A personagem Harley Quinn, ou simplesmente Arlequina, fez sua primeira aparição em Batman: A Série Animada (1992). Harley, que foi criada para ser o par romântico do Coringa, deveria aparecer em um único episódio da animação, intitulado “Um Favor Para o Coringa”. Mas, o público gostou tanto da “palhaça do crime”, que ela acabou participando de vários outros episódios da série.

Hoje, a Arlequina não é mais uma mera coadjuvante no desenho animado do Batman e até estrela sua própria animação: Harley Quinn (2019 – hoje). A série é transmitida pelo DC Universestreaming da DC Comics, e mostra as aventuras da Arlequina após seu término com o Coringa.

Depois de se livrar do relacionamento tóxico que tinha com o palhaço – em ambos os sentidos! -, Harley segue em uma missão de se tornar a “Rainha do Crime” em Gotham. Para isso, ela conta com ajuda de sua melhor amiga, Hera Venenosa, e de um grupo de vilões nada convencionais.

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Adeus, Coringa

 

Já faz anos que a Arlequina deixou de ser só a “ajudante do Coringa”, mas ainda é comum que a personagem recaia sob alguns estereótipos de gênero. A hiperssexualização de Harley e a romantização de seu relacionamento com o Coringa, em Esquadrão Suicida, são exemplos disso.

Para nossa felicidade, os novos conteúdos da DC parecem romper com esses padrões. O filme Aves de Rapina traz Harley como protagonista e, diga-se de passagem, faz isso muito bem. A animação Harley Quinn também não fica para trás, nos mostrando uma das melhores representações já vistas da personagem.

Na série Harley Quinn, temos a emancipação da Arlequina em relação ao Coringa como um dos focos. Isso se dá logo no primeiro episódio, “Até que a morte nos separe”, em que Harley, com a ajuda de Hera Venenosa, finalmente percebe que o Coringa não a ama. Assim, Arlequina termina o relacionamento com o “Pudinzinho” e segue “carreira solo de vilã”.

 

 

Após o término, o plano de Harley passa a ser entrar para a Legião do Mal, um dos maiores grupos de vilões do universo DC. Inicialmente, ela segue esse caminho como um ato desesperado de mostrar ao ex-namorado que consegue viver sem ele. Porém, com o tempo, Harley nos prova que fazer parte da Legião é uma forma de provar para si mesma, e para todos em Gotham, que ela não depende do Coringa para ser o que é: uma vilã.

Em diversas mídias, vemos que as características vilanescas de Harley são amenizadas no momento em que ela se liberta do Coringa. Aqui, isso não acontece. Harley Quinn demonstra que não é necessário “transformar a vilã em mocinha” para que ela se torne uma mulher independente.

É claro que a Arlequina nunca fez o tipo “cruel e impiedosa”. Ela é totalmente capaz de sentir empatia e possui até algumas linhas que decide não cruzar. Mas, Harley toma decisões questionáveis e não se importa de agir de forma violenta para conseguir o que deseja.

 

Uma equipe nada convencional

 

Um ponto positivo da série são os personagens de apoio. A animação nos mostra um considerável número de personagens já consagrados no universo DC Comics, como o próprio Batman. Todos eles se encaixam muito bem com a proposta da série, mas o destaque é para o grupo de vilões comandados por Harley.

A equipe é formada por Doutor Psycho, Cara-de-Barro, Tubarão-Rei, Sy e Hera Venenosa. Os integrantes do grupo não são grandes vilões de Gotham, muito pelo contrário. Mas é justamente isso que torna a equipe tão cômica e única.

 

 

O Doutor Psycho é um vilão que foi ridicularizado pela opinião pública por ter sido machista com a Mulher-Maravilha. Harley só o aceita na equipe porque é extremamente difícil encontrar capangas em Gotham que estejam dispostos a serem comandados por ela, já que muitos têm medo de trabalhar para a ex-namorada do Coringa. E é por isso que a equipe da Arlequina é composta por esses vilões do “baixo escalão de Gotham”.

Apesar de parecer controverso que um personagem como Psycho tenha destaque em uma animação nitidamente feminista, sua presença se mostra muito importante ao longo da série.

Na segunda temporada da animação, Psycho mostra quem é de verdade. Ele trai Harley e sua equipe, se apropriando de um antigo plano da Arlequina – o famoso “bropriating” – em que ela pretendia dominar Gotham e, depois, governar a Terra.

Harley, por não ser a típica vilã megalomaníaca que sonha com a dominação mundial, logo desistiu de um plano como esse. Já Psycho, que sonha em voltar a ser um vilão famoso, a acusa de ser frouxa e não hesita em traí-la assim que tem a oportunidade.

Basicamente, a narrativa do personagem nos prova que não, nem sempre as pessoas mudam e aprendem com seus erros como mostram várias das narrativas fantasiosas de heróis.

Dr. Psycho tem um papel interessante na série, mas não mais do que Hera Venenosa – ou apenas Ivy. Além de ser a melhor amiga de Harley, Ivy é uma das personagens femininas de maior destaque na animação. A ecoterrorista, diferentemente da Arlequina e do resto da equipe, se distancia um pouco desse clima de vilania, possuindo fortes características de anti-heroísmo.

A Hera Venenosa sempre foi uma personagem com grande potencial, mas que, infelizmente, é ainda pouco valorizado nas histórias do Batman. Na maioria das HQ’s, Hera é limitada ao arquétipo da femme fatale, que seduz o herói para conseguir o que quer. Felizmente, Ivy é bem mais do que isso em Harley Quinn.

Na animação, os produtores mantêm o melhor da personagem, mas não perpetuando os estereótipos de gênero que vemos em outras mídias. A Ivy da série é independente, cautelosa e muito irônica, o que nos rende ótimas cenas de humor. Ela também é introvertida e prefere plantas a seres humanos, estando sempre disposta a fazer o necessário para proteger a natureza da ambição dos homens.

Ou seja, a série é um dos raros conteúdos em que Hera não é simplesmente uma vilã com a personalidade pautada em estereótipos de gênero. Isso também vale para a aparência da personagem, que como as demais personagens femininas da série, não é hiperssexualizada.

Além disso, vemos que relação entre Harley e Hera evolui com a  trama, dando espaço até para um possível romance, como nos quadrinhos. Apesar dessa relação ainda estar sendo desenvolvida, é nítido que ela não caminha para a fetichização do relacionamento  entre duas personagens femininas. E, nem possui um aspecto apressado, dando a impressão de que é puro fanservice para os que shippam o casal.

 

Harley Quinn para maiores

A série é para maiores de idade, visto que possui muita violência e um humor bem ácido. Esses elementos são fundamentais, já que tornam os personagens mais realistas e profundos.

A Harley Quinn da série é impulsiva e não se importa em ser brutal de vez em quando. Ela também faz piadas inapropriadas e fala palavrões.

Aliás, a Arlequina teve uma vida marcada pela violência e por relações familiares conturbadas. E só uma classificação para maiores permite que a série explore melhor esses temas.

Apesar da animação conter esse humor ácido e escrachado, as piadas não são forçadas. Pelo contrário, o humor caricato combina perfeitamente com o clima da série e com seus personagens. Harley Quinn se arrisca em fazer piadas sobre os mais variados temas e, às vezes, até ironiza alguns dos absurdos do mundo dos heróis e do próprio universo DC.

 

O Veredito

 

Podemos dizer que Harley Quinn reinventa a personagem Arlequina, mas mantendo o melhor de sua essência. Os pontos positivos de Harley, que existem desde sua criação por Bruce Timm e Paul Dini, continuam existindo na série e eles até são ressaltados. Harley é engraçada, espontânea e determinada em se tornar a maior vilã que Gotham já conheceu.

Já aquelas características que decorrem de uma má representação da personagem, como a romantização do relacionamento tóxico que ela teve com o Coringa e a hiperssexualização de seu corpo, não estão presentes nessa animação.

O humor único da série, o desenvolvimento da trama e os personagens também são características extremamente positivas. A animação sabe equilibrar muito bem momentos de humor, ação e até de drama.

Se você está procurando um desenho divertido, com muito girl power e ação, Harley Quinn é, com certeza, a escolha certa.

E você, já assistiu Harley Quinn? Se sim, me conta nos comentários o que achou. Se ainda não assistiu, corre pra ver!

 

 

Bruna Kuviatkoski é estudante de Psicologia, nerd, aspirante a poetisa, feminista, aquariana e assexual. Ama escrever, assistir séries, ouvir música e fazer carinho nos doguinhos.
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