Outro dia, em um grupo feminista que participo no Facebook, uma mulher levantou a questão: “qual sua opinião sobre sororidade?”. Eu, inocente, acreditei que leria muitos comentários positivos em relação a isso mas, infelizmente, não foi o caso.

Print de alguns dos comentários.

Fotos e nomes foram apagados para proteger a imagem de todas as envolvidas.

A grande maioria das mulheres disse que sororidade é um mito, conto de fadas, não existe, e que muitas vezes é utilizado para passar a mão na cabeça de “manas escrotas”. Admito que isso me entristeceu muito. Me peguei pensando três coisas: será que essas mulheres estão certas? Será que sororidade é um mito? É utópico?; Se não nos  unirmos, se não houve sororidade, como alcançaremos a igualdade de gênero?; Me parece que as mulheres não sabem ao certo o que é sororidade.

Bom, acredito que muitas pessoas que estão lendo este texto já devem saber, mas, para dar uma ênfase ao que está sendo escrito, achei interessante pesquisar o que significa feminismo e sororidade: Feminismo é um movimento político e social que defende a igualdade de direitos (político, social e econômico) entre gêneros [1]. Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Do ponto de vista do feminismo, a sororidade consiste no não julgamento prévio entre as próprias mulheres. (Oficialmente, sororidade ainda não faz parte do dicionário brasileiro.) [2]

Na minha humilde opinião, não existe feminismo sem sororidade. Um complementa o outro em muitas formas. Se não formos empáticas com a luta diária de cada uma, se não nos compreendermos e pararmos de criticar umas às outras, a consequência será dar ainda mais poder ao patriarcado e ainda mais justificativas para a continuidade do machismo.

Pelo que vejo, de uma forma geral, algumas mulheres parecem confundir sororidade com um nível de compreensão e tolerância incondicional. Como se elas não pudessem fazer uma crítica caso a mulher esteja errada, tenha falado alguma besteira ou até tenha agido de forma maldosa (afinal de contas, somos humanas e isso acontece), o que não é o caso. A sororidade é a ideia de que devemos ser mais empáticas umas com as outras e parar de ver a outra mulher como inimiga.

Isso não significa que você precise amar e ser amiga de absolutamente todas as mulheres a sua volta. Amizade e amor ocorrem por afinidade, e as vezes nós simplesmente não nos damos bem com alguém, homem ou mulher. Essa inimizade entre as mulheres é um produto que a mídia vende fortemente e a sociedade compra. Vemos em filmes, novelas e na mídia como um todo, como as mulheres são inimigas e precisam lutar umas contra as outras.

Um exemplo disso é Britney Spears e Christina Aguilera; durante minha adolescência, me lembro de ver uma competição constante entre as duas, em que nenhuma delas participava. Alguém construiu essa competição e vendeu a ideia. Mesma coisa com Madonna e Cindy Lauper. Jennifer Aniston e Angelina Jolie, no caso da traição de Brad Pitt.

 Capa de algumas das revistas sobre a inimizade das atrizes. Na capa da esquerda: “como ela roubou Brad”. Na capa da direita: “12 anos depois…A vingança de Jen”. Passaram-se 12 anos, Jennifer já até se casou novamente! Angelina e Brad já se separaram! E elas continuam rivais…?

 

No caso do Brasil, não podemos nos esquecer de todas as novelas que exploram a rivalidade entre mulheres, como por exemplo a novela Mulheres de Areia (de 1993) que tinha, como história principal, irmãs gêmeas que estavam em constante competição (Raquel e Ruth). Prefiro nem comentar sobre Manoel Carlos pois até rivalidade entre mãe e filha existiu nas novelas dele.

 

Na foto esquerda, Ruth e Raquel, personagens interpretadas por Glória Pires na novela Mulheres de Areia. Na foto direita, Carolina Dieckmann e Vera Fischer interpretavam mãe e filha, apaixonadas pelo mesmo homem, em Laços de Família.

 

Crescemos em uma sociedade que não nos permite olhar para outras mulheres com amor e compaixão. Quantas de nós dizem que preferem ter amigos homens e não se dão bem com mulheres, ou que se sentem ameaçadas quando o parceiro começa uma amizade com uma mulher? Existem muitos motivos para isso ocorrer.

Acredito que um dos motivos principais é a objetificação da mulher, que faz com que, automaticamente, essa competição constante se propague. O outro motivo, que eu acredito ser o mais forte, é pela simples ideia de o patriarcado querer dificultar a nossa articulação como um todo. É aquela famosa e antiga tática de guerra: dividir para conquistar. Enquanto continuarmos divididas, inimigas, rivais, não estaremos unidas a ponto de fazer uma grande mudança na forma como a sociedade enxerga a mulher.

Isso não significa que a sororidade exista da forma como gostaríamos. Ainda temos muito chão para percorrer. Discordar da opinião do outro e querer debater sobre o assunto é normal e até saudável. Mas humilhar alguém na frente de todos não é bacana, e o que vejo atualmente são muitas mulheres atacando umas as outras com esse intuito. Daí entra um dos parâmetros da sororidade: uma mudança de comportamento e forma de pensar são necessárias para que a empatia ganhe um lugar.

Alguns dos comentários que ouvi foi que a mulher está cansada de praticar a sororidade e não ocorrer o mesmo com ela. Mas a sororidade precisa ter um início. Eu cansei de competir, prefiro me unir. É uma prática diária e precisa ser feita. A sororidade existe e nós precisamos dar inicio a essa corrente se quisermos ver uma mudança social real. Para que competir se, no fim, estamos todas em busca de um só propósito: nossa liberdade.

Rachel Alvarez morou 9 anos em Londres retornando ao Brasil há pouco mais de um ano. É feminista, Coach de Vida e fundadora da Coach In Connexion, uma empresa que se dedica a ajudar mulheres a se desenvolverem, em nível pessoal e profissional, para que possam ser as protagonistas de suas histórias. (www.inconnexion.com.br) 

[1] Fonte: https://www.significados.com.br/feminismo/

[2] Fonte: https://www.significados.com.br/sororidade/

 

Curtiu nosso conteúdo?

Como diz Angela Davis, a liberdade é uma luta constante. Falar sobre feminismo é necessário e eles não poderão contar com a comodidade do nosso silêncio! Precisamos falar mais e falar mais alto.

No entanto, para que nossa voz ecoe mais longe precisamos do apoio de pessoas engajadas com essa causa e dispostas a se juntar nessa mobilização. Podemos contar com você?

Apoie a Não Me Kahlo!

Compartilhe...