uma balança na qual na parte de baixo estão as mulheres e na de cima, os homens. As mulheres, mesmo as que veementemente propagam machismo, ainda assim estão na parte de baixo da balança. Dizer que mulheres não são machistas, portanto, busca enfatizar que as mulheres estão na posição de vítimas de um sistema patriarcal e não de propulsoras dele.

 

Mulheres podem ser machistas

 

No entanto, outras femininistas acreditam que mulheres podem sim ser machistas e não fazem essa distinção em forma de expressão. Afinal, existem mulheres que conscientemente tomam atitudes machistas. Dizer, portanto, que não seriam machistas apenas por serem mulheres seria contraditório. O machismo se ancora em discurso e ação política e não no gênero de quem o expressa.

Existem duas situações a se levar em consideração. Existem, de fato, mulheres que reproduzem machismo no sentido de reproduzir o senso-comum na qual todos fomos criados. Nesse caso, a distinção pode ser relevante porque acentua quem – dentro de uma estrutura patriarcal – está no processo de conscientização sobre as discriminações de gênero.

No entanto, é um pouco paternalista acreditar que todas as mulheres reproduzem machismo inconscientemente, como se não soubessem o que estão fazendo ou que apenas estão sendo machistas porque não tiveram contato com a luz do feminismo. Não é verdade.

Existem mulheres que são ativamente anti-feministas e elas se beneficiam disso pessoalmente. Muitas recebem cargos, financiamento para seus projetos, recebem atenção por parte dos homens, afinal “você não é como aquelas feministas”, etc. O benefício pode ser em troca de algum tipo de poder, dinheiro, status ou qualquer outra coisa. De fato, ainda ainda assim, pelo fato de serem mulheres, estão sujeitas a sofrerem violência de gênero. O discurso machista por parte de uma mulher é um tiro no pé. No entanto, para elas, isso é algo secundário e priorizam seu crescimento pessoal em detrimento da causa coletiva.

Então, essas mulheres não são machistas? Dizer que essas mulheres “reproduzem o machismo” apenas, é suavizar o papel que elas ocupam dentro do patriarcado, que é o de dar validação e legitimidade a políticas que vão contra os interesses das mulheres enquanto coletividade.

 

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