Despertador, café, reunião, e-mails, freelas, e assim vai meu dia e minha semana. Porque afinal, com home office e pandemia, a rotina não se difere muito, né? Mas nesta manhã especificamente, saí para caminhar e comprei flores para minha casa nova. Eu estava empolgada demais para receber minha mãe em minha primeira experiência morando em outro estado. (Caso você não saiba, já contei aqui um pouco da minha vivência morando sozinha, se você não viu, passa lá. Aliás, #RIPSpencer – entendedores entenderão).

Agora, em outra cidade, o frio na barriga é maior. Enfim, mamãe chegou. E junto com ela, vieram três malas com coisas que eu deixei para trás achando que estava sendo minimalista, mas na verdade, eu era uma mera esquecida mesmo. Nessa de desembala coisa, desarruma mala, ela me tira um caderno. E eu, a doida da papelaria, antiga colecionadora de papel de cartas desde a 5ª série, que aliás nunca foram usados até hoje, fiquei feliz com um simples caderninho. (Eu sou defensora da teoria de que quanto mais caderninhos, melhor).

Mas calma lá, meus queridos. Não podemos nos referir a essa preciosidade como um mero caderninho daqueles que ganhamos de brinde de marcas (eu pego todos e vocês?). Dessa vez era diferente. Foi um dos presentes com mais alma que recebi nesses meus anos de jornada no planeta terra. Profundo, intenso, visceral.

Vamos começar com o fato de que tinha dedicatória, tá bom? Eu prezo muito por presentes com cartinhas, ganham meu coração. E o presente de mamãe tinha isso. Não estava esperando isso porque ela não é de falar ou demonstrar muitos os seus sentimentos. Ela é uma pessoa de ação. Eu nunca li, mas dizem que tem um livro famoso que explica as linguagens do amor. Com certeza a linguagem da minha mãe seria “atos de serviço”. Ela pode não falar diretamente todos os dias o quanto ama, mas compra o meu chocolate preferido toda vez que vai no mercado ou arruma a minha cama para me esperar voltar para casa.

Agora vamos para o segundo ponto de porquê esse caderno foi tão especial. Bom, ela fez um compilado das receitas que eu mais gosto para eu cozinhar aqui. Algumas receitas ela escreveu à mão, outras são recortes de receitas escritas pela minha avó materna, minha avó paterna, receitas de alguma prima ou parentes da família que não sei quem são, mas as comidas devem ser boas. (Depois tento fazer e conto para vocês. Torçam por mim).

E com isso eu reparei que as principais celebrações e momentos marcantes são regados a uma boa comida. Natal e peru. Aniversário e bolo. Ano Novo e lentilha. Cinema e pipoca. Amigos e churrasco. Bar pé sujo e jantinha. Primos e sorvete da lojinha da esquina. Fofoca e café. Casa de avó e bolo de milho. Corrida no parque e açaí. Avião e jujubas. Viagem de carro e um salgadinho barato. Festa de criança e brigadeiro. E não para por aí!

Como uma boa taurina que sou, claro que comida faz parte da minha vida de forma mais intensa. Além disso, foi dentro da cozinha que tive experiências incríveis de conexão com minha tia avó fazendo biscoitinhos com raspas de limão. Foi com minha avó materna que fiz meu primeiro bolo que saiu solado. E claro que antes de eu sair da minha cidade, pedi pra minha mãe fazer aquela sobremesa que eu adoro para me despedir das comidinhas dela.

A comida é uma forma de marcar momentos, com a gente, com os outros, com datas especiais e muito mais. Estar rodeado de pessoas com uma mesa posta é uma das maiores delícias dessa vida. E nem precisa ter muita gente. Um vinho e um risoto com aqueles amigos mais íntimos. Um hambúrguer para sair da dieta com aquela amiga que você não vê há tempos. Um cafézinho com pão e manteiga para papear quando vai visitar algum parente. (E lá vão os gatilhos, peço perdão).

Porém, algo interessante desse caderninho é que ele é metade preenchido e metade está em branco. Isso para eu escrever novas receitas de novos momentos que ainda não vivi, mas irão me marcar. Receitas que irei descobrir com novos amigos. Receitas que vou errar muito e na milésima vez, vou anotar para não errar mais. Páginas em branco de possibilidades, criações e novas experiências.

O meu primeiro caderno de receitas veio assim. Da forma que eu menos esperava. Antes de receber, eu achava que não precisava, mas esse caderno tem mais que receitas. Tem história, tem coração, tem lembranças e tem futuro. Não vejo a hora de começar a cozinhar por aqui e deixar vir à tona todos os sentimentos bons que as comidas trazem.

Bom, agora eu vou aproveitar a visita da mamãe para comer o arroz soltinho e pedir para ela fazer feijão para eu deixar congelado pro próximo mês. Afinal, tô morando sozinha, mas ainda tenho medo de morrer com a panela de pressão explodindo na minha cara. Vou aproveitar também para mimar ela com a minha mais nova especialidade: bobó de camarão para marcar nesse meu novo momento. Até mais!

 

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