Crédito: Bruna Rangel

Ainda hoje persistem diversas concepções essencialistas em relação ao que significa “ser mulher”; com relação a “ser mãe” não é diferente. Apesar de considerarem que todas as mulheres têm (ou ao menos deveriam ter) o “dom” para a maternidade ou um instinto materno, “diversas revisões históricas acerca da instituição familiar [3] sugerem que a exaltação ao amor materno é algo relativamente recente [4].  O vínculo maternal “tradicionalmente descrito como ‘instintivo’ e ‘natural’, [é] um mito construído pelos discursos filosóficos, médico e político a partir do século XVII”. [5]

Antes, o que predominava era um sentimento que beirava o desinteresse dos pais em relação aos filhos. Apesar de soar chocante dizer isso, foi exatamente o que Elisabeth Badinter, autora da icônica obra Um Amor conquistado: o mito do amor materno, [6] fez. Um dos capítulos é inclusive intitulado “persistência do desprezo pela criança”, e outro, “a indiferença materna”. Badinter busca justamente provar que o “amor materno” — ou a ideia que temos dele — não permanece imutável ao longo do tempo ou, na expressão utilizada pela autora, não é uma “constante trans-histórica”. [7]

Hoje, a tarefa de cuidar dos filhos recai quase que exclusivamente sobre a mãe. Socialmente, existe um esforço para convencer os pais a “ajudar” a cuidar dos fi lhos, o que acaba reforçando a ideia de que a obrigação é, de fato, da mãe. Essa obrigação vem alinhada com o pensamento de que as mães têm o dever — quase sagrado — de se  devotar aos filhos. No entanto, era comum, por exemplo, no século XVII e sobretudo no século XVIII, que mães deixassem os fi lhos durante longos períodos com amas de leite ou mesmo deixassem que fossem criados em outras famílias. [8]

Os homens se queixavam da amamentação, “como um atentado à sua sexualidade e uma restrição ao seu prazer” [9] , e elas, por sua vez, temiam perder a beleza (a amamentação deformaria os seios,  deixando-os flácidos). Mães da nobreza acreditavam que era indigno amamentar um filho: “Essa negligência tornara-se rapidamente uma marca de distinção para as demais. Amamentar o próprio fi lho equivalia a confessar que não se pertencia à melhor sociedade.” [10] Em outras palavras: amamentar era “coisa de pobre”. Não era de bom-tom e era desaconselhado pelas parteiras, uma vez que “não ficava bem tirar o seio a cada instante para alimentar o bebê. Além de dar uma imagem animalizada da mulher ‘vaca leiteira’, é um gesto despudorado”. [11]

A “moda” pegou. Em 1780, em Paris, que contava com uma população de 800 mil a 900 mil habitantes, nasciam 21 mil crianças anualmente. Dessas, menos de mil eram amamentadas pelas mães, mil eram amamentadas por uma ama a domicílio e as outras, ou seja, 19 mil, eram enviadas para a casa de amas. De duas a três mil crianças eram enviadas a amas próximas de Paris, pois os pais dispunham de melhores condições financeiras, as outras passariam a viver distantes dos pais. [12]

As condições econômicas dos pais também determinavam que algumas crianças tivessem “boas amas” e outras fossem entregues a amas “fracas e miseráveis”. [13] As famílias mais ricas podiam escolher as amas com cuidado, antes mesmo de a criança nascer. Por outro lado, “nas famílias menos ricas e menos célebres, muitas vezes se contrata uma ama sem que tenha conseguido aquilo que se deseja”, [14] e a escolha só se tornava uma preocupação depois do nascimento da criança, quando as famílias percorriam mercados, ruas e casas vizinhas à procura de uma ama. O mais comum era que recorressem às “mensageiras”, uma espécie de intermediária entre os pais e a ama. Badinter as descreve da seguinte forma:

Elas têm uma atividade muito anárquica: “Sem nome, sem domicílio, assistem ao batismo, recebem a  lembrança, levam a criança, entregam-na pelo menor preço, ou a confinam ao primeiro que aparecer… Não dizem à ama o nome da criança… Não dão à família o nome de uma ama que ainda não têm, e que esperam encontrar em seguida”.
Daí a constatação amarga do chefe de polícia de Lyon em 1778:
“Enquanto nossos asilos registram e numeram todas as crianças abandonadas que lhes são entregues — enquanto o caçador marca seu cão com medo de vê-lo trocado; enquanto o açougueiro distingue cuidadosamente os animais destinados a ser abatidos para a nossa alimentação, a criança do povo sai de nossos muros sem certidão de batismo, sem nada escrito, sem que se saiba o que será dela”.
Sua vida depende de uma intermediária que não tem registro e não sabe ler. Se desaparece ou morre, todas as crianças a ela entregues se perdem junto. [15]

Logo depois que “podia prescindir dos cuidados da mãe ou da ama, a criança passava a condição semelhante à do adulto, misturando-se a eles em todas as atividades sociais”. [16] Seu destino era pontuado por três fases: “a colocação na casa de uma ama, o retorno ao lar e depois a partida para o convento ou o internato”. [17] Era um hábito comum na época e não se restringia aos centros urbanos ou à condição econômica dos pais:

A criança viverá no máximo, em média, cinco ou seis anos sob o teto paterno, o que não significa absolutamente que viverá com os pais. Podemos dizer, desde já, que o fi lho do comerciante ou do artesão, como o do magistrado ou do aristocrata da corte, conhecerá uma solidão prolongada, por vezes a falta de cuidados e com frequência um verdadeiro abandono moral e afetivo. [18]

Muitas vezes as crianças morriam por maus-tratos nessas casas [19] ou até mesmo antes de chegar a elas, uma vez que não havia preocupação com a segurança ao transportá-las. Somente a viagem matava de 5% a 15% das crianças, dependendo da estação do ano. [20] Morriam de frio, de fome, por acidentes ou por completa negligência:

Garden conta alguns casos que figuram nos relatórios da polícia de Lyon ou de Paris sobre essas horríveis condições de transporte. Uma intermediária leva seis bebês numa viatura pequena, dorme e não percebe que um bebê cai e morre esmagado por uma roda. Um transportador carregado de sete lactentes perde um deles, sem que se possa saber o que foi feito do bebê. Uma velha encarregada de três recém-nascidos afirma não saber a quem os destina. [21]

As negligências são se restringem às viagens ou às condições de transporte da época e continuam a ser comuns nas casas das amas. As crianças poderiam morrer pela dose excessiva de algum dos medicamentos comuns “para fazer a criança dormir e ficar tranquila”. [22] Também sofriam de males como “acidez, cólicas, diarreias verdes, convulsões ou obstruções e febres”, [23] causados pela falta de cuidado com sua alimentação, que podiam levar à morte.

Quando a alimentação não era fatal ao bebê, ele tinha ainda de vencer um mal temível: a sujeira e a falta do mínimo de higiene. O médico Raulin, entre outros, pinta um quadro catastrófico da criança atolada nos próprios excrementos durante horas, por vezes dias inteiros, ou mais. As amas deixavam por vezes transcorrer semanas sem trocar as roupas da criança ou a palha sobre a qual ela se deitava. [24]

O que dizer, então, da mãe que deixava o filho nessas circunstâncias? Era muito comum que as mulheres nem mesmo buscassem se informar sobre como estavam os filhos. Claro, não podemos ignorar que grande parte dessas mães não sabia ler nem escrever cartas, mas o que dizer das que podiam e, mesmo assim, não o faziam? Ou que poderiam ao menos visitar a criança, mas não visitavam? Ou mesmo aquelas que, recebendo notícia da morte de um filho ou vendo o estado em que a criança lhes era entregue, continuavam mandando outros filhos às mesmas amas? [25]

O desinteresse não é apenas percebido pelo fato de os pais deixarem essas crianças serem criadas longe e em péssimas condições, mas também pela pouca importância que se dava à sua morte. Se hoje percebemos a morte de um filho como a maior tragédia que pode acontecer na vida de uma mãe, as coisas nem sempre foram assim.

Em sua tese, François Lebrun escreve: “No plano humano, a morte da criança é sentida como um acidente quase banal que um nascimento posterior virá reparar.” Isso chama a atenção para a menor intensidade do amor que a mãe dedicava a cada um dos filhos. Philippe Ariès justificou essa insensibilidade como algo que “é apenas muito natural nas condições demográficas da época”. Natural ou não, a insensibilidade aparece cruamente nos anais domésticos do século XVIII. Nesses diários familiares nos quais o chefe da família registrava e comentava todos os acontecimentos ligados à família, são consignados os falecimentos dos filhos o mais das vezes sem comentários, ou com algumas fórmulas piedosas, que parecem inspiradas mais pelo sentimento religioso do que pelo sofrimento.

A criança só conhecia de fato os pais aos 5 anos de idade, época que voltava da casa da ama. Se a família tinha melhores condições financeiras, logo a criança era entregue a uma governanta ou, no caso dos meninos, a um preceptor. Os irmãos Goncourt, escritores franceses do século XVIII, descrevem as relações entre mãe e fi lha como nada além de “uma visita fútil de conveniência, iniciada e encerrada geralmente por um beijo no queixo da mãe, para não estragar-lhe o ruge”. [26] Chegada a idade adequada, normalmente aos 6 ou 7 anos, as crianças eram enviadas para os internatos [27] ou, no caso das meninas, os conventos. [28]

No Brasil, a cultura das amas fazia parte do contexto da era escravagista e do pós-abolição. Mas, ao contrário do que era comum na Europa e nos Estados Unidos, onde as crianças eram levadas para a casa de suas cuidadoras, no Brasil elas costumavam ser criadas em suas próprias casas. As mulheres negras, escravizadas e depois libertas com restrições à busca por empregos e às possibilidades de desenvolvimento social, cuidavam das crianças brancas, muitas vezes preterindo forçadamente seus próprios bebês. A contradição era que, se por um lado o imaginário popular acreditava que negras “corpulentas” produziam um leite mais forte e nutritivo do que o das mulheres brancas, muitos médicos higienistas do século XIX passaram a recomendar que bebês brancos fossem amamentados pelas próprias mães para evitar doenças, que os profissionais de saúde acreditavam que pudesse ser transmitidas às crianças pelas amas de leite. Sandra Koutsoukos [29] apresenta a dinâmica da negociação
de mulheres negras por seus proprietários, e o que era considerado na valorização do serviço:

Por sua vez, o aluguel de uma ama de leite cativa rendia uma boa quantia mensal ao senhor que tinha uma ama escrava para alugar. Em alguns anúncios de venda ou aluguel, o proprietário fazia questão de frisar que a ama não tinha “vícios ou moléstias”. Uma ama com “bons costumes” (o que era também entendido como “obediente”), que fosse ainda “carinhosa e fiel”, podia ser garantia de que o bebê estaria em boas mãos. Por vezes era ressaltado o fato de que ela havia “parido recentemente”, ou seja: que o leite era novo. Outras vezes era ressaltado que o leite era de “primeira cria”, o que para muitos médicos higienistas significava um leite mais puro, mas também indicava que a candidata a ama talvez fosse inexperiente no trato com bebês. [30]

A atenção da medicina às pautas acerca da maternidade levou a uma reflexão profunda, porém restrita a mulheres de classes mais altas, enquanto as mulheres pobres e negras eram negligenciadas. Percebemos, por toda essa análise histórica feita por Badinter, que não havia preocupação com a criança como temos hoje, tanto com relação à medicina (a pediatria só surgiu tempos depois) e aos cuidados em geral, quanto em relação aos direitos da criança. Elas eram vistas como um estorvo, de forma que até mesmo “um médico, Moreau de Saint-Elier, afirmava em meados do século XVIII que o cuidado dos filhos ‘é um encargo constrangedor na sociedade’”. [31] Além disso, vemos também que esse vínculo afetivo entre mãe e cria, tão enaltecido hoje e naturalizado como instintivo, simplesmente não existia. Então, se hoje temos a ideia tão sedimentada de que a mãe é responsável pela criação do filho e a maternidade é um presente divino, de onde isso surgiu?

 

Ser mãe é padecer no paraíso

 

Já a partir do século XVII “algumas transformações indicam a emergência de um novo sentimento familiar associado à valorização [32] da infância”. [33] Essas mudanças foram lentas e também encontraram resistência, de forma que ficam mais evidentes apenas no final do século XVIII.

Dessa forma, em defesa da criança, dois diferentes discursos confluíram para modificar a atitude da mulher em relação aos filhos: (1) um discurso econômico, [34] apoiado em estudos demográficos, que demonstrava a importância do número da população para um país e alertava quanto aos perigos (e prejuízos) decorrentes de
um suposto declínio populacional em toda a Europa; e (2) uma nova filosofia — o liberalismo — que se aliava ao discurso econômico, favorecendo ideais de liberdade, igualdade e felicidade individual. [35]

Essa nova filosofia, preconizada pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau, representou uma verdadeira mudança de paradigma, dando um novo significado ao que era “ser mãe”, que começou pela alteração do próprio significado de família, conjugado aos novos valores iluministas. Para Rousseau, a “mais antiga das sociedades, e a única natural, é a da família e, ainda assim, os filhos só permanecem ligados ao pai enquanto precisam dele para subsistir. Logo que essa necessidade cessa, o laço natural se dissolve”. [36] Assim, após a dissolução desse “laço natural”, se a família
continua unida, “isso já não ocorre naturalmente, mas voluntariamente, e a família só se mantém por  convenção”. [37] Dessa forma, o apego, o amor e a liberdade passam a ser os fundamentos da união familiar, e não mais
os laços naturais. Essa é uma grande mudança de perspectiva, principalmente levando em consideração os efeitos disso sobre o casamento. Os novos valores de liberdade, aliados aos também novos ideais de busca da felicidade, fazem nascer o casamento fundado no amor. E, se essa união deve ser voluntária e pautada na liberdade e no amor mútuo, a figura da esposa também muda: de Eva, a traiçoeira, para Maria, a doce mãe e esposa. E, ao lado da
esposa amorosa, os filhos passam a ser os frutos desse amor.

A procriação é uma das doçuras do casamento: e que seria mais natural do que amar em seguida os seus frutos? Quando os esposos se escolheram livremente, o amor que sentem um pelo outro vai se concretizar naturalmente em sua prole. Os pais amarão mais os fi lhos, e as mães, dizem, retornarão livre e espontaneamente a eles. Pelo menos, é essa a nova ideologia da qual Rousseau foi um dos melhores representantes.
Desse ponto de vista, exaltam-se interminavelmente as venturas da maternidade, que deixa de ser um dever imposto para se converter na atividade mais invejável e mais doce que uma mulher possa esperar desempenhar. [38]

É aqui que começa a se formar a noção de família que perdura até hoje. Aos poucos, a amamentação, antes relegada às amas de leite, passa a ser valorizada como um laço entre mãe e filho. Os pais são cada vez mais responsabilizados pelos cuidados com os filhos e, a partir daí, a responsabilidade da mãe passa a ser mais cobrada. Surgem publicações recomendando que elas cuidem pessoalmente dos próprios filhos, um discurso tanto médico quanto filosófico, que impôs essa obrigação e atribuiu ao amor materno “um valor ao mesmo tempo natural e social, favorável à espécie e à sociedade”. [39]

“A ampliação das responsabilidades maternas fez-se acompanhar, portanto, de uma crescente valorização da mulher-mãe, a ‘rainha do lar’, dotada de poder e respeitabilidade, desde que não transcendesse o domínio doméstico.” [40] Reforçou-se, assim, uma importância que a mulher até então nunca havia tido. Desse modo, essas mulheres “julgaram conquistar o direito ao respeito dos homens, o reconhecimento de sua utilidade e de sua especificidade. Finalmente, uma tarefa necessária e ‘nobre’, que o homem não podia, ou não queria, realizar”. [41] Essa tarefa era a de ser responsável, por natureza, por formar o cidadão. Até hoje esse enaltecimento perdura. No entanto, essa “valorização” se transformou em culpabilização:

Graças à psicanálise, a mãe foi promovida a “grande responsável” pela felicidade de seu rebento. Missão terrível, que acaba de definir seu papel. Sem dúvida, esses encargos sucessivos sobre ela lançados fizeram-se acompanhar de uma promoção da imagem da mãe. Essa promoção, porém, dissimulava uma dupla armadilha, que será por vezes vivida como uma alienação. Enclausurada em seu papel de mãe, a mulher não poderá evitá-lo, sob pena de condenação moral. [42]

A partir do momento que a maternidade é considerada parte da essência feminina, não seguir essa predefinição do que é “ser mãe” é ir contra a natureza. Nesses casos, a mulher passa a ser a mãe desnaturada. É o que também percebe Carolina Pombo em A mãe e o tempo: ensaios da maternidade transitória:

Todo mundo tem uma palavra para completar a frase ser mãe é… E basta engravidar para ser incluída na categoria. É por isso que quando a grávida não corresponde à qualidade materna esperada, ela não perde o rótulo, mas ganha um complemento: passa a ser a mãe desnaturada. É interessante o que essa expressão guarda. Se a minha atitude em relação à criança que eu pari não for coerente com o que meu interlocutor considera adequado para uma mãe,
imediatamente a natureza é convocada para explicar o fenômeno. [43]

Essa “qualidade materna esperada” está associada a um contexto social e histórico, precisamente o que Badinter argumentou em Um amor conquistado: o mito do amor materno. Nesse sentido, o movimento feminista, que sempre procurou desconstruir os conceitos naturalizados do que é “ser mulher”, volta sua atenção também para a maternidade. Isso quer dizer que nós, feministas, pensamos a maternidade como algo relacionado não apenas ao corpo, como a gestação, o parto, a amamentação, mas também às construções sociais que envolvem o tema. Ou seja, buscamos nos distanciar do pensamento, comum durante muito tempo, de que a maternidade é uma “função feminina por excelência, concernente à natureza da mulher”.  [44]

Essa publicação é um pequeno trecho do artigo “Desmistificação da Maternidade: o verdadeiro desafio de ser mãe”, disponível no nosso livro #MeuAmigoSecreto: feminismo além das redes.

 

[3] Ariès, 1981; Badinter, 1985; Chodorow, 1990; Donzelot, 1986 apud Moura; Araújo, 2004.
[4] Moura; Araújo, 2004.
[5] Ibidem.
[6] Badinter, 1985.[
[7] Ibidem, p. 86.
[8] Antes do século XVII era comum que as famílias trocassem “reciprocamente seus fi lhos, para servirem como criadas ou aprendizes” (Badinter, 1985, p. 131). Badinter critica o fato de as crianças terem que sair de casa para aprender algo que os próprios pais poderiam ensinar. Ela afirma que “esse uso mostra que é mais fácil ser bom patrão do que bom pai. Como se, ao intervirem os laços de sangue, as relações se tornassem mais difíceis…” (Ibidem, p. 132).
[9] Badinter, p. 97.
[10] Ibidem, p. 96.
[11] Ibidem, p. 97.
[12] Ibidem, p. 68.
[13] Ibidem, p. 68.
14 Prost de Royer apud Badinter, 1985, p. 121.
15 Badinter, 1985, pp. 121-122.
16 Moura; Araújo, 2004.
17 Badinter, 1985, p. 119.
18 Ibidem.
19 Badinter cita o caso, por exemplo, da ama Marie Bienvenue, que deixou morrerem 31 crianças em cerca de 14 meses.
20 Badinter, 1985, p. 123.
21 Ibidem, p. 122.
22 Ibidem, p. 123.
23 Ibidem, p. 124.
24 Ibidem.
25 É necessário, aqui, fazer um recorte de classe. Existiam mulheres muito pobres que não viam outra alternativa além de enviarem seus filhos às amas, uma vez que tinham que trabalhar e um filho impossibilitava ou dificultava que exercessem suas profissões. O que importa salientar, no momento, como afirma Badinter em sua obra, é que nesses casos o “instinto de vida”, ou seja, a sobrevivência, foi superior ao “instinto materno” (Badinter, p. 73).
26 Ibidem, p. 129.
27 Badinter vê com restrições a ideia de que a colocação das crianças em internatos teria se dado por um novo valor atribuído à educação na época e, assim, seria uma prova da importância que passou a ser conferida à criança. Ela diz que “é fora de dúvida que o desejo de educação e instrução é sinal de interesse pela criança” (Badinter, p. 132) e que seria um meio de promoção social aos que não nasciam nobres, mas “se considerarmos a atitude geral dos pais para com os filhos, e notadamente a indiferença e o egoísmo que pudemos observar, somos tentados a ver no envio para a escola, e sobretudo para o internato, um meio moralmente honroso de livrar-se deles” (Ibidem, p. 133).
28 Segundo Badinter, “os conventos onde são instaladas as meninas à espera de casamento são a melhor prova dessa indolência dos pais, o meio de que dispõem para se livrarem das fi lhas”. Eram deixadas no local desde os 6 anos, sendo visitadas raramente, à espera de um marido. “Se nenhum marido se apresentava para as pobres, não era raro que as moças fossem deixadas no convento para vestir o hábito” (Ibidem p. 134) e, quando voltavam, a ideia era que se casassem rapidamente.
29 Koutsoukos, 2012.
30 Ibidem, p. 189.
31 Badinter, 1985, p. 99.
32 Como, por exemplo, “a modifi cação dos hábitos educacionais, passando-se da aprendizagem cotidiana exercida no ambiente doméstico à escolarização maciça da infância e a modificação da condição de transmissão de bens, passando-se a reconhecer a igualdade entre os fi lhos no direito à herança”. Moura; Araújo, 2004, p. 46.
33 Ariés apud Moura; Araújo, 2004.
34 Badinter ressalta que passam a perceber a criança como, “potencialmente, uma riqueza econômica” (p. 153) e que essa valorização teria se dado também por interesse no poderio militar do Estado. Segundo a autora, a nova ideologia da época pode ser verificada em uma citação de Diderot de 1770, na qual ele afirma: “Um Estado só é poderoso na medida em que é povoado (…) em que os braços que manufaturam e os que o defendem são mais numerosos” (p. 154).
35 Moura; Araújo, 2004, p. 46.
36 Rousseau apud Badinter, p. 164.
37 Ibidem.
38 Ibidem, pp. 177-178.
39 Ibidem.
40 Moura; Araújo, 2004, p. 47.
41 Badinter, 1985, p. 147.
42 Ibidem, p. 238.
43 Pombo, 2013, p. 15.
44 Moura; Araújo, 2004.

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