por Bernie Sanders no The New York Times. Tradução por Juliana Felzke.
“Israel tem o direito de se defender”
Essas são as palavras que ouvimos tanto de administrações Democratas quanto Republicanas sempre que o governo de Israel, com o seu enorme poderio militar, responde a ataques aéreos vindo de Gaza.
Vamos ser claros. Ninguém está argumentando que Israel, ou qualquer outro governo, não tenha o direito de se defender ou de proteger o seu povo. Então porque essas palavras são repetidas ano após ano, guerra após guerra? E porque a seguinte pergunta nunca é feita: “Quais são os direitos das pessoas Palestinas?”
E por que nós notamos a violência em Israel e na Palestina apenas quando misseis caem em Israel?
Nesse momento de crise, os Estados Unidos deveriam clamar imediatamente por um cessar-fogo. Também deveríamos entender que, enquanto é completamente inaceitável que o Hamas dispare misseis em comunidades Israelenses, os conflitos de hoje não começaram com esses misseis.
As famílias Palestinas em áreas de Jerusalém, no bairro de Sheikh Jarrah, estão vivendo sob a ameaça de despejo por muitos anos, navegando por um sistema legal designado para facilitar o despejo forçado. E nas últimas semanas, extremistas tem intensificado seus esforços para retirá-los a força.
E, tragicamente, essas vítimas são apenas uma parte de um amplo sistema político e econômico de opressão. Por anos estamos vendo um aprofundamento da ocupação Israelense na Cisjordânia e Jerusalém Oriental e bloqueios em Gaza que tornam a vida cada vez mais intolerável para os Palestinos. Em Gaza, que tem aproximadamente 2 milhões de habitantes, 70 por cento dos jovens estão desempregados e tem poucas esperanças para o futuro.
Além do mais, vemos o governo de Benjamin Netanyahu trabalhando para demonizar e marginalizar os cidadãos Palestinos em Israel, buscando políticas designadas para acabar com a possibilidade de uma solução para dois Estados e aprova leis que fortificam um sistema de inequalidade entre cidadãos Judeus e Palestinos de Israel.
Nada disso é uma desculpa para os ataques do Hamas, que são tentativas de explorar os conflitos em Jerusalém, ou os fracassos e corrupção do ineficaz Autoridade Palestina, que recentemente adiou eleições já atrasadas. Mas o fato é que Israel continua a única autoridade soberana na terra de Israel e Palestina, e ao invés de se preparar para paz e justiça, tem aprofundado o seu controle desigual e antidemocrático.
Há mais de uma década em seu mandato de direita em Israel, o senhor Netanyahu tem cultivado uma crescente autoridade e intolerância tipicamente de uma nacionalidade racista. No seu esforço frenético de permanecer no poder e evitar enfrentar acusações por corrupção, o senhor Netanyahu tem legitimado essas forças, incluindo Itamar Ben Gvir e seu extremista Partido Judeu, ao trazê-los para seu governo. É chocante e triste que as multidões racistas que estão atacando Palestinos nas ruas agora têm representantes no Parlamento.
Essas tendências perigosas não são exclusivas de Israel. Em todo o mundo, na Europa, na Ásia, na América Latina e aqui nos Estados Unidos, nós estamos vendo a ascensão de movimentos nacionalistas similares. Esses movimentos exploram o ódio racial e étnico para construir o poder de alguns corruptos ao invés de prosperidade, justiça e paz para muitos. Nos últimos 4 anos esses movimentos tiveram um amigo na Casa Branca.
Ao mesmo tempo, estamos vendo o crescimento de uma nova geração de ativistas que querem construir uma sociedade baseada na necessidade humana e igualdade política. Nós vimos esses ativistas nas ruas americanas no último verão logo após a morte de George Floyd. Nós estamos vendo-os em Israel. Nós os vemos no território Palestino.
Com um novo presidente, os Estados Unidos agora têm a oportunidade de desenvolver uma nova abordagem de mundo – uma baseada na justiça e na democracia. Seja ajudando países pobres a conseguir as vacinas que precisam, liderando o mundo no combate as mudanças climáticas, ou lutando por democracia e direitos humanos ao redor do globo, os Estados Unidos devem liderar ao promover a cooperação ao invés do conflito.
No Oriente Médio, onde fornecemos mais de 4 bilhões de dólares por ano em ajuda para Israel, nós não podemos mais ser defensores do governo de extrema direita de Netanyahu e seu comportamento racista e antidemocrático. Devemos mudar a direção e adotar uma abordagem mais equilibrada, uma que defende e fortalece leis internacionais a respeito de proteção a civis, bem como as leis americanas já existentes mantendo que o fornecimento de ajuda militar americana não pode permitir abusos de diretos humanos.
Essa abordagem deve reconhecer que Israel tem o direito absoluto de viver em paz e segurança, assim como os Palestinos. Eu confio plenamente que os Estados Unidos têm um grande papel a desenvolver em ajudar Israelenses e Palestinos a construir esse futuro. Mas para que os Estados Unidos sejam uma voz digna de confiança a respeito dos direitos humanos no mundo, nós devemos manter padrões internacionais de direitos humanos consistentemente, mesmo quando for difícil politicamente. Devemos reconhecer que os direitos Palestinos importam. Vidas Palestinas Importam.