Meu filho não mora comigo.

Essa frase não deveria ser recebida com tanto espanto pelas pessoas. Tente puxar na sua memória quando o pai do seu filho ou um amigo diz que ele mora com a mãe, você ficou espantada ou perguntou “mas não mora com você por quê?”. Acredito que não, porque essa situação é bem mais comum. Sempre nos foi colocado que quando parimos temos de viver pura e exclusivamente para nossos filhos, abdicando do ser mulher. Nos colocam numa redoma sagrada onde não podemos sentir emoções além daquelas ditas “amor materno”. Mãe fazer sexo casual? Mãe se masturbar? Mãe ir pra balada? Mãe sair pra ir ao shopping sozinha, ou à praia? Mãe ter um encontro? Mãe namorar? Mãe casar de novo? Mãe, mãe, mãe, mãe…

O mito do amor materno e a maternidade compulsória são nuvens que ficam na nossa cabecinha a partir do momento que a gente pare ou adota nossos filhos. Nos jogam uma pressão enorme e isso nos adoece. Temos, em todo tempo, de sermos as super-heroínas, aquelas que devem estar sempre prontas pra tudo a todo o momento.

Isso coloca em nós a famosa culpa por um dia cogitar a ideia de deixarmos nossos filhos morarem com o pai/progenitor deles. Atualmente, se o seu filho não mora com você ou se está cogitando essa opção e comenta com alguém, logo vem comentários como “nossa, mas eu não consigo”; “tem certeza?”; “eu não faria isso se fosse você”; “você vai abandonar seu filho?”. Sim, infelizmente se esses comentários são comuns com quem está pensando na situação, imagina com quem já passa por ela tem um tempo.

Mesmo fazendo seu papel de pai, o homem é exaltado, mas a mãe será julgada. Quantas vezes eu não já ouvi que não estava “sendo mãe de verdade?”, ou ser tratada como uma estranha por pessoas quando elas sabiam da minha condição materna. E, mais uma vez, pergunto: o pai recebe o mesmo tratamento? Jamais.

Quando você conversa com uma mãe que não mora com o filho, sempre vai ouvir motivações diferentes que a levaram a tomar essa decisão. Geralmente é para estudar, trabalhar e, mesmo se não fosse, mães também são mulheres e podem sim fazer com que o pai cumpra o papel dele e não tem nada de errado nisso. Afinal, os pais estarão fazendo nada mais do que a sua obrigação: criar.

 

 

Sobre autojulgamento

 

O ser mãe está mudando. Estamos, aos poucos, desmistificando a maternidade. Eu já ouvi muitos relatos de mulheres que pensam na possibilidade de não morarem com seus filhos. Não porque elas são ruins ou não os amam, mas porque simplesmente precisam de um descanso ou precisam estudar e trabalhar. Criar uma criança com um pai ausente não é fácil e, mesmo assim, as pessoas ainda o consideram como pais. No entanto, mulheres sofrem com essa possibilidade. É medo de julgamento, medo de o filho ter algum trauma, medo da depressão, medo da culpa. Mas uma coisa precisamos colocar na nossa cabeça: independente de quem seu filho viva, você ainda é mãe dele. Não importa se você precisou sair do país, se eles estão com os avós, se os vê uma vez por mês, por ano, quinzenalmente ou semanalmente.

Pessoas querem colocar na nossa cabeça que somos incompletas, que não somos de verdade, que não gostamos dos nossos filhos, que eles terão traumas. Eu já ouvi tudo isso e machuca demais.

Uma coisa que eu ainda estou aprendendo nesses 2 anos que meu filho não mora comigo é que: eu continuo sendo a mãe dele. Temos a mania de achar que não somos uma mãe ‘completa’ por não dar o jantar ou mandar a criança ir escovar os dentes antes de dormir. Não! Você ainda continua tendo um papel social e emocional na vida da criança.

 

Mas, e os meus filhos?

 

Acredito que um dos maiores males que temos na nossa sociedade é a falta de comunicação. Não falamos o que sentimos, o que somos e o que achamos. Deixamos tudo subjetivo e depois queremos que a mensagem seja entendida mesmo ela não tendo sido passada.

A conversa com meu filho não foi fácil. Eu demorei para tomar coragem de falar para ele que ele iria morar com o pai, mas, como era de se esperar, ele entendeu. Eles entendem, sempre entendem. Por isso, é fundamental que uma conversa (dentro da linguagem de cada idade) seja feita. O julgamento vem sempre de fora, nunca deles. E acredito que seja isso que nós, mães que não moram com os filhos, devemos nos apegar. Eles nos amam, continuam nos amando haja o que houver.

A rotina no começo não é fácil, você chora, sente culpa, chora, sente culpa de novo, pensa em largar tudo o que está fazendo para voltar atrás, tem medo de falar para as outras pessoas, mas passa. Tudo isso passa e é no amor do seu filho que você deve se apegar, pois é a única coisa que importa. Você sabe os seus motivos e ninguém tem a ver com a sua vida e a do seu filho, coloque isso sempre na sua cabeça.

 

Julgamento de outras mulheres

 

Já sofri tanto julgamento de outras mães. Ainda estamos no processo de desromantização da maternidade e enquanto isso não acontece somos alvo de olhares, comentários e preconceitos vindo de outras mulheres. Isso machuca demais. Precisamos praticar a empatia e parar de querer nos meter na vida das pessoas.  Não é um bicho de sete cabeças o pai criar o próprio filho, isso é tão difícil de entender?

Algumas de nós são privilegiadas, outras se fodem todos os dias na vida para poderem comer. Nenhuma vivência é igual à outra. Precisamos, sim, fazer um recorte social e de raça dentro da maternidade. Mais uma vez, o que é bom pra você, talvez não seja para o outro. Dê mais apoio e menos apontamentos. A nossa saúde mental agrade.

Às mães que estão pensando nessa possibilidade. Converse. Se o pai do seus filhos faz a obrigação dele de ser pai e você pode falar com ele sobre isso, fale. Outra coisa, faça testes não entregue a guarda de cara. Uma criança precisa de adaptação de rotina, por isso, é ideal ir aos poucos, caso a sua decisão já tenha sido tomada. E vai conversando, lembra? Conversa é a melhor dica que eu posso dar aqui. Comunicar é preciso. Busque apoio de outras mulheres que estão na mesma situação que você. Tente não comentar isso aos quatro cantos, com disse, estamos no processo e isso pode te machucar. Comentários machucam. Dos demais, não se julgue, não se culpe, não é abandono, não é!

Vai ficar tudo bem.