Meu maior sonho é ser mãe e meu maior pesadelo é ficar tão nervosa que o médico passe por cima dos meus sentimentos para fazer cesárea e tirar logo o bebê. Tem alguma maneira jurídica de impedir isso? Ou me garantir o parto perfeito?”

 

O parto é o momento mais esperado pelas gestantes. É quando irá conhecer uma nova forma de amor. Porém, é o mais temido, principalmente pelas gestantes que são atendidas pelo Sistema Único de Saúde, infelizmente.

Não poucas foram as notícias divulgadas de um tratamento desrespeitoso, inclusive com violência obstétrica. Ao passo que também há muitas notícias divulgadas de tratamento de excelência, de partos humanizados, respeitosos para a gestante e para o bebê.

É impossível e inadmissível aceitar esta desigualdade. Exatamente para evitar estes tratamentos desiguais é que o Ministério da Saúde instituiu o projeto Rede Cegonha.

A organização da Rede Cegonha atua em quatro frentes, chamados de Componentes, fomentando assim a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança. São eles:

1) Pré-Natal

2) Parto e Nascimento

3) Puerpério e Atenção Integral à Saúde da Criança

4) Sistema Logístico: Transporte Sanitário e Regulação

A proposta é colocar, dentro dos hospitais da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde, estrutura específica (Centros de Parto Normal Intra ou Peri-hospitalar), composta por suficiência de leitos obstétricos e neonatais (UTI, UCI e Canguru) de acordo com as necessidades regionais conforme orientação da ANVISA e que realizem práticas cientificamente comprovadas que constam no documento “Boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento” da Organização Mundial da Saúde.

“Os Centros de Parto Normal Intra e Peri-hospitalares são unidades de atenção ao parto e nascimento da maternidade/hospital, que realizam o atendimento humanizado e de qualidade, exclusivamente ao parto normal sem distócia, e privilegiam a privacidade, a dignidade e a autonomia da mulher ao parir em um ambiente mais acolhedor e confortável e contar com a presença de acompanhante de sua livre escolha”, diz o Manual Prático para Implementação da Rede Cegonha.

 

 MANUAL PRÁTICO DA REDE CEGONHA

 

O primeiro passo para garantir a gestante um parto perfeito é informação. Este é o elemento número um do check-list da maternidade. Informações quanto a tudo o que acontece na sua vida relacionada a maternidade.

Em relação ao parto, é preciso que ela conheça todas as fases do parto, o que será sentido, como identificar, o que é seguro e necessário para cada uma delas. É preciso conhecer a fundo o processo de nascer. É de grande valia um bom curso preparatório e leituras sobre o assunto, não se limitando apenas ao diálogo entre médico e gestante.

A presença do acompanhante, a ser escolhido pela gestante, é o segundo passo para garantir um parto perfeito e que não haverá qualquer prática de violência obstétrica. Esta garantia, além de ser uma forma de assistência humanizada e de qualidade, se baseia em evidências científicas e centrada no bem estar da mulher, da criança, do pai e da família. Uma mulher que se sente acolhida, se sentirá segura no momento do parto. Ter alguém de confiança durante o processo é imprescindível. Como estamos em época de pandemia, é importante lembrar que o hospital não pode impedir a entrada e presença do acompanhante durante todo tempo e procedimentos.

É direito da gestante, ao ser acolhida tão logo se inicie o processo do parto, ter imediatamente realizada a sua classificação de risco nos serviços de atenção obstétrica e neonatal, sendo o resultado entregue em tempo para que possam ser tomados os procedimentos necessários. Lembrando que as informações precisam ser repassadas à gestante. Ela tem direito de ter conhecimento do que está acontecendo e do que vai acontecer.

Para a gestante com classificação de parto de baixo risco é garantida a realização do seu parto natural de forma respeitosa sendo ela protagonista ativa do seu parto, atenciosa e humanizada para que o seu bebê venha ao mundo no mesmo carinho e atenção estando ao lado da mãe 24 horas por dia até a alta.

Um diferencial do projeto Rede Cegonha é o estímulo à implementação tanto da equipe como da gestão das maternidades e centros hospitalares envolvidos na Política Nacional de Humanização. O trabalho faz com que seja promovida uma atuação integrada de todos os profissionais e se garanta assim a integralidade do cuidado com respeito à singularidade do atendimento.

Importante destacar que, sobre o componente do Parto e Nascimento, em 2015, houve a redefinição de diretrizes e habilitação de Centros de Parto Natural no âmbito do Sistema Único de Saúde para que o espaço atenda elementos específicos estruturais e pessoais (equipe) que estão estabelecido na PORTARIA Nº 11, DE 7 DE JANEIRO DE 2015.

Sobre a equipe que comporá os Centros de Parto Normal (principal ponto de crítica ao Projeto pelos descreditados) é importante destacar que ela será composta e gerida por enfermeiros obstétricos, devidamente qualificados, sendo possível a presença de parteira tradicional em regime de colaboração quando for considerado adequado.

Se prioriza o parto natural. Isso porque parir é um fato fisiológico. Mas não quer dizer que só ele irá ocorrer. A cesárea também é parto, e exatamente por isso precisa ser tão humanizada quanto ao parto natural. Não só é possível, como deve sim haver humanização do parto cesárea.

Precisamos lembrar que o projeto Rede Cegonha tem como objetivo colocar a gestante como autora do seu próprio parto. Prioriza-se o parto normal, afinal parto é um fato fisiológico. Mas isso não diminui a cesárea que também pode ser uma escolha, desde que seja livre.

É por isso que todos os Centro de Parto Normal precisam estar vinculados a um hospital que garantirá equipe de retaguarda vinte e quatro horas por dia, nos sete dias da semana, composta por médico obstetra, médico anestesista e médico pediatra ou neonatologista, que prestará o pronto atendimento às solicitações e aos encaminhamentos da equipe do Centro de Parto Natural. Ou seja, a gestante estará sendo assistida em todas as frentes. Lembra da triagem comentada antes? Em sendo verificada um risco alto, a gestante deve ser imediatamente encaminhada ao hospital para que seja atendida com qualidade e em tempo necessário para seu cuidado e do bebê.

Apesar o programa Rede Cegonha existir desde 2011, com apoio do Ministério da Saúde, ainda se encontra muita resistência quanto a instituição dos Centros de Parto Natural por todo o país, a exemplo  do que aconteceu em Florianópolis, em Santa Catarina.

 

Plano de parto

 

O terceiro passo que pode garantir o parto perfeito é o Plano de Parto, um instrumento que pode ser utilizado pela gestante que auxiliará inclusive o seu acompanhante durante o procedimento do parto.

“Plano de parto é uma forma de comunicação entre o casal e os profissionais de saúde, incluindo obstetrizes e médicos, que irão assistir a gestante durante o trabalho de parto e parto”, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Não há obrigatoriedade na elaboração desde documento, mas ele auxilia na comunicação médico e gestante e por isso é aconselhável que seja elaborado conjuntamente.

Resumidamente, o plano de parto busca registrar o parto e o trabalho de parto que a gestante gostaria de vivenciar e as situações que se busca evitar. por isso é muito importante conhecer todo o processo do nascimento. O Plano de Parto pode ser divido nos seguinte tópicos gerais:

  • Acompanhante de parto – quem a gestante quer e quem a gestante não quer!
  • Posições para o trabalho de parto e nascimento
  • as formas a serem utilizadas para o alívio da dor – farmacológicos e não farmacológicos
  • se haverá banhos e/ou utilização de Piscina e uso de Música nos ambientes
  • o Monitoramento do coração do feto
  • Nascimento assistido – com a participação de doulas ou não
  • Terceiro período – (placenta)
  • Alimentação da mãe e do bebê
  • e como agir no caso de situações inesperadas – tanto em relação à mãe como ao feto/RN
  • Jejum
  • Enteroclisma
  • Amniotomia
  • Indução com ocitocina
  • Uso de Episiotomia
  • Uso de fórcepe e vácuo-extrator
  • Corte do córdão
  • Expulsão e destino da placenta
  • e outros ainda que a gestante achar importante fazer constar no plano de parto.

 

Alguns itens representam ainda muitas contestações no momento do internamento, principalmente se forem atendidos pelo plantonista como: jejum, enteroclisma, amniotomia, indução com ocitocina, episiotomia, uso de fórcepe e vácuo-extrator, corte do córdão e a expulsão e destino da placenta, por isso é importante conhecer bem cada fase do parto e pós parto e como é a tratativa do médico e da maternidade em relação ao assunto.

Como são muitos detalhes, é muito importante que este documento seja elaborado em conjunto com o médico e com a doula, caso você opte por uma. Ele representa em muito a confiança e relação médico paciente. Precisa também levar em consideração o ambiente hospitalar aonde o parto irá acontecer, para ver se ele pode atender o plano de parto. Exemplo: um hospital não equipado com uma “sala de parto humanizado” não poderá ser obrigado a ofertar bola ou banheira ou música, ao mesmo tempo que não menos pode ser dito que o espaço não é capaz de possibilitar o parto humanizado.

O parto será considerado humanizado toda vez que no momento do parto, além da gestante ser tratado de forma respeitosa, digna e humanizada, com a mulher sendo protagonista do seu parto, deve ser atendido as recomendações da OMS em relação ao parto. Você pode conferir as recomendações nas “Recomendações da OMS na atenção ao parto normal”  e no artigo do site “Despertar do Parto” sobre Recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) no atendimento ao parto normal.

Mesmo que exista o plano de parto é importante ressaltar que as decisões finais sobre a forma mais segura da condução do parto ficará a critério da equipe médica que assiste a gestante, que deverá ser informada de todos os procedimentos que serão adotados e as suas razões para poder manifestar sua posição e vontade, mesmo que seja atendido pelo plantonista!

Pode ser que o parto vivenciado pela gestante não seja o que ela tenha sonhado, mas nem por isso retira dele a perfeição! Cada gestação é única. Cada parto é único. É por deveras fundamental uma conversa aberta com o seu médico sobre as reais condições da sua maternidade. Por outro lado, é preciso ter consciência que o parto é um evento dinâmico e existem situações que fogem ao nosso controle e que a gestante também precisa estar ciente e, ainda que haja o plano de parto, neste momento pode ser desconsiderado se colocar em risco a sua vida ou a do bebê.

Como bem destaca a obstetra Anna Beatriz Herief, em seu perfil do Instagram @biaherief: “Se você sonhou alto, quis parir e não conseguiu, não se encolha. Claro que existe o luto, a frustração, as perguntas, os porquês. O parto é o ponto de partida. A jornada depende de você, de todas suas escolhas posteriores. E que elas sejam cheias de poder. Que sua cicatriz seja reverenciada como sinal de uma luta de vida.”

 

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