Bem, aqui estou eu com os meus 40 anos e quase um mês de vida repetindo esse bordão. Na verdade, publiquei isso nas minhas redes sociais no dia do meu aniversário de 40 anos. E que fique claro, eu publiquei não por acreditar no bordão, mas pra reforçar para mim mesma que não estou velha, que a meia idade não chegou. Foi um post para dizer “Hey Bianca, fique calma, você ainda está ok!”.

E nessa onda de negar a meia idade, a maturidade, eu vejo todos os dias uma série de pessoas: amigos, conhecidos e desconhecidos querendo beber da fonte da juventude eterna, querendo driblar o tempo e fazer de conta que continuamos com vinte e poucos num eterno looping dos anos 2000.

E aí eu te pergunto, será efeito do tão falado bug do milênio? Será que o bug foi justamente no discernimento dos jovens do fim dos anos 90? E que fique claro, se você entendeu a referência do bug do milênio, pode estar certo que ou você está na meia idade ou está quase lá! E isso meu amigo é inevitável, queira você, a La Roche, a Vichy, o botox ou não!

Todos os dias nós recebemos uma enxurrada de propaganda nos dizendo o quanto ainda somos jovens (ou o quanto podemos voltar a ser), ligamos a TV e vemos os artistas da nossa geração repetindo isso (e aparentando quase a mesma cara de vinte anos atrás), passeamos pelas redes sociais e vemos uma série de produtos para a juventude eterna, pílulas, harmonizações, dietas, exercícios e cirurgias… tudo para devolver a aparência e o vigor dos vinte anos. Porque que fique claro não basta aparentar ter vinte anos, tem que viver como alguém de vinte, ter a agenda cheia de baladas e uma rede social de causar inveja nas blogueirinhas!

A sede de ter vinte anos novamente é tão grande que as festas plocs da vida bombaram e continuam fazendo sucesso… tudo para nos sentirmos novamente vivendo nos anos 80, 90 e 2000. Para sentirmos o gostinho de nostalgia sem dizer que é nostalgia, mas sim como um portal do tempo parado, presos no bug do milênio, ali onde o pop rock brasileiro era a trilha principal (mas claro sem esquecermos de passar por debaixo da cordinha e dançar a dança da bundinha)!

E nessa briga pela eterna juventude eu vejo trintões, quarentões e até cinquentões querendo disputar espaço nas noitadas com a molecada (ok me chamem de velha pelo termo), vejo mulheres lindas fazendo de tudo para parecerem 10, 15, 20 anos mais jovens e assim continuarem se sentindo bonitas e desejadas. E o pior vejo pessoas de quarenta ainda morando com os pais e levando uma vida de eterno universitário, mesmo com diploma e emprego, mas negando todo o restante de responsabilidades da vida adulta.

E isso me faz questionar: o que queremos com esse bordão? O que esperamos quando atingimos os quarenta e continuamos a nos comportar como se tivéssemos vinte? Que medo é esse de envelhecer? Em que ponto a nossa geração desistiu de andar para frente e resolveu estacionar nos vinte? Quem que resolveu que os vinte são o auge da vida?

Creio que vivemos numa sociedade que cada vez mais valoriza a estética, a plástica ao invés do conteúdo, que cada vez mais vive de aparência, e, sim aqui as redes sociais desempenham um papel determinante e catastrófico: temos que ter as fotos perfeitas, as saídas tops, o look da moda, a comida gourmetizada, as férias badaladas, bebermos os drinks mais bonitos, estarmos rodeados de gente bonita, nova e antenada… e tudo isso para quê? Para bombarmos no Instagram e nos videozinhos com tiradas engraçadas no Tiktok!

Vivemos uma época onde a vida virtual se tornou a principal, onde o dia a dia é feito para ser palco das redes sociais, onde tudo tem que ser fotografado, filmado, editado e postado! Onde o número de curtidas e comentários importa mais do que o abraço de um amigo, do que um almoço em família! Onde trocamos carinho e amizade por seguidores, onde a popularidade é medida por republicações e engajamentos!

O que vivemos hoje é uma negação da vida adulta, é o querer para sempre o timing da juventude, e, isso parece ser o grande mal das gerações nascidas na década de 70 e 80. Fora é claro os casos patológicos da Síndrome de Peter Pan. Por falar nisso, você sabe o que é? “De acordo com o psicólogo Dan, a Síndrome de Peter Pan se caracteriza pela grande dificuldade do indivíduo se enxergar como um adulto e se desvencilhar totalmente do seu papel de criança e começar a crescer de verdade. Isso o faz constantemente agir de forma infantil, imatura, rebelde e inconsequente e ainda assim querer ser compreendido e aceito em sua forma de ser e agir. De acordo com o estudioso, essa resistência em crescer é mais comum entre os homens e pode afetar a vida acadêmica, profissional e amorosa daqueles que perpetuam comportamentos infantis. (https://www.ibccoaching.com.br/portal/comportamento/o-que-e-sindrome-do-peter-pan/)”.

O que eu vejo é uma superficialidade da vida, tudo é mais efêmero, vejo pessoas mais introspectivas ao mesmo tempo que esbanjam sociabilidade virtual, vejo pessoas discutindo e polarizando tudo, criando lado A e lado B para tudo na vida, mas sem nem ao menos se importarem em ouvir o outro lado. Vivemos uma época de grandes certezas e poucos conhecimentos. Onde o que vale é causar, mesmo que isso seja as custas da sanidade mental, própria ou alheia!

E tudo isso nada mais é do que fuga, não simplesmente a fuga do tempo, mas a fuga de si mesmo, de se olhar e se encarar como um ser em construção, em evolução, um ser que passa por etapas e amadurece, e, que segue a rota da vida como todos os outros, um ser que sabe encontrar a mágica de cada momento e que não precisa viver numa eterna juventude para se achar interessante, pois soube aprender e crescer com cada fase, se tornando, portanto alguém admirável e real!

Nós temos que entender que não precisamos ser eternamente jovens para sermos interessantes, temos que saber valorizar a passagem do tempo! E acima de tudo aprendermos a aceitar as linhas de expressão, ruguinhas, fios brancos e quilinhos a mais, pois eles também fazem parte da nossa história e essência! Não quero aqui dizer para não se cuidar, não é isso, o que quero aqui é lembrar que temos que parar com os exageros, temos que parar com essa supervalorização à juventude eterna, temos que aceitar as imperfeições e marcas do tempo, valorizarmos os nossos pontos altos e nos tornarmos interessante justamente porque conjugamos os nossos atributos físicos e as experiências dos anos vividos!

Claro que temos que cuidar do corpo, mas principalmente por questões de saúde! Estética obviamente também importa, não estou dizendo que não, o que estou dizendo é que não podemos perseguir um modelo de juventude eterna, que temos que saber lidar com cada fase, que devemos sim ter cuidados, mas sem beirar à loucura. Não quero fazer um motim contra cremes, injeções, pílulas e afins, não se trata disso, mas sim da gente saber se olhar no espelho e admirar a passagem dos anos, cuidando do nosso corpo sim, mas aceitando que não temos mais vinte anos!

Temos que entender que aos quarenta nós temos quarenta, não temos mais a pele dos vinte, a barriga dos vinte… Sinto saudades? Claro, principalmente do meu metabolismo aos vinte, do tempo de recuperação, da disposição… mas não vou enlouquecer aqui com isso, vou continuar seguindo a minha estrada, me cuidando, tentando envelhecer com dignidade tanto física como mental! Afinal o que adianta um corpo lindo e uma mente vazia, neurótica e insatisfeita consigo mesma?

Então, meus amigos, eu lamento ter que dizer isso para vocês, mas não, os quarenta não são os novos vinte, e felizmente não são! O tempo passou, nós crescemos e amadurecemos (ou pelo menos deveríamos ter amadurecido)!

E não se sintam com o pé na cova pelos quarenta, os quarenta são os quarenta, uma idade linda, onde já nos conhecemos e somos donos dos nossos corpos e mentes, onde já aprendemos tanto com os anos que passaram que já podemos dizer felizes e sorridentes que temos muitas bagagens e conhecimentos sim, mas que ainda temos meia vida para desbravar! Vivemos a primeira metade da vida sim, estamos na meia idade, mas temos vigor para desfrutar a segunda metade com aquilo que não tínhamos na primeira: maturidade, senso crítico, responsabilidade e estabilidade! Então viva os quarenta, sem medo, sem máscaras, com ou sem botox, mas com autenticidade! Um brinde aos quarenta, que não são os novos vinte, mas sim a entrada na meia idade, a maturidade e a plenitude!

 

Bianca Prado. Delegada de Polícia Civil de Minas Gerais, Pós Graduada em Direito Penal e Processo Penal pela UGF, Residente Jurídica de Direito Criminal pela UERJ e . Pós-graduanda em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global (PUCRS).

 

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