Vou contar uma história aqui para vocês.

Quando eu estava solteira, costumava ter encontros casuais como toda jovem de boa saúde.

Eu odiava que dormissem na minha casa, mas eventualmente acontecia.

Como eu acordo muito cedo, porque ODEIO sair de casa com pressa, geralmente quando a pessoa acordava eu já estava pronta pro trabalho e com meu desjejum na mesa: um café preto e um ovinho mexido.

Bicho.

As reações das pessoas à frase “Senta aí, quer comer um ovinho mexido?” eram de puro pânico, pavor e desespero.

As pessoas já se viram peladas em posições nada ortodoxas, mas o fato de existir um café e um ovo na mesa desencadeava uma hecatombe nuclear. Já viam um futuro com nossos filhinhos no plural, férias parceladas e carro de segunda mão com porta mala grande, plano de previdência, natais, imposto de renda, ele envelhecendo, minhas teta caindo, tudo projetado na massa macia e amarela.

Os cara tem uma performance meia boca, geralmente meio beubo, e acham que a mulher quer casar. É muita auto estima, é uma auto confiança inexplicável mesmo. Tudo que a gente quer é proteína e cafeína.

Minha vontade era meter o Freud e falar: às vezes um ovo é só um ovo, mas o fato é que a pessoa estava pensando que eu queria conquistá-la a qualquer custo, quebrando um ovo na frigideira com manteiga e mexendo com a espátula e colocando três colheres de sopa de pó de café na cafeteira.

Mas não conquistar amorosamente, imagino. Conquistar como Colombo conquistou as Américas, conquistar como os espanhóis dizimando as populações pré colombianas. O pavor de envolvimento destrói qualquer resquício de civilidade ou gentileza.

Salvo severa alergia alimentar, se te oferecerem um ovo, amigo, tu come e agradece.

É a única atitude razoável a se tomar.

 

Texto originalmente publicado no Facebook.

Renata Corrêa

 

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