Filha de pais ganenses, Michaela Coel nasceu em 1 de outubro de 1987 e criada em Tower Hamlets, bairro de Londres, na Inglaterra, por sua mãe devota da igreja pentecostal. Foi daí a sua inspiração para a peça “Chewing Gum Dreams”, que lotou o National Theatre londrino. A peça foi descrita pelo The Guardian como um “olhar efervescente na adolescência”, um monólogo sobre “amizade, sexo, raça e autoconfiança vacilante”.

O sucesso estrondoso chamou atenção da gigante de streaming Netflix. “Chewing Gum Dreams” se transformou na série “Chewing Gum”, escrita e protagonizada pela própria Michaela Coel. A série foi premiada pela Royal Television Society Awards e pela British Academy Television Awards.

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Pôster da série Chewing Gum

Divulgação/Netflix

 

A parceria com a Netflix poderia ter sido duradoura, mas agora Michaela estreia sua nova série na concorrente HBO.

Michaela contou à Vulture que recusou um contrato de 1 milhão de dólares da Netflix. Coel comentou que em conversa com uma executiva da Netflix, exigiu 5% dos direitos autorais. “Houve apenas um silêncio no telefone. E ela disse: ‘Não é assim que fazemos as coisas aqui. Ninguém faz isso, não é grande coisa. Eu disse: ‘Se não é grande coisa, então eu realmente gostaria de ter 5% dos meus direitos”. A empresa não entrou em acordo sobre uma porcentagem de seus direitos autoriais.

O azar de um é a sorte de outro, então a série acabou com a BBC, que prometeu a Michaela total controle criativo e os direitos autorias. A HBO entrou como co-produtora depois.

O nome dessa nova série é “I May Destroy You”, provavelmente o melhor trabalho de Michaela até o momento e certamente uma das melhores séries deste ano.

 

 

A série centra-se em Arabella, uma jovem escritora, que está trabalhando arduamente para entregar o rascunho do seu segundo livro, que vem após o sucesso estrondoso do primeiro. Já à noite, depois de tentar escrever e percebendo que não sai nada, ela resolve fazer uma pequena pausa e encontrar alguns amigos em um bar. O que era para ser uma saída rápida, vira uma noite inteira. Ela ainda assim cumpre o prazo e entrega para seus editores um rascunho na reunião do dia seguinte. Eles perguntam porquê o corte em sua cabeça… ela não se recorda. Ela vê o celular quebrado… mas também não se recorda como isso ocorreu. Aos poucos, ela tenta reconstituir o que aconteceu na noite anterior.

Esta não é uma história de uma pessoa que bebeu demais, festejou até dizer chega e não lembra de nada. Arabella se dá conta que em algum momento foi dopada e estuprada. Ela precisa, então, questionar tudo o que aconteceu naquela noite. E seus amigos que estavam lá? Deixaram ela só? Como ela chegou em casa? Ao tentar reconstituir esses acontecimentos, Arabella também tenta reconstruir algo no seu interior que está quebrado.

O enredo pesado é contraposto com a forma única que Michaela tem de contar uma história, que mistura humor, leveza, e, sim, um tapa na cara também. É uma história certamente representa a realidade de muitas mulheres que sobrevivem à violência sexual, mas é uma história que representa principalmente a própria Michaela. É a sua história.

Quando ela escrevia a segunda temporada de Chewing Gum, Michaela deu um tempo do trabalho e saiu com amigos para beber e se divertir. No outro dia, ela acordou apenas com flashbacks de memória do que havia ocorrido na noite anterior. Ela percebeu que haviam batizado sua bebida e ela havia sido estuprada. “Eu levei dois anos e meio para escrever e não fiz mais nenhum trabalho”, ela contou à Radio 1 Newsbeat sobre a série. De fato, Chewing Gum foi cancelada e na época os comentários eram apenas que Michaela estava se “envolvendo com novos projetos”.

Ela conta que foi uma experiência catártica escrever a série. É uma outra experiência assistí-la. Essa série me marcou tanto que não sei nem ao certo definir. Então, não vou. Deixo para vocês a recomendação e que experienciem por vocês mesmas.

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