Formar(-se) de novo tem sido um trânsito difícil. Dar nova vida à própria vida parece uma ação inconclusa. Quando penso que fui, percebo que eu nem saí do lugar. O deslocamento ficou só nas ideias inquietantes de idas e vindas, vontades e anseios, expectativas e ilusões. Onde falhei? – pergunta minha mente que cria por si só uma inquisição de cobranças, culpas e punições.

Permaneço nesse lugar e me autoflagelo pelos planos e sonhos não executados. As vezes organizo minha vida semelhante a um algoritmo programado para não errar. Eu, robô.

Julgo pensar que para uma mulher negra a falha não compõe nossa gramática cotidiana de vida. Sucesso é uma palavra vazia dita por bocas que não sabem do meu caminho de pedra. Para quem está a permissão do fracasso sem dor? Há espaço para isso quando o verão mais quente só é validado se ele for vivido e divulgado em cenários e imagens de alta resolução?

Desconheço frases que reconheçam o inverno do verão. Que fale dos dias minguados, das sabotagens da vida.

Revivificar tem sido meu verbo dessa estação. É libertador cuspir ele e perceber que o alívio vem em seguida por causa da elaboração de que não preciso viver felicidades consumidas no período em que o tempo cronológico diz é “férias”.

Posso viver dias de sol e mar em fases contrárias. Na contramão da estrada que aponta que ali é o lugar do descanso ou da calmaria. Desfrutar de alegrias no caos. Ser silêncio no barulho. Entrar por portas automáticas, mesmo que os olhos neguem minha presença ali.

Eu me regenerei para gerar novamente possibilidades. Abrir e fechar ciclos. Ir e recomeçar. Dar vida a minha própria vida como uma via que não é reta, mas sim curvas que me permitem identificar o que foi deixado para trás.

O vento que chega em mim nunca é o mesmo que chegou a um segundo atrás. Que o vento me ensine a ser livre (de mim).