Toda mulher já ouviu alguma história, ou foi a própria personagem, em que um empregador desanima durante a entrevista quando o assunto “filhos” entra em pauta.

Michele Carvalho é um exemplo de como mães também são discriminadas na hora de procurar emprego. “Eu coloquei no currículo que tinha um filho pequeno e não fui nem chamada para entrevistas. Quando retirei essa informação, fui chamada para cinco processos seletivos”, conta.

Esse caso demonstra o chamado “motherhood penalty” ou castigo da maternidade – em tradução livre. O termo foi cunhado por sociólogos para se referir às disparidades percebidas entre mulheres com filhos e sem, como com relação às suas competências, salários e benefícios trabalhistas.

Um novo estudo, da Universidade de Michigan, constata essa discrepância salarial e, assim, confirma o “castigo da maternidade”. O estudo foi feito com base em dados dos Estados Unidos e apontam que a disparidade salarial entre essas mulheres só aumentou de 1986 até 2014, período considerado no artigo [1]. Ao todo, a pesquisa considerou dados de 18 mil pessoas de 1968 até 2014 nos Estados Unidos.

Embora algumas mulheres tenham as mesmas condições de estudos, cargos e experiências, mulheres que são mães ganham cerca de 15% a menos. E quando relacionamos com a quantidade de filhos, a situação fica ainda pior, mulheres com 2 ou mais filhos chegam a receber até 20% a menos. Esta realidade persiste ainda que o número de mulheres com filhos pequenos no mundo do trabalho tenha crescido de 47% em 1975 para 70% em 2015 [2].

A disparidade de salários e tratamento acontece também em relação a homens que também possuem filhos. No entanto, homens são mais remunerados após o primeiro filho, segundo Regina Madalozzo, que conduziu uma pesquisa com 700 moradores da periferia de São Paulo. “De forma geral, eles afirmam que a paternidade os fez mais responsáveis e que os patrões perceberam e os recompensam por isso”, afirma.

E não só em relação aos salários mães saem perdendo. Outros estudos, apontam as desvantagens sofridas pelas mães, que se sobrepõem às discriminações de gênero que já sofrem por serem mulheres.

As pesquisas demonstram que, ao mencionarem que a pessoa em análise é uma mãe, avaliadores a qualificam como menos competente. Da mesma forma, estudos também demonstram que quando uma mulher está visivelmente grávida, são julgadas como menos comprometidas com o trabalho, mais emocional e irracional. Os homens, ao contrário, não são penalizados e algumas vezes até se beneficiam por serem pais [2], seguindo a linha do que foi também constatado por Madalozzo.

 

Porquê isso ocorre?

 

Segundo a pesquisa “Getting a Job: Is There a Motherhood Penalty?” [3], publicado pela Universidade de Chicago, isso ocorre, ao menos parcialmente, porque o que a sociedade culturalmente entende por maternidade convive em tensão o conceito de “trabalhadora ideal”. Isso não ocorre com os homens, pois ser um “bom pai” não é incompatível com o conceito culturalmente construído do que é ser um “bom trabalhador”. Ou seja, puro preconceito.

O resultado dessa percepção para as mães se traduzem em  menores chances de arrumar um emprego, menos chances de promoção na carreira e, como já visto, menores salários.

[1] http://equitablegrowth.org/working-papers/motherhood-penalties/

[2] https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/03/13/maes-ainda-ganham-menos-que-mulheres-sem-filhos-revela-pesquisa.htm

[3] https://sociology.stanford.edu/publications/getting-job-there-motherhood-penalty

[4] https://sociology.stanford.edu/sites/default/files/publications/getting_a_job-_is_there_a_motherhood_penalty.pdf