“Se Quiser Mudar o Mundo: um guia político para quem se importa” (Ed. Planeta) é o segundo lançamento da socióloga e youtuber Sabrina Fernandes, após o sucesso de “Sintomas Mórbidos” (Ed. Autonomia Literária). Se no primeiro Sabrina mergulha nos mares densos da análise da esquerda brasileira, fruto de suas pesquisas empíricas acadêmicas, em Se Quiser Mudar o Mundo ela nos pega pela mão, enche nossa boia de braço e nos leva cuidadosamente para desbravar esse oceano.

Nascida em Goiânia, a autora é mestre em economia política e doutora em sociologia pela Universidade Carleton, no Canadá e atualmente faz pós-doutorado na Fundação Rosa Luxemburgo, na Alemanha, para onde está de mudança em breve. O currículo de peso certamente contribui para o sucesso do seu canal Tese Onze, no Youtube, que já angaria mais de 350 mil inscritos. Porém, a bagagem teórica explicaria seu sucesso sem outra coisa: didática. A união da base teórica com a didática tornam o canal um ótimo espaço de formação política marxista, como se propõe.

Tese Onze, o nome do canal, faz referência às Teses sobre Feuerbach de Karl Marx, sendo que a décima primeira diz: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Ao que tudo indica, o canal e, agora, também este livro, são formas que Sabrina encontrou de utilizar seus conhecimentos como força de transformação do mundo ao transformar pessoas. Ao menos dar um pontapé inicial para essa transformação.

 

Por um tempo eu achava que ter didática era quase como um super poder. Não entendia como professores muito conceituados da faculdade não eram tão bons em transmitir seu conhecimento e alguns que não eram tão renomados eram melhores professores. Nada me tirava da cabeça que algumas pessoas tem um talento inato para isso. Com o tempo descobri que didática era estudo, teoria e prática. E quanto mais estudo e prática, mais parece que é um talento natural. Digo isto porque Sabrina Fernandes tem uma didática incrível que parece tão natural que é quase imperceptível todo o trabalho que está por trás.

E se isso é verdade para as explicações contidas no canal Tese Onze, eu acredito a didática em Se Quiser Mudar o Mundo é ainda mais admirável. Talvez essa tenha sido minha impressão pela minha preferência pelo formato do livro ao invés de vídeos (me permite maior concentração), mas o fato é que a leitura flui em meio a explicações de questões às vezes difíceis de serem explicadas. Por exemplo, o trecho em que é abordado a dialética em Hegel para explicar o que é materialismo histórico e dialético é uma das melhores partes do livro. Mas a própria organização das ideias no livro, onde está cada informação e como estão conectadas me fazem acreditar que talvez não seja só eu e a Sabrina realmente tenha uma facilidade maior na escrita.

 

 

E sobre a organização do livro, vale a pena falar um pouco mais porque quando eu comprei não sabia o que esperar. O livro é dividido em três partes: “O desejo de mudar o mundo”, “Ferramentas para mudar o mundo” e “Você e a mudança do mundo”. Na primeira parte, somos introduzidas ao tema e preparadas para o que vem pela frente. Afinal, se queremos mudar o mundo, que tipo de mudanças são essas como fazer isso? A segunda parte oferece “apoio pedagógico para o desenvolvimento de discussões ao redor de certos conceitos políticos”. Sobre a analogia que usei no início, Sabrina nos pega pela mão e enche nossa boia do braço, mas quem precisa dar as primeiras braçadas é o leitor. Como ela mesma diz “não é possível simplesmente absorver a habilidade alheia de analisar a realidade”. Nesta parte, o livro nos fornece explicações, exemplos e analogias para que primeiro possamos entender os conceitos e depois que possamos fazer caminhar por conta própria depois. Mas não sozinhos. Na última parte, aprendemos sobre a importância da organização política e as formas de se organizar, afinal, como diz a autora, “nenhuma pessoa muda o mundo sozinha”.

Portanto, é um livro bastante introdutório e é um bom guia para quem quer começar a entender de política a partir de uma perspectiva ecossocialista, que é a proposta na qual a Sabrina Fernandes se identifica. A leitura é organizada para explicar conceitos e fazer refletir. Quem não está no nível introdutório do debate ainda pode certamente aprender com a leitura, senão com os conceitos certamente pela forma como são apresentados, afinal, saber se comunicar também deve ser aprendido (e estudado a partir de Sabrina Fernandes).

Ah, uma última dica! Para continuar suas leituras após Se Quiser Mudar o Mundo, não precisa ir nem muito longe: as referências utilizadas e listadas ao final do livro são um prato cheio.

 

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