Uma Coisa Absolutamente Fantástica conta a história de April May é uma garota de vinte e poucos anos trabalhando até tarde em uma start up de tecnologia para entregar um novo aplicativo. Quando finalmente sai do trabalho de madrugada, esbarra em uma escultura gigante. Designer e graduada em arte, April fica imediatamente fascinada com o que vê: trata-se de um robô gigante — de aproximadamente três metros de altura — que mais parece um “transformer”. Imediatamente liga para seu amigo Andy e o chama até lá com seus equipamentos de gravação, afinal, não é todo dia que você pode dar o furo de uma instalação gigantesca de arte no meio de Nova York. Eles gravam o vídeo, no qual April aparece mostrando o robô gigante e acaba até mesmo o nomeando de “Carl” e postam no Youtube.

No dia seguinte, percebem que o vídeo viralizou. O robô gigante que April encontrou em Nova York não é único, mas um entre dezenas espelhados pelo mundo. Por ser o primeiro registro e a primeira pessoa a ter contato com a escultura, April acaba sendo a referência no assunto dos robôs. Eles foram carinhosamente apelidados de “Carl” por do seu vídeo, recebendo também o nome da cidade para distingui-los: tem o Carl Nova York, o Carl São Paulo e por aí vai.

Ilustração representando o Carl, de Zi Xu. Fonte: https://www.sara-alfa.com/

 

A partir daí, April vira uma influencer de destaque. É chamada para entrevistas, suas redes sociais explodem e rapidamente ganha fama o que é um dos pontos importantes abordados nessa história: como pessoas normais viram, de uma hora para outra, referências. As pessoas querem saber o que ela tem a dizer. Ao mesmo tempo em que isso é animador para April, ela se esbalda na atenção que recebe e sente que sua vida finalmente tem um propósito, ela também tem que lidar com aspectos negativos da fama repentina. April May se torna uma marca e, aos poucos, tem que lidar com as nuances dessa nova identidade. Quando você se torna uma marca… o que sobra de quem você realmente é?

Outro ponto positivo de Uma Coisa Absolutamente Fantástica é que April é bissexual e isso é colocado no livro de forma natural e interessante. Seus relacionamentos com mulheres não são romantizados — ela mesma tem reconhecimento da sua dificuldade em se relacionar, em estar próxima de alguém — e a bifobia aparece como poderia acontecer de fato com alguém na vida real.

Estou falando bastante sobre April pois o livro é contato todo em primeira pessoa e sua personalidade sarcástica e jovial é um dos destaques da narrativa. Acompanhamos April já no futuro contando sobre os acontecimentos no passado, tanto o que ocorria na sua vida e a sua reação ao furacão da fama, quanto a investigação do que são os robôs.

O mistério em torno dos Carls, por sua vez, é bastante interessante. Ninguém sabe do que são feitos, como pararam lá. Eles são tão pesados que não conseguem ser movidos e, com o tempo, percebem que seria impossível que uma instalação artística possa ser feita nessa proporção mundial e começam as teorias do que realmente são esses robôs e o que estão fazendo ali.

Isso leva a outro ponto interessante do livro que é a crítica sobre a forma como os debates públicos são construídos. Ocorre uma disputa de narrativas: de um lado, quem acredita que os Carls são algo positivo ou ao menos não apresentam ameaça alguma e, de outro, quem acredita que vieram para causar algum mal. April se torna uma porta-voz do primeiro grupo e em breve encontra um antagonista que representa a posição contrária.

Logo, o embate entre essas posições desembocam em uma série de conflitos. April não é mais apenas a marca, ela é também parte de uma causa. Ou pelo menos algo do tipo.

 

Mas, afinal, o que são os Carls e o que vieram fazer no nosso planeta?

 

 

 

 

 

 

Uma coisa absolutamente fantástica

 

Outras considerações (desta vez com spoilers)

 

Queria começar com os pontos negativos do livro que contém spoilers para depois dizer o que eu mais gostei.

O principal ponto negativo de Uma Coisa Absolutamente Fantástica, ao meu ver, é que April é demasiadamente infantil. Esse é ponto baixo do livro. O autor desde o início reconhece que April não é perfeita e eu não tenho problema algum com personagens que erram, são vulneráveis e até mesmo babacas. Ao mesmo tempo, ela também não foi, para mim, uma daquelas personagens imperfeitas que eu amo ou até mesmo odeio amar. April foi escolhida para ser a primeira pessoa a ter contato com extraterrestres. O que ela tem de especial? No final do livro, ainda não sei o quê. Esse é um aspecto que prejudicou muito a minha leitura porque, afinal, é um livro narrado em primeira pessoa e coloca-se uma protagonista meio chata e mimada acabei achando o livro algumas vezes chato de acompanhar porque April era chata de acompanhar.

A construção de narrativas em torno do que significaria essa visita dos Carls e a disputa de diferentes visões, na minha opinião, é o ponto alto do livro. Afinal, uma história que tem como premissa “o que aconteceria se tivéssemos contato com alienígenas?” não é algo novo, mas essa mesma história pode ser recontada sob diferentes pontos de vista. Em “Uma Coisa Absolutamente Fantástica”, os alienígenas não têm tanta relevância: eles aparecem, na maior parte das vezes, estáticos. O que se move na história e o que move os acontecimentos é muito mais o que as pessoas fazem com o fato que as esculturas estão ali e constroem o que elas representam: invasão? Colonização? Ajuda? União?

O livro nos dá poucas respostas sobre o que efetivamente os Carls vieram fazer ali, mas tiramos muitas lições sobre a humanidade. Mesmo tratando-se de fato de uma invasão de alienígenas, os responsáveis pelos conflitos e ataques contra seres humanos são… os próprios seres humanos. Agrada-me bastante uma história sobre invasão alienígena não girar em torno da invasão, mas sim dos contornos sociais que isso tomaria. Por isso, acredito que Uma Coisa Absolutamente Fantástica valha a pena a leitura, apesar dos pontos que eu acredito que sejam negativos. Bem… essa é apenas a minha opinião… talvez você tenha curtido April May.

 

Sobre Hank Green

 

À esquerda, John Green e, à direita, Hank Green.

 

Hank Green começou a fazer vídeos no Youtube em 2007 com seu irmão, que você provavelmente conhece, John Green (autor de A Culpa é das Estelas, Cidades de papel, entre outros sucessos).

Eu o conheci por seus vídeos no TikTok nos quais ele comenta sobre ciência e cultura pop. Eu acho o seu conteúdo bastante interessante, vale a pena acompanhar.

 

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