“Nenhum homem é o ato em si, pois converge diversos acontecimentos, incluindo aqueles que o precede”

Segundo Hannah Arendt, a banalidade do mal é o fenômeno da recusa do caráter humano do homem, alicerçado na negativa da reflexão e na tendência em não assumir a iniciativa própria de seus atos. A violência e a dominação social e política são conceitos relacionados ao processo descrito por Arendt, assim como o conceito de ética (entendido como o estudo do comportamento moral).

Quando o individuo se afasta da responsabilidade e do domínio de suas atitudes, pensamentos e comportamento, fatalmente, não realiza o exercício da reflexão, desconectando-se do sentido do que é ser humano. O campo ético é “engolido” pela visão limitada e empobrecida dessa relação, está, portanto, instalado o estado de banalização do mal, no qual nem a violência ou a agressividade perturbam a ordem social. Partindo desse pressuposto, é possível compreender como a sociedade consegue se manter mesmo diante de situações caóticas, como foi o nazismo, as grandes guerras e, atualmente, a desigualdade social e o levante fascista.

Dizer que nossa época é pobre de pensamentos, significa dizer que estamos presos em um modelo de organização social no qual não há interação com a subjetividade do outro. Nossa percepção do que é ser humano está limitada pelo movimento de alienação e banalização do mal.

O ser contemporâneo se relaciona com a imagem fabricada de si, distanciando-se cada vez mais de sua essência humana. A mídia e as redes sociais acabam sendo os facilitadores desse processo de dissociação. Este, para Arendt, seria um dos aspectos do fenômeno de banalização do mal, tendo em vista que não pensar a respeito de sua existência quanto humano fortalece a propagação dessa imagem inumana.

Figuras políticas, como o presidente Jair Bolsonaro, aproveitam a lacuna da base ética social para propagar a sua ideologia, que, na verdade, é em si uma agressão a existência humana. Similaridades podem ser observadas nas falas do presidente e de Adolf Eichmann (descrita no livro “Eichmann em Jerusalém”, de Hannah Arendt), como a fala vazia e redundante, a incongruência e o teor de propaganda de um ideal que parece pouco sólido perante uma análise crítica.

Através do conceito da filósofa alemã, é possível compreender como um político que propaga aspectos negativos e não éticos possuí tantos apoiadores; viemos de um processo (de sucesso) de negativa de nosso caráter humano.

 

Tayla Castro Molina
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