Já imaginou ter um talento nato e admirado por muitos, mas não poder dizer seu nome em voz alta? Ao longo de muito tempo essa foi a realidade de muitas mulheres escritoras, independente da classe social e da destreza ao escrever, suas obras eram rebaixadas e menosprezadas por conta do gênero.

De brasileiras como Maria Firmina dos Reis e Dionísia Gonçalves Pinto à inglesa Jane Austin o preconceito não passou batido. De acordo com as pesquisas feitas, apesar de hoje muitas obras terem se tornado um clássico, vários nomes de autoras foram suprimidos por uma chance igualitária de publicação e veiculação. Como em boa parte dos mundos, o das letras não foi diferente e era predominantemente masculino, mulheres corajosas que ousaram ocupar seu lugar é que nos dão espaço para publicar hoje em dia, mas será que foi o suficiente?

Amandine Dupin (George Sand), as Irmãs Bronte (irmãos Bell) ou Mary Ann Evans (George Eliot), uma pesquisa rápida na internet e descobrimos tudo sobre a vida de autoras que conquistaram seu espaço com outro nome, que na maioria das vezes foi usado para tirar a atenção de seu gênero na intenção de terem notoriedade sem que isso seja julgado. Para algumas o prestigio foi alcançado ainda em vida e devido a muitas conquistas do feminismo, as mesmas puderam expor seus nomes verdadeiros. Prêmios, eventos, edições, escândalos e fofocas vêm como um bônus nos artigos, a única coisa que não lemos nem em letras miúdas é o quão absurdo é a ideia de que os pseudônimos sejam necessários, até mesmo atualmente.

Amandine Dupin (George Sand), Mary Ann Evans (George Eliot) e as Irmãs Bronte (irmãos Bell)

 

Não vamos muito longe, na década de 1990, se inicia a trajetória de J.K. Rowling autora da tão amada saga de livros Harry Potter, utilizando da abreviação de seu primeiro nome, como sugestão de seu editor, para facilitar as vendas, já que poderia ser visto como sendo de um escritor homem e facilitasse a procura por meninos.

O não questionamento desta posição nas áreas de pesquisa utilizadas é incomodo, até que ponto o conformismo e o uso das informações apenas como canal de acesso irá silenciar ainda mais mulheres? De fato, devido ao conhecimento básico, sabemos o quanto mulheres foram reprimidas, agredidas e distanciadas de tudo que sempre foi delas por direito, o espaço das letras também e consequentemente incluímos aqui o absurdo uso dos pseudônimos para conquista de espaço e validação, uma vez que isso seja de conhecimento de todos, o questionamento e a indignação deve vir logo em seguida, o que não acontece.

Ainda hoje existem mulheres com medo de publicar e de expor diversas artes somente por serem mulheres, assim como, boa parte dos homens leitores ou apreciadores de alguma expressão artística vai dizer que preferem autores homens, com isso, anexando algum comentário machista. A questão é que não devemos mais simplesmente apoiar o apagamento da identidade de uma mulher para que sua obra seja mais aceita pelo que ela realmente é. Posicionamentos machistas devem ser questionados e parados no momento em que são feitos, nossas escritoras mais antigas podem não ter conseguido fazer isso anos atrás, mas hoje nós podemos.

As mulheres são destaque na maioria das áreas predominantemente ocupadas por homens, mesmo que a passos de tartaruga, estão ocupando o devido espaço. Antes erámos proibidas de nos posicionarmos e de questionar, hoje já podemos ensinar as gerações de que isso é um direito conquistado por outras mulheres.

Ao concluir, saliento que não bastam títulos e noticias bombástica e muito menos que uma em dez tenha conseguido o prestigio, o fato de ainda ser utilizado, os pseudônimos devem ser excluídos quando a intenção seja silenciar uma mulher até que sua obra seja aprovada pela sociedade machista. Já provamos muitas vezes que somos melhores em muitos aspectos e não precisamos passar o resto das nossas vidas e carreiras convencendo uma sociedade de que isso é verdade.

 

Giulia Skieres, 23 anos e futura escritora, estudante do curso de Letras – Redação e revisão de textos UFPEL, feminista e ativista de causas sociais, escrevendo sempre sobre tudo que é incômodo, dentro e fora dela mesma.

 

Referências bibliográficas

https://www.bbc.com/portuguese/geral-43592400
https://revistacult.uol.com.br/home/10-autoras-que-precisaram-depseudonimos-masculinos-para-publicar-suas-obras/
https://revistacult.uol.com.br/home/centenario-maria-firmina-dos-reis/
https://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/originalwriters/
http://alb.org.br/arquivo-morto/linha-mestra/revistas/revista_05/art2_05.asp.html