Este texto foi escrito por Lily Butler, e originalmente publicado no site Lazy Women.

A tradução foi autorizada e realizada pela Fernanda Giongo.

Eu tenho pensado muito sobre como o feminismo é confuso, em um momento em que se ser feminista é considerado “descolado”, e no qual muitas grandes celebridades clamam ser. Primeiramente, eu pensei comigo mesma: isso é bom, com certeza se popularizarem o feminismo nós poderemos superar a desigualdade. Mas eu me senti arrasada quando olhei as influenciadoras do Instagram ou as garotas do Tik Tok e como elas se apresentam hipersexualizadas, como são ‘photoshopadas’ e perfeitas e sorridentes. Eu pensei, feminismo é realmente isso?

Por um lado, muitas dessas influenciadoras enviam mensagens de empoderamento com a desculpa de que elas estão fazendo por elas mesmas, que elas podem fazer o que quiserem com seus corpos e que isso as faz livres. Por outro lado, elas estão perpetuando a mesma performatividade e ideal de perfeição que esmaga garotinhas, fazendo elas acreditarem que é isso que elas devem se parecer. De certa forma, elas estão nos dizendo para fecharmos nossos olhos para todas as coisas negativas que podemos sentir, para estarmos acima desses sentimentos. Selena Gomez cantou sobre ‘matá-los com bondade’, uma expressão que encoraja controle emocional quando você está diante de uma situação problemática. Mas será que matá-los com bondade realmente funciona para destruir o patriarcado? Ou é apenas uma forma de lidar e se encaixar num sistema que já existe, apenas para sobreviver?

Depois de fazer um pouquinho de buscas, eu sinto que sei um pouco mais sobre o tema. Estudiosas de Gênero tais como Rosalind Gill ou Angela McRobbie têm iluminado o fato de que o feminismo no qual estamos sujeitos na cultura popular de hoje, reflete os valores do pós-feminismo, e esses valores foram construídos sob um discurso, ou ‘registro psicológico’, que meramente ensina garotas como sobreviver no mundo neoliberal. Eventualmente nos dizem que confiança é a chave, se alguém te fez mal, apenas sorria, que você deve ser produtiva, orgulhosa e positiva. Sempre. Seja. Positiva.

Não há espaço para mulheres bravas, tristes e preguiçosas nas mídias sociais. Porque isso seria chamar atenção, certo? Isso deixaria outras garotas tristes, não é mesmo? Mas uma garota que olha, vamos dizer, o perfil do Intagram de Emily Ratajkowski, e vê uma garota que é tamanho 36 com a quantidade perfeita de peito e bunda, uma cintura fina e lábios carnudos, fazendo poses desconfortáveis e quase 80% do tempo nua… o que isso diz a ela? Diz a garota que se ela quer ter sucesso na vida, isso é o que ela deve fazer. Não me entenda mal, eu super apoio que as garotas abracem suas sexualidades. Mas ser sexy não deve ser sinônimo de precisar de qualquer tipo de botox, problemas alimentares ou qualquer coisa que envolva esse tipo de compromisso. Feminismo não deve ser sobre compromissos – especialmente os que envolvam aparência física – porque esse compromisso significa normalizar padrões tóxicos impostos sobre nós.

É claro, o relacionamento de uma garota com seu corpo é muito complicado, e nós não podemos de repente parar de performar gêneros com um estalar de dedos. Mas se pararmos de encher garotas com a ideia de que os corpos delas são marcas, então talvez estaremos um passo mais perto. O que o pós-feminismo parece estar fazendo é encorajar garotas a continuar sendo objetificadas e objetificando elas mesmas, mas tudo sob a ilusão de que elas estão fazendo isso por elas mesmas, apenas porque elas podem (economicamente) se beneficiar disso.

O pós-feminismo encontrou uma forma de pegar e largar tudo o que quisesse do discurso feminista, ignorando como a desigualdade de gênero é um problema estrutural.

Ao invés disso, nos faz acreditar que se não estamos felizes, é porque não tentamos o suficiente. Se estamos bravas, bem, é melhor escondermos porque ninguém quer uma garota histérica. Se não estamos confiantes, então por que não gastar dinheiro para parecermos melhores? Porque, se você parecer melhor você vai se sentir melhor… certo?

Vivemos em um mundo visual, no qual é tão fácil lucrar com a boa aparência, e entendo porque pode ser tentador fazer parte disso. Eu também vejo que as garotas nem sempre sabem o quanto realizam. Isso sempre será um processo lento. Mas se Emily Ratajkowski se auto proclama feminista sem saber as questões envolvidas nisso, é aí que começam os problemas. Desigualdade de gênero ainda não está resolvida, e nós não podemos apenas desfazer o que já foi feito pelas feministas, nem invisibilizar o problema estrutural por trás disso. Feminismo é e deve ser entendido como uma luta contra o sistema de opressão. E mesmo que garotas possam se beneficiar desse sistema, não significa que a luta terminou.