Vendo feministas transfóbicas tratando os meninos trans por mulheres ou fêmeas e dizendo que a opressão na sociedade é a quem tem vagina, eu sempre me pergunto o seguinte:

Conheço meninos trans dos 4 cantos do Brasil, estou há um bom tempo na militância e jamais conheci um menino trans que me dissesse que se sentia respeitado sendo tratado por mulher ou fêmea, ainda que feministas transfóbicas insistam em tratá-los assim.

Pelo contrário, conheço muitos meninos trans que dizem ser discriminados por essas mesmas feministas. Tampouco conheço meninos trans que estejam fazendo questão de estarem em grupos feministas, ainda que feministas transfóbicas os usem como token.

Todos meninos trans que conheci até hoje dizem que querem receber o mesmo tratamento que qualquer outro homem, nem a mais e nem a menos.

Aliás, também acho interessante ver mulheres cis falando pela vivência dos meninos trans como se a vida de uma mulher cis e de um menino trans fosse a mesma. Eu, por exemplo, não autorizo homens cis a falarem por mim pois não temos a mesma vivência.

E bem, dado que a sociedade reprime as mulheres cis por terem uma vagina, por que será que no caso das mulheres trans, ainda que não tenhamos uma vagina, 90% precisa prostituir no Brasil? Vou repetir o número: NOVENTA POR CENTO do grupo que eu pertenço (travestis e transexuais) se prostitui no Brasil. E veja, a prostituição não está no nosso DNA tampouco é um gene com que nascemos.

Por que será que o Brasil é campeão mundial de assassinato de travestis e mulheres transexuais por crimes de ódio, ainda que não tenhamos uma vagina?

Por que será que somos expulsas do mercado de trabalho, ainda que não tenhamos uma vagina?

Por que será que somos expulsas da casa dos nossos pais, ainda que não tenhamos uma vagina?

Por que será que somos expulsas dos bancos das escolas, ainda que não tenhamos uma vagina?

Um feminismo que me exclui como mulher, que não me autoriza como mulher, não é feminismo, é transfobia. E acho bastante curioso que essas feministas transfóbicas digam que só mulher tem legitimidade para dizer o que é machismo e identificar machismo, mas elas se achem no direito de vedar a nós, pessoas trans, que sofremos transfobia, a dizer o que é transfobia e identificar onde está ocorrendo transfobia.

Toda uma coerência.

 

Daniela Andrade
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