Certo dia li uma crônica de Rubem Braga “homem no mar” onde ele admira de sua varanda um homem a nadar no mar e mesmo sem ter algum tipo de comunicação com ele, o apoia em silêncio. Bom, isso já aconteceu comigo inúmeras vezes. Inclusive hoje.

Tudo começou de manhã. Estou tentando colocar uma corrida ou caminhada matinal na minha rotina diária, já que chegou a primavera e o friozinho está mais ameno, ou seja, menos doloroso para acordar de manhã. Além disso, fui privilegiada em morar perto de um parque urbano, que apesar de pequeno, é bem gostoso e arborizado.

Café, ovos e tudo continua igual. Meia, tênis, e claro, não posso esquecer meus fones de ouvido. Pego minhas chaves e minha disposição (que pela manhã não é muita). E lá vamos nós!

Ainda tenho uma caminhada até chegar ao parque. Então os fones são cruciais para me animar e estimular nessas horas. A playlist varia e depende do humor. Mas normalmente escolho algo como anos 80 ou meu clássico indie rock.

Na crônica de Rubem Braga, ele apoiava um homem sem ele saber. No meu caso, eu fui apoiada. Estava lá correndo e já sem forças, olhei uma moça de cabelo rosa. Fiquei admirando os cabelos coloridos voando num rabo de cavalo e fiquei lembrando das inúmeras vezes que sempre quis pintar o cabelo quando pequena e acabava pintando com papel crepom. (Quem mais fazia isso?). O problema é que a cor saia logo na primeira lavagem.

Bom, depois de avistada a menina de cabelo colorido, ela foi meu ponto de referência para continuar correndo. Ela, diferente de mim que corro, caminho um pouco, corro e assim vai, ela corre continuamente sem parar. Então naquele dia, eu corri muito além do que estava acostumada só porque fiquei focada nela como minha referência.

Sem ela saber, ela me estimulou e me apoiou a ir além. E que sensação gostosa foi superar os limites na corrida. Você se sente capaz de dominar o mundo e fazer tudo o que quiser, afinal, você conseguiu.

Mas eu fiquei pensando “e se alguém tiver se inspirando em mim?”, “e se alguém tiver focando em mim como referência?”. Aí pronto, veio toda aquela nóia que vocês já sabem. Isso porque eu reparei que tem um tempo considerável que não venho compartilhar minhas palavras, minhas dores e minhas crônicas por aqui.

Não teve um motivo concreto, apenas a rotina me engoliu e eu fui deixando o caos me levar. Mas como é algo que me faz bem e eu senti falta, resolvi voltar para contar essa história para vocês.

Então, continue a nadar ou a correr, alguém pode estar se inspirando em você. E caso você esteja se inspirando em mim, fica tranquilo que eu voltei!

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