Quando eu procurava uma série tranquila, para espairecer e passar o tempo, eis que estreia Bridgerton na Netflix. Um misto de Orgulho e Preconceito com Gossip Girl, a série produzida pela talentosa Shonda Rhimes (de Grey’s Anatomy e Scandal) era justamente o que eu precisava.

Ambientada na Londres de 1813, Bridgerton conta a história de uma família curiosamente grande. A viúva Violet Bridgerton é mãe de sete, sendo Daphne a mais velha entre as meninas e debutante nos círculos da alta sociedade britânica. Baseada nos livros de Julia Quinn que contam as histórias de cada membro da família separadamente em cada título, a série segue a mesma disposição e a primeira temporada é centrada especialmente em Daphne e o Duque de Hastings (o primeiro livro se chama “O Duque e Eu”).

família bridgeton

A família Bridgerton.

 

Com uma família grande, pode-se perceber a ansiedade em casar bem as filhas. Como a própria Daphne diz para suas irmãs que a sua possibilidade de conseguir um bom casamento influencia a perspectiva futura das irmãs mais novas. Então, apesar de ela querer um casamento por amor (algo raro para a época), ela sabe que existe uma responsabilidade além disso.

É nesse aspecto que acredito que Bridgeton acerta bastante – e motivo pelo qual uma feminista convicta como eu não está revirando os olhos para uma série de meninas debutantes procurando um marido no “mercado casamenteiro”. É um tema tão patriarcal que poderia ser mal visto, mas a série consegue para além do fru-fru dos longos vestidos, bailes e danças, dar espaço para uma contextualização sobre a realidade da época sem um véu de romantização frívola. É claro que existe romance na história (e surpreendentemente sexo, muito sexo), mas sem perder de vista o olhar para o que era a realidade da mulher da época: garantir um bom casamento não era uma aspiração de uma jovem romântica, mas uma garantia de sobrevivência.

É nesse ponto que Bridgerton consegue “modernizar” a temática da série, além de ter uma protagonista com atitudes independentes, um tom mais informal dos diálogos dos personagens, a trilha de música clássica com composições do pop atual e uma diversidade do elenco inédita em uma série de época.

 

O Duque de Hasting, interpretado por Regé Jean-Page, e motivo de inúmeros suspiros desta que vos escreve.

 

Esse último ponto é uma inovação que merece maior destaque. Bridgerton é uma série ambientada no século XIX que opta por não apresentar um elenco branco, mas de mostrar uma nobreza formada por pessoas também negras (inclusive, o protagonista Duque). E a forma como fizeram isso fazer sentido na história foi super interessante.⁣
Na série, a Rainha Charlotte da Inglaterra é uma mulher negra e isso teria impulsionado a formação de uma nobreza também negra. A ideia não é apenas fictícia e tem lastro na realidade. Durante muito tempo se debateu a racialidade da rainha Charlotte e um estudo extenso publicado no final dos anos 60 que rastreia toda sua árvore genealógica afirma que, sim, ela tem ascendência negra. Assim, a série pega esse dado histórico e constroi um novo mundo a partir disso que sem dúvida a torna mais interessante (o livro não traz isso, por exemplo).⁣

do lado esquerdo, foto da rainha charlotte da série, uma mulher negra de peruca branca com vestido majestoso. ao lado direito, a pintura da rainha charlotte.

À esquerda, a rainha Charlotte interpretada pela atriz Golda Rosheuvel. À direita, quadro da Rainha.

 

Se o paralelo com a família Bennet de Orgulho e Preconceito já fez sentido até aqui, devo mencionar outro aspecto interessante da série que é a pitada de Gossip Girl que fica cargo da Lady Whistledown, pseudônimo de uma pessoa que mantém um folheto comentando as fofocas rondando os ricos de Londres. Dona de uma língua afiada capaz de afundar reputações, seu jornal diário e o rebuliço em torno dele torna a série um tanto mais interessante, além, é claro, do mistério em torno de sua identidade. Se a mistura dessas duas séries já é boa, eu gostaria no entanto que Downton Abbey tivesse entrado no mix. Particularmente, achei a série bastante corrida e o ritmo lento de Downtown Abbey faria mais sentido à história. Ou talvez essa opinião tenha vindo do fato de eu apenas não queria que a série acabasse.

Enfim, fica aí a dica pra quem quer uma série delicinha para passar o tempo, e sem esperar nada mais do que isso. E digo, sem um pingo de culpa, que sim, eu amei Bridgerton.

 

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