Pisei em terras astecas, no México; contemplei o mais lindo pôr-do-sol, em Porto Alegre; aprendi sobre humildade, em Santa Catarina; sobre liberdade, no Uruguai, me apaixonei perdidamente, em Foz do Iguaçu; subi o morro e conheci uma nova periferia, em Belo Horizonte.

Enfim, conheci gente de todas as cores e histórias de vida pela América Latina. Encontrei, e continuo encontrando no outro muito aprendizado e nas paisagens memórias que ninguém jamais será capaz de me tirar.

Mas para viver todas estas experiências incríveis, viajo sozinha e levo comigo coragem. Só que não deveria ser assim. No mundo ideal, onde houvesse igualdade de gênero e segurança para todos, eu viajaria apenas levando dentro de mim liberdade. Sonho com este mundo, mas, enquanto isso, continuo levando comigo ela: a coragem.

Ela me acompanha desde a minha primeira viagem solo. O destino era Córdoba, na Argentina, e lembro do medo, da ansiedade, e dos pesadelos um dia antes de embarcar. Conclui que precisaria leva-la comigo, pois não havia outra maneira. Sem ela, eu não descobriria o que o mundo poderia me oferecer.

A verdade é que não é tão difícil viajar só, pois, nós, mulheres, nascemos e crescemos com a coragem. Mesmo em nosso próprio território, precisamos dela muitas vezes. É ela que nos impulsiona a quebrar o status quo. É ela que nos faz querer ocupar espaços que antes nos eram negados.

Foi por meio dela que sai da minha zona de conforto e percebi que algo estava errado. A coragem me fez perceber que mulheres viajando sozinhas ainda é algo que gera estranhamento. “Corajosa você, hein!”. “Olha, o mundo é perigoso. Cuidado!”. “Você é louca?”. “Coitada. Não tem ninguém para viajar”.

As palavras já demostram o que quero dizer, certo? Pois é. Ainda hoje mulheres viajando sozinhas são rotuladas como loucas, corajosas ou coitadas. É difícil encontrar pessoas que façam a leitura correta: mulheres viajando sozinhas estão apenas exercendo o direito de ir e vir.

Enfim, seguimos ocupando.

A coragem também me fez perceber que, além dela, eu precisaria de outra característica para seguir minhas viagens: a precaução. Infelizmente, não posso me dar ao luxo de simplesmente ir para qualquer lugar livremente. É necessário pesquisar, conversar com outras mulheres viajantes, ter cuidado, não confiar 100% nas pessoas que conheço.

Ou seja, uma série de cuidados que homens viajantes, geralmente, não precisam. As precauções existem, pois o medo de virar estatística, infelizmente, ainda persegue mulheres que viajam só.

Não posso generalizar. É verdade, há exceções. Já conheci mulheres que se jogam neste mundão sem medo, mas a regra ainda é ter cuidado por onde se pisa. A ocupação não é total. Ela ainda exige uma série de cuidados que muitas vezes limitam a experiência de viagem.

Contudo, continuo, e outras mulheres também, firme. Ainda que não leve comigo liberdade, não desisto de seguir querendo saber o que a além de cada fronteira, o que cada povo pode me ensinar e que cada paisagem pode me proporcionar.

Diante disso, convido vocês, leitoras do Não Me Kahlo, a seguir comigo a partir de hoje. Todo mês, publicarei um artigo neste espaço. Meu objetivo por aqui é somente um: inspirar, por meio das minhas histórias de viagem, mais mulheres a descobrirem sozinhas todas as coisas boas – e ruins também -, de ir além da própria fronteira.

Por fim, fico por aqui, mas volto no próximo mês.

Hasta luego, guapas!

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