Narcisa Amália (1852-1924), Júlia Cortines (1863-1948), Francisca Júlia (1871-1920) e Auta de Souza (1876-1901) têm muito em comum.  Foram escritoras e poetisas nascidas no século XIX que não obtiveram o reconhecimento merecido. Na época, as mulheres eram ainda mais excluídas do universo literário predominantemente masculino. Eram vetadas de ingressarem na Academia Brasileira de Letras, por exemplo, não contavam com muito espaço na imprensa literária e enfrentavam dificuldades de divulgação de suas obras, muitas vezes, publicadas com baixa tiragem. Além disso, a época em que escreveram marcou o estilo de suas poesias. Vivia-se uma fase considerada pré-modernista, de pouca definição na literatura e sincretismo entre parnasianismo, simbolismo e romantismo.

A invisibilidade do passado contribuiu para a invisibilidade do presente. Elas não são estudadas nas escolas como os autores homens do mesmo período, sequer são mencionadas na maior parte dos livros didáticos de história e literatura.

Reunir essas escritoras (que não foram as únicas de seu tempo), conferindo a elas certa identidade em comum, oferece não só o resgate dos escritos, mas a oportunidade de estudar a conjuntura específica daquele momento e as escritoras mulheres de então.

O “Caderno de poesias” é livro e caderno ao mesmo tempo. A publicação conta com quatro blocos de dez poesias de cada uma das poetisas, intercalados por folhas em branco. Na seleção, a editora privilegiou poemas que trazem mensagens positivas, de liberdade e exaltação da figura feminina pela ótica das mulheres. Afinal, a proposta do caderno também é inspirar e incentivar a leitora ou leitor a soltar a própria criatividade nas folhas reservadas para anotações.

Sobre as escritoras (em ordem de idade)

Narcisa Amália (1852-1924) nasceu em São João da Barra, Rio de Janeiro.  Foi a primeira mulher brasileira que trabalhou profissionalmente como jornalista. Escreveu artigos a favor da abolição da escravatura e contra a opressão feminina. O seu primeiro e único livro de poesias Nebulosas foi publicado em 1872. Também é autora e poemas e contos publicados em periódicos, como Nelumbia.

Maria Julia Cortines (1863-1948) nasceu em Rio Bonito, Rio de Janeiro. Recebeu educação refinada, começou a escrever cedo e dedicou-se também ao magistério. Escreveu dois livros, ambos de poesias, Versos (1894) e Vibrações (1905). Julia tinha afinidade com a poesia italiana, traduziu poemas de Leopardi, Ada Negri e de outros.

Francisca Julia (1871-1920) nasceu em Eldorado, São Paulo. Publicou quatro livros – Mármores (1895), O livro da infância (1899), Esfinges (1903) e Alma infantil (1912). A crítica, com base nos estereótipos ainda mais fortes na época, atribuiu à sua escrita uma dicção não feminina. Talvez tenha a ver com o que foi identificado nos dias de hoje como poesia parnasiana impessoal, embora o simbolismo também esteja presente em seu trabalho.

Auta de Souza (1876– 1901) foi uma poetisa negra de Macaíba, Rio Grande do Norte. Teve uma vida breve e sofrida. Órfã desde muito cedo, viu seu irmão morrer ainda criança e encontrou alívio na fé religiosa. Esta marca o tema de seus poemas, assim como o misticismo faz parte de seu estilo. Morreu de tuberculose aos 25, doença que a acometia desde os 14 anos e que vitimou seus pais. Horto (1900) foi seu único livro.

 

O “Caderno de poesias” está à venda por R$59,00 no site da editora Moiras https://www.editoramoiras.com/shop.

Rosana Mauro. Fundadora da Editora Moiras. Jornalista formada na UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), especializada em Comunicação Organizacional pela Faculdade Cásper Líbero. Mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, com pesquisas sobre telenovela brasileira, representação feminina e classe social.