Ilustração por Raquel Thomé.

Certamente você já ouviu falar desse termo e, se você for feminista, muito provavelmente foi chamada disso. “Feminazi” virou a palavra favorita de conservadores pra se referir a feministas.

Estava lendo um artigo de Charlotte Proudman pro jornal britânico The Guardian, no qual ela explica as origens da palavra.  O termo foi popularizado nos anos 90 por Rush Limbaugh, um comentarista político conservador dos Estados Unidos. De acordo com Limbaugh, uma feminazi é “uma feminista a quem a coisa mais importante da vida é assegurar que o maior número possível de abortos ocorra”.

O sujeito coleciona pérolas à la Bolsonaro. Por exemplo, afirmou que “O feminismo foi criado para forçar a cultura popular a aceitar mulheres feias” “Se nós vamos pagar pelos seus contraceptivos, e assim pagar para que você faça sexo, nós queremos algo em troca e vou dizer o que é. Nós queremos que você poste os vídeos na internet para que todos possamos assistir”.

Ao que parece os propagadores do termo no Brasil seguem a mesma estirpe. Segundo Proudman, “chamar feministas de feminazi é um mecanismo efetivo para desviar a atenção do extremismo obscuro dos defensores desse termo”. A comparação entre feminismo e nazismo dada pelo termo serve somente pra deslegitimar qualquer tipo de discurso feminista. Pra ser uma “feminazi” não é necessário ter ligação com um discurso extremista. Pra quem é conservador, qualquer feminismo é extremista.

Existem também aqueles que fazem a separação entre “feministas” e “feminazis”. Considera-se, assim, dignas de serem chamadas de feministas aquelas que tem um discurso que se coaduna com as ideias do sujeito e guarda-se o termo “feminazi” pra outras feministas com os quais não concorda. Talvez a pessoa até defenda que “nem toda feminista é uma feminazi” achando que está sendo mais justa. No entanto, está apenas recorrendo a um método antigo de misoginia – a classificação de mulheres – ao mesmo tempo que promove a rivalidade feminina.

O que feminismo tem a ver com o nazismo? Nada. E as pessoas que usam o termo “feminazi” sabem disso. A etimologia da palavra também pouco importa. O efeito que se deseja dela é somente se referir à feministas como extremistas, histéricas, loucas, aos moldes daquelas antigas propagandas antifeministas cujos discursos se propagam até hoje.

Então, o que fazer? Meu conselho seria apenas: não gaste sua saliva com pessoas desse tipo. Felizmente, Charlotte Proudman tem palavras melhores:

“Nós precisamos reconhecer que o rótulo é uma estratégia para colocar feministas na defensiva as fazendo se sentir moralmente obrigadas a distinguir o feminismo do nazismo. E, no entanto, o uso público de termos tais como feminazi enfatiza a necessidade de movimento que traga avanços para as mulheres. Se apropriar de um termo tão deplorável definitivamente não é uma opção. Ao invés disso as mulheres podem reforçar a potência do feminismo identificando-se como feministas. Mas a resposta mais importante para a obscenidade é expor a misoginia sendo usado contra às mulheres”.

*Trechos do artigo publicado no The Guardian foram traduzidos por Vanessa Ribeiro.

Bruna Leão é graduada em Direito pela Universidade de Brasília. Passa seu tempo livre vendo séries de tv, não fazendo dieta e ocasionalmente bebendo uma cerveja porque ninguém é de ferro. Seus livros são sua paixão e um dos seus maiores sonhos é ter uma biblioteca em casa. Mais em crise que o capitalismo. Só é séria no LinkedIn.

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