O debate sobre o feminismo cresceu consideravelmente dentro do campo acadêmico nos últimos anos. A urgência em falar de um tema que contempla a questão da mulher é cada vez mais necessária. Mas quando se fala em feminismo, há algumas vertentes que tratam a respeito disso. Existe o debate de gênero marxista, estruturalista, radical, etc.

Neste trabalho concentra-se especificamente no debate do feminismo marxista, tentando expor a importância desse debate de acordo com esta concepção.

O feminismo marxista centra debate na questão de que para acabar com a opressão de gênero é preciso acabar com a sociedade de classes que se vive. A principal bandeira, e talvez, a pior crítica do feminismo marxista é o entendimento da dissipação do capitalismo. Arruzza (2019) traz um debate bastante atual sumarizando a proposta do feminismo que ela chama de Feminismo para os 99%. No texto, a autora enumera que o feminismo precisa fortalecer as greves, que as mulheres precisam encontrar na luta a solução para a dissipação de suas opressões no mercado de trabalho, pois a mulher trabalha em dobro, ou seja, elas são exploradas no trabalho remunerado, que é mal remunerado, e são exploradas dentro de casa onde são tida muitas vezes como inativas ou “rainhas do lar”, o trabalho doméstico é explorador e sem remuneração.

A autora fala ainda sobre o falido feminismo liberal, vertente essa bastante utilizada pela classe média/alta na tentativa de aproximação de luta com as classes subalternas. “Esse feminismo propõe uma visão de igualdade baseada no mercado, que se harmoniza perfeitamente com o entusiasmo corporativo vigente pela “diversidade” (Arruzza, 2019, p. 37). Ou seja, o objetivo deste feminismo não é a igualdade substantiva (Mészaros, 2002), mas uma suposta quebra de diferenças entre as mulheres, retirando um entendimento importante e muito plausível da divisão de classes. É importante dizer que quanto mais pobre for a mulher, mais explorada ela é.

Quando se fala no início do texto sobre o feminismo marxista, deixando claro que ele é anticapitalista, justifica-se por entender que

Sociedades capitalistas são, por definição, sociedades de classes que permitem a uma pequena minoria acumular lucros privados por meio da exploração de um grupo muito maior, que deve trabalhar por salários. O que é menos amplamente compreendido é que sociedades capitalistas também são, por definição, a origem da opressão de gênero. Longe de ser acidental, o sexismo está entranhado em sua própria estrutura (Arruzza, 2019, p. 51).

Ou seja, é preciso acabar com a sociedade capitalista para que as mulheres sejam verdadeiramente livres. Vale destacar que a opressão de gênero não nasce com o capitalismo, a opressão das mulheres existiu em outras formas de sociedade, mas destaca-se que ela avança com o estabelecimento de disputa, com a diferenciação entre o trabalho doméstico x o trabalho assalariado, onde a mulher que fica em casa para cuidar da rotina do lar torna-se alguém menos importante do que o homem que sai para “trabalhar” e traz o sustento para casa. “Fala-se da mulher, da família, como se fossem sempre as mesmas (…). Assim, a análise da feminilidade e da família deve ser um todo monolítico: mãe e filho, lugar de mulher (…) seu destino natural” (QUARTIM DE MORAES, 2000, p.91). Haug 2006 corrobora com esse pensamento explicitando que:

O controle do homem sobre a mulher na família faz da organização das relações de gênero algo apenas perceptível. Um exemplo disso é justamente a menor valoração do trabalho da mulher em comparação com o trabalho do homem, condição esta que torna a mulher particularmente mais propensa à exploração capitalista: o trabalho da mulher e da criança é mais barato (HAUG, 2006, p.316-7).

Portanto, a disposição do capitalismo, historicamente, coloca a mulher numa posição inferiorizada e subalternizada. Quando se fala em subalterno, é preciso destacar a figura da mulher negra que consegue ser ainda mais inferiorizada.

O feminismo marxista também coloca em questão a raça, enuciando que a mulher negra e pobre vive em uma condição pauperizada. Segundo Arruzza (2019), as feministas liberais e radicais tiraram a questão de raça da discussão, priorizando as necessidades das mulheres brancas que querem sair de casa para trabalhar, esquecendo que as necessidades das mulheres negras fogem dessas pequenas questões. “A verdade é que, embora todas soframos a opresão misógina na sociedade capitalista, nossa opressão assume diferentes formas” (Arruzza, 2019, p.81).

Davis (2016) problematiza a questão da raça, traçando vários paralelos de comparação entre mulheres brancas e mulheres negras, afirmando que as mulheres negras, historicamente, não tiveram poder de escolha onde iam trabalhar e de como iam trabalhar, mesmo depois da “abolição” elas continuavam sendo escravizadas.

Muitas são as vertentes do feminismo, mas o feminismo marxista incita a possibilidade de libertação completa da mulher a partir da quebra do sistema capitalista. Não se pode falar em liberdade de gênero, sem pensar na quebra desse sistema que escraviza e aprisiona as mulheres.

 

* Este artigo foi originalmente publicado nos Anais do Seminário Comunicação e Territorialidades e adaptado para o blog. Confira o artigo completo aqui.

Yasmin Ribeiro Gatto. Professora do curso de Graduação em Comunicação Social – Ufes

 

Referências Bibliográficas:

ARRUZZA, Cinzia. Feminismo para os 99%: um manifesto/ cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya, Nancy Fraser; tradução Heci Regina Candiani. 1.ed. – São Paulo: Boitempo, 2019.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe; tradução Heci Candiani. – 1 ed. – São Paulo: Boitempo, 2016.
HAUG, Frigga. Para uma Teoria das Relações de Gênero. In: A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas/organizado por Atilio A. Boron – Buenos Aires: CLASCO, 2006.
MÉSZAROS, István. Para além do capital. 1ed. – São Paulo: Boitempo, 2002.
QUARTIM DE MORAES. Maria Lygia. Marxismo e Feminismo: afinidades e diferenças. Crítica marxista, Campinas – SP, v.11, 2000.