28 de junho é um dia de (auto)análise. Para além do “não ao sexo rei” contido na microfísica do poder (Foucault), da visitação histórica da Revolta do Stonewall (1969) e a exaltação dos problemas de gênero (Butler); é preciso se responsabilizar pelo relato de si.

Para quem se vincula aos processos identitários da população LGBTQI+ sabe as dores e as delícias dessas identificações.

Romper transitoriamente com o (auto)processo de castração e punição dos seus desejos é uma afronta à sociedade disciplinar em que vivemos. Dizer não à moralidade ordenatória, ao fundamentalismo religioso e, sobretudo, à disciplina do corpo desejante; é desobedecer a ordem.

Entretanto, tal desobediência nos coloca em desafios diários de se manter firme nos posicionamentos políticos e éticos de “ser o que é”.

Nem todos os dias estamos dispostos e armados para os enfrentamentos sociais e simbólicos do que se delimita ser uma pessoa LGBTQI+.

Nisso, você se depara com a sua própria vulnerabilidade. Um estar no mundo minado por campos que tendem muito mais a nos aniquilar do que nos manter seguros.

Esse ambiente nem precisa ser as instituições sociais já conhecidas – e criticadas – por nós pela sua execução do controle, como escola, prisão, hospital e etc.

Do ventre materno a socialização primária na família se estrutura os músculos rígidos que serão suficientes para a atuação do controle da nossa cognição, da castração dos desejos e da repressão dos afetos.

Reconhecer essas raízes de mediação da opressão nos ajuda a sermos mais leves conosco nos nossos processos de auto-afirmação identitária. Significa pensar que o meu processo de percepção e de amadurecimento dos desejos não são iguais ao processo do outro. E que o “sair do armário” vai muito além de uma hashtag ou publicação nas redes sociais.

Trata-se de um caminho mais árido, pedregoso e de imersão, mas que ao mesmo tempo, lhe convida ao reconhecimento das vulnerabilidades, inconstâncias e desamparos.

Uma vez ultrapassado essas faixas que te ameaçam, você se dá conta que você permaneceu, sobreviveu e se mantém inteiro naquilo que realmente importa: o seu sentir.

E viver daquilo que você se reconhece, se sente, se experiencia, é o maior gesto de transgressão a uma sociedade do controle. E o que mais estamos precisando, nos dias de hoje, é dessa radicalidade de assumir as responsabilidades do sentir.

O arco-íris é um sinal do seu movimento que percorreu o acinzentado até se mostrar o que é: cores vivas que rompem o céu.

Orgulhe-se da sua coragem em viver o seu sentir!

 

Editado e revisado por Bruna Rangel.

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