Uma vez dei um match com um boy interessante no Tinder. Ficamos fascinados um pelo outro logo de cara. No mesmo dia passamos horas no whatsapp conversando e rindo e, uma hora, mencionei que tinha um filho. O cara se sentiu traído. “Como você não falou isso antes?”, perguntou. Oras, estava falando agora, no mesmo dia que o conheci. Mas, para ele, eu tinha que ter mencionado já no perfil… se sentiu iludido, como se tivesse caído numa armadilha.
Essa foi uma das muitas histórias que tive do tipo, que nunca cheguei a documentar. Não por menos a experiência social da Fernanda Teixeira, uma professora e mãe solo de 27 anos, deu o que falar um tempo atrás. Ela colocou logo na descrição do app: “Fernanda, 27 anos. Mãe. Professora. Militante. Feminista. Amor à culinária, literatura e aos amigos Ódio ao capital e aos de coração raso.”
As respostas?
*Raul – 27 anos:
-Oi gata
-Oi. tudo bem?
-Melhor agora.
– ><
-Que bom que você avisa que tem filho.
-É? Por que?
-Assim facilita e a gente não tem surpresa.
-Como assim?
-ah gata
não se apaixona nem se desiludi
– como assim?
– vc é mãe
já sei q n rola nd sério
*Felipe – 31 anos:
-Tu é mãe?
ainda amamenta? <3
– Oi. Tudo bem? Não mais, por que?
– Nada não.
(combinação desfeita, por ele)
*Lucas – 28 anos:
-…
-então o seu filho está onde agora?
– Em casa, comigo. por que?
-Nossa.
Você é bem feminazi esquerdista mesmo.
coitada da criança com uma mãe p*ta dessas que fica procurando macho.
*Lucas – 24 anos:
– …
– Sou mais novo que vc
-Sim. 3 anos. Isso é um problema grande?
-n, n. é q vc é mãe, e eu procuro uma namorada
-E?…
-E que daí n dá, né
-Por que? Sua mãe nunca namorou?
-N fala da minha mãe
vadia
(combinação desfeita, por ele)
*Markus – 25 anos
-vc tem com quem deixar a criança? n sou chegado, mas achei vc gata.
-oi? tu n é chegado em que?
– Filho dos outros kkk
– Tu tem a foto com uma criança!!!!
– É meu afilhado.
-Pra chamar mulher?
– Siiim. da certo. Com vcs tbm?
(combinação desfeita por mim, porque não tive mais estomago)
*Marcos – 27 anos
-…
-Mas priorizei outras coisas na minha vida
-Como assim? temos a mesma idade e tu tbm é pai
-sou pq minha ex quis. acho q ela e vc n são iguais
-Como assim?
– Vim morar no sul pra fugir dela
– E do teu filho?
-tbm. ela engravidou de gosto
-hmmm. Quantos anos vcs tinham?
-Ela 17 e eu 26
– Tu recém foi pai então?
– ahan
– meu, tu é quase 10 anos mais velho que ela. Acho q ela n queria engravidar e ter um filho sozinha em SP
– mas ela n se cuidou
n tenho muito a ver com isso
(combinação desfeita por mim, por motivos óbvios)
*Ivan – 34 anos
-Divorciada?
-Oi. Tudo bem contigo? Sim, sou separada. Por que?
-É que mulher com filho a gente pergunta né
– Por que?
-Se n casou é que n vale muito
– Como assim? tu vai vender a mulher? Quanto é que ta o @ da mulher no século XXI?
– Li teu perfil até o final agora
vc é feminista
raça ruim eim
o corno que deve ter te dado um pe na bunda pq tu n se depila
*Renan – 26 anos
-…
– mas vc foi irresponsável
– Fomos um pouco, mas levo uma vida normal.
– e vc cria seu filho sem pai?
-Não. meu filho tem um pai, que ama muito ele.
Nao entendi a colocação.
– alem de mãe e bura kkkkkkk
– Burra? Além de mãe? Por que? Tu tem problemas?
– Problema tem tu q tem filho e fica no tinder catando outra barriga
feminista suja
professor ainda kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
*Tarciso – 31 anos
-…
– Sou marinheiro e busco apenas aventuras.
– hmmm
– Você ser mãe facilita as coisas
– Por que?
– Porque não precisamos fingir engenuidade e podemos pular os cortejos.
-INgenuidade, querido.
– Vá se f*der
sozinha kkkk
*Elton – 29 anos
-… eu concordo com esses caras na verdade
– tu concorda com os absurdos que disse que já ouvi por ser mãe?
– ué, vc ficou solteira pq quis e parece esperta
– e???
– e que todo mundo sabe q ngm leva a sério mulher com filho
– Por que?
-p q se ja teve filho e ta solteira boa coisa n é
– Então todas mulheres divorciadas são péssimas pessoas e péssimas mães? e as que são mães solo porque o cara fugiu?
– N. minha mãe tbm se divorciou quando eu era criança pq meu pai batia nela
– ela foi uma mãe ruim?
– N né
minha cora é minha vida
– Quantos anos ela tinha quando isso aconteceu?
– Ela tinha 26 e eu 5
– Eu e sua mãe fomos mães com a mesma idade e nos separamos também com quase a mesma idade hehehe
(match desfeito, por ele)
“Você namoraria uma mãe solteira?”
A pergunta postada num grupo do Facebook não me causa espanto. As respostas ao post variavam entre um seco “não” e algumas mais explicativas, como “não gostaria de cuidar do filho dos outros”, “a última coisa que quero nesse mundo é ser pai”, “é meio complicado porque priva você de várias coisas”, “a atenção será somente da criança, fora os chiliques”, “vou ter que ser honesto: é difícil”, “mencionar que é mãe no começo me tira a empolgação”, entre outras. Isso é alguma surpresa numa sociedade em que pais mal assumem os próprios filhos?
Enquanto mãe solo, passo por isso tão corriqueiramente que já desenvolvi uma casca grossa. Uma dessas cascas que para penetrar são necessárias camadas e camadas de confiança. Pode parecer triste ou insensível, mas já me acostumei com a rejeição. Eu aprendi que eu basto só e, sinceramente, não ter um relacionamento afetivo é o menor dos meus problemas no momento. Isso não quer dizer que não passo por momentos de tristeza, mas que esses momentos passam e encontro alegria na minha vida muito além disso.
Eu aprendi que estar solteira não é estar sozinha. Ao menos não sempre, e tudo bem. Aprendi que essas pessoas babacas não merecem conviver com meu filho, que é a pessoa mais legal da face da terra. E me desprendi da ideia de que preciso de um namorado para ser feliz, ou completa, ou qualquer coisa que o valha.
Mas eu sofro por outras mães solo, minhas amigas, porque eu sei o quanto algumas aceitam menos do que merecem, às vezes migalhas de atenção, de homens que não as assumem. Olha só as opções que se apresentam. Porque se um cara não vê nosso valor e não quer viver um romance com a gente porque temos filhos… que tipo de cara é esse e porque iríamos querer alguém assim?
Estamos muito melhores sozinhas.
NO CREO!!!! que imbecis… leio como se fosse um roteiro de péssima categoria escrito por triste e solitário bastardo….
quando conheci a mãe dos meus 4 filhos, ela me deu de presente minha primeira que já tinha 4 anos. Amei, foi assim, com elas duas que aprendi a ser pai e um homem minimamente decente (se isso é lá coisa possível). Mas depois ficou fácil ser pai dos demais, A Mãe de 4 (insta @maede4) compartilhou muito sobre essa vivência comigo. É uma pena realmente que tenhamos que conviver com esses pobres e ignóbeis seres.
Vc disse tudo no final de seu texto! Vc se basta, mesmo se tiver com alguém algum dia, vc vai continuar se bastando. Adorei ler o texto.
Que tristeza. que difícil de ler este texto….
Não namoraria. Simples assim.
Esse texto dói, comentários machistas, pessoas se achando no direito de pré julgar a vida alheia de acordo com as suas mesquinhas réguas emocionais. Eu confesso que não me relacionaria com um homem que tivesse filhos pelo puro motivo de eu mesma não querer ter filho e não ter jeito com criança. Não sei se estou sendo egoísta ou preconceituosa com o pai, mas gostaria de ouvir uma opinião sobre minha posição. Será que ajo errado? Obrigada.
Oi, Camila. Não acho que vc esteja sendo egoísta. Eu namorei 1 e 4 meses com um cara que já tinha um filho e fica mordida com a forma que ele tratava o menino. Nesse tempo que ficamos juntos, todas as vezes que ele fez algo com o filho (diferente de deixar o menino na frente da TV e do computador o dia todo) foi porque eu sugeri de saírmos. E todas das vezes que eu falava algo sobre ele dar mais atenção pro menino e coisas assim, ele dizia que eu não deveria me meter. Então, eu não faria isso nunca mais. Fico sozinha e me basto.
Qual o problema?
Seus corpos,suas regras,nossos gostos e escolhas,nossas regras!
Vivemos num país de pessoas grosseiras, violentas, mal educadas, preconceituosas e intolerantes.
Óbvio que estar na própria companhia é infinitamente melhor que suportar alguém que; além de si próprio estar totalmente destruído por conceitos nocivos, destrói quem está por perto.
Nada justifica tanta ignorância. Todos merecem a chance de ser feliz, até mesmo os machistas e é à eles que desejo um baque, tipo acidente de carro emocional, que estremeça e devaste a doença do preconceito de suas mentes.
Mas vem cá, não foi melhor assim? Não foi melhor ficar livre dos palhaços misóginos ANTES de se iniciar algo mais sério? As pessoas têm tantas questões a resolver, imagina ainda ter de lidar com o ciúmes/ressentimento do seu parceiro com relação ao tempo que você dedica aos seus filhos?
No fim das contas, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. E, ainda que as falas citadas na matéria sejam toscas e assimétricas, elas ainda serviram para que a mãe se livrasse de um monte de caras bem tacanhos. Uma vez que há homens que namorem mulheres com filhos, talvez seja o caso de se procurar o que se quer em outros lugares, outros ambientes, outras maneiras.
Não.
Este texto retrata exatamente o que nos mães e solteiras passamos. Ter filho parece uma doença mortal. Depois de escutar e ler tanto comentários e ofensas destes babacas, desisti de me relacionar, cheguei a conclusão que é melhor assim. Cheguei a ter 2 namorados. 1 deles uma vez soltou que seria bom que a minha filha não existisse e o outro, depois de 2 anos de relacionamento, quando falei sobre casamento, disse que tinha que eu tinha que dar graças a Deus por ele me aceitar com uma criança ( isso porque ele nunca nem pagou sorvete p ela, e estava a 1 ano sem trabalho e eu que estava bancando os rolês). Por isso, tenho muitas amigas que escolheram casar, mesmo sabendo que era uma péssima escolha, devido ao caráter dos indivíduos só para não levar o título de mãe solteira. O preconceito da sociedade é muito pesado.