Ser mãe não é padecer no paraíso como dizem. Não é aquele comercial de margarina onde sorrimos a todo instante e nossos filhos estão quietos na mesa sorrindo também, juntamente com o marido. O negócio aqui é mais embaixo. A maternidade real não tem essa de perfeição, pelo contrário.

Mostramos todos os dias o quanto somos imperfeitas e, olha só, está tudo bem! Até porque, perfeição é relativa. O que é perfeito pra você pode não ser pra mim e vice e versa, e mais uma vez, está tudo bem! E, é isso que devemos diariamente colocar na nossa cabeça como maternas, mesmo que em todo o momento nos digam o contrário com frases que parecem mais uma espada afiada do que apenas perguntas e comentários sobre nossa maternidade e nos sentimos sentadas à frente do juri esperando nossa sentença, está tudo bem!

É… não é fácil fechar os olhos e os ouvidos e dizer “eu não ligo”, porque a sociedade faz com que nós, a todo momento voltemos duas casas na desconstrução da maternidade romantizada, mas aí quando vamos ver, o estrago já foi feito. A culpa vem junto com roupas pra lavar, casa pra cuidar, dificuldades financeiras, julgamento, puerpério e busca pela perfeição… cansativo, não é? Imagina para nós que todos os dias nos questionamos se estamos sendo as “mães ideais”, as “mulheres foda” que vocês tanto jogam nas nossas costas. Nós erramos e muito, e ter perguntas diariamente sobre nossa condição, é uma forma de julgamento, que abre um espaço para a culpa e nos leva à solidão materna.

Cansada de ouvir algumas coisas e de ver mulheres que também pelo mesmo, resolvi perguntar e listar 10 situações que acredito que muitos de vocês, ou se colocaram no papel da pessoa que perguntou, ou foram as pessoas que ouviram as perguntas, mas nunca é tarde para aprender como não fazer mais.

Afinal, o que as mães não aguentar mais ouvir?

 

1) “Eu sou mãe de 6. Mas não sou apenas mãe, trabalho, estudo. Então qualquer coisa que me “reduza” à mãe apenas me irrita profundamente”.

– Andreia Regina

Depois que somos colocadas no papel de mãe, esse título nunca é tirado. As pessoas esquecem que também choramos, temos vontades, que queremos um relacionamento ou só curtir, que queremos estudar, trabalhar, que somos profissionais e queremos sucesso. A sociedade esquece e julga quando saímos um pouco da bolha materna e logo tentam nos colocar nela de novo, é triste ser condicionada à maternidade quando também se é mulher. Amamos os nossos filhos, mas tem vez que queremos sair e não sermos questionadas sobre eles.

 

2) “Com quem está seu filho?”

– Nathalia Aparecida Munhoz

A mãe que nunca ouviu essa que atire a primeira pedra. É como dito acima, saímos um pouco e voilá, alguém nos entucha pra dentro dessa condição de novo. Perguntar com quem está nosso filho quando saímos com as amigas ou sozinha não é legal. Pare para pensar, você já fez essa pergunta para homens? Acredito que não, então, porque com mulheres têm de ser assim?

O fantasma da maternidade compulsória nos assombra em todos os momentos. Queremos estar na fila da balada, cinema, shopping, restaurante sem que sempre nos lembre ou que joguem na nossa cara a nossa maternidade e que isso, gera, para nós um julgamento interno enorme.  Será que eu não deveria estar mesmo em casa com meu filho? Será que eu devo deixar ele um dia para sair com meu marido? Será que tenho de deixá-lo na creche para eu poder voltar a estudar? Será que eu tenho de deixá-lo em casa com alguém para eu poder trabalhar? Viu, só, o seu questionamento gera muitos outros que machucam e abrem feridas difíceis de cuidar demais. Tome cuidado.

 

3) “Nem parece que você é mãe

– Lita Flor

A outra condição que nos colocam é a estética. Se você foge de qualquer padrão imposto que seria o correto para uma “mãe”, as pessoas não veem como uma. Tatuagens, piercing, roupas curtas, jeito de falar e se comportar. Taí algo que acontece principalmente entre mulheres e, mais uma vez, de um modo muito claro: não é da sua conta.

Se uma mulher não é mãe igual você é, ela não merece esse tipo de pré-conceito sobre si mesma. Reclamamos muitas vezes da sociedade que nos engarrafa, mas nós mesmas estamos carregando esse discurso e despejando em cima de quem não deveria.

Lembre-se sempre, o que é bom pra você, pode não ser para outra mulher. Ser diferente do que você é, não quer dizer que esta não será tão “boa mãe” quanto você. Pense nisso.

 

4) “Você não pode reclamar do pai porque você quem escolheu”

– Carolina Ribeiro

A pior mania das pessoas é achar que a outra pessoas vem com um certificado de garantia de que não vai um belo de um cuzão (ops). Como se tivéssemos um sensor que podemos ver as avaliações do mesmo e escolher ou não para ser pais dos nossos filhos. De uma coisa eu tenho certeza. Ninguém escolhe um homem para ser negligente como pai, abusador, mentiroso e sequer fazer o papel de progenitor, pelo contrário, seria uma paz sem tamanho se eles não viessem com esse “defeito de fábrica” que ouso em chamar de machismo estrutural.

Então, culpabilizar uma pessoa pela sua condição atual não é a melhor coisa a se fazer. Não mesmo. Ainda mais quando em vez de julgar, você poderia chegar nessa mulher e oferecer sua ajuda.

 

5) “Mas você não pensa nos seus filhos?”

– Luciene Gii

Ah, a gente pensa, pensa muito, pensa demais, pensamos tanto que muitas vezes nos abdicamos como pessoas. Trabalhar fora (ou em casa), lavar roupa, passar, cozinhar, levar pra escola, botar pra dormir, dar banho, sustentar; se tem uma coisa que todas essas ações são, são baseadas no pensar nos nossos filhos.

Agora, se sair e se divertir ou fazer qualquer outra coisa por algumas horas sozinha ou com amigos é não pensar nos nossos filhos, acho que você deveria rever sua visão sobre maternidade daqui pra frente.

 

6) “Mas, sua filha ainda mama no peito?!”

– Josemara Lima

Aquelas frases curtas demais, mas que fazem a gente ter vontade de esguichar leite como resposta. “Sim, a minha filha de 1 ano e 7 meses ainda mama no peito”, e sabe? Está tudo bem. Pesquise sobre a importância do leite materno, aí você não vai mais precisar fazer perguntas tão invasivas como essa.

 

7) “Você operou? Quer mais?  Vai operar quando? São tudo do mesmo pai? Cuidado pra não engravidar de novo”

– Bruna Lopes, mãe de cinco.

Esse combo de questionamentos para as mães que tem mais de 2 filhos. É, mulheres, não é fácil aguentar tantos julgamentos. Além de ter de dar conta de 5, ter de ouvir perguntas tão sem noção quanto essa.

Quero me digam quando as mesmas pessoas foram até vocês e perguntaram se suas crias estava bem ou precisando de algo. Evento raro não é mesmo? Então, qual a necessidade que temos de querer saber o que a pessoa vai fazer daqui pra frente na vida dela. É de virar os olhos, não?

 

8) “Mãe não abandona seus filhos nunca, vai pra debaixo da ponte mas não abandona”

– Bruna Ferreira De Oliveira

Essas frases são clássicas entre quem escolheu (ou não) morar com os filhos. Na nossa sociedade, o papel de criação deve ser todo da mãe, ninguém nunca chega em um pai e fala a mesma coisa, ou pergunta “por que seus filhos não moram com você?”. A romantização é clara aqui.

É jogado nas costas da mulher desde sempre cuidar, criar, ensinar e educar e a do progenitor “trazer comida pra dentro de casa”, mas não é assim que funciona de uns anos pra cá.

Mulheres também estudam, trabalham (seja em casa ou fora), têm suas vontades. Porque ela precisa abdicar tudo isso para cuidar exclusivamente dos filhos? Essa não é uma crítica para mulheres que escolheram – ou não – essa condição, mas uma reflexão que te faz colocar a mulher no papel social que ela tem e não apenas de mãe.
Nenhuma mulher que fez essa escolha abandonou seu filho, pelo contrário, essa é uma das maiores provas que ela se preocupa com o futuro deles. Como dito, mulheres vivem e elas também querem ser vistas como um ser além da sua maternidade.

 

9) “Você é guerreira, te admiro”

– Jo Uyara

Nãoooo, não somos guerreiras. Somos mulheres que muitas vezes não têm rede de apoio e estamos cansadas. Dizer a uma mulher que ela é guerreira, é dizer que tudo o que ela passa sozinha está tudo bem, é aceitar que a falta de ajuda é combustível para ela fazer as coisas e tentar sobreviver, e não é. Precisamos colocar a mão na consciência e parar de romantizar cansaço.

Esses são algumas fases que mulheres não aguentam mais ouvir, e por incrível que pareça, esses questionamentos vêm também de outras mulheres.

Acredito que cada maternidade é única! Julgar as escolhas ou confissões de outra mulher é o que chamamos de falta de empatia.

Se coloque no lugar de alguma delas quando fizer observações nesse nível. Pare e se pergunte “eu tenho mesmo de fazer esse tipo de pergunta?”, ou melhor, mude para “oi, amiga você é ótima te admiro, precisa de ajuda?”.

pequenas ações diferentes das que estamos estruturalmente acostumados a fazer, precisam ser desconstruídas diariamente. Claro, ninguém nasceu com empatia, ela é  diariamente alimentada em nós, então, deixe que ela tome conta de você.