Aprendizados sobre a quarentena e minha experiência ao acrescentar o crochê na minha listinha de hobbies.

 

Quais foram as artimanhas que você adquiriu neste ano para não surtar? Exercícios em casa, experiências na cozinha, começar a tocar aquele violão parado no canto do quarto, aprender uma nova língua, cuidar melhor do corpo e da alimentação, dar mais atenção à família, começar uma terapia…. e a lista vai longe.

Convenhamos que 2020 foi um ano fora do comum, com muitos desafios, perdas e adversidades. Para a gente não se entregar às dificuldades, nos adaptamos e mudamos para dar conta do que dava, cada um tentando lidar da melhor forma que pode.

No meu caso, eu comecei a fazer crochê. Eu sabia que eu gostava de atividades manuais, então queria um hobby que fosse nessa mesma linha. Descartei tudo relacionado à desenho, aquarela e pinturas pois eu acho extremamente complexo. Pensei em fazer algo com cerâmica plástica, mas eu teria que investir muito dinheiro nos utensílios, como por exemplo, um forninho elétrico específico para isso, sem nem ao menos saber se eu iria conseguir fazer aquilo.

Pensei em bordados, e por mais que eu os achassem lindos, eu não costumo usar muitas coisas bordadas. Então veio o crochê. Os materiais eram baratos, eu podia criar coisas úteis e práticas para utilizar no dia a dia. Pronto, a partir daí, separei uma pastinha no Pinterest de várias coisas que eu queria fazer.

Eu também escolhi o crochê porque me lembra minha avó materna que sempre fez cachecol e casaquinhos para a família toda. Como eu não consigo encontrá-la nessa pandemia, foi uma forma que achei de me aproximar afetivamente dela de alguma forma.

‘Nossa Regina, que coisa de velha, não tenho paciência pra isso em pleno 2020″. Mas pense comigo, caro leitor, qual foi a última vez que você viu sua avó tendo uma crise de ansiedade em pleno horário comercial? Ou entornando um balde de café porque ficou descendo o feed do Instagram até as 5 da manhã?

Vamos desconstruir esse preconceito com “coisa de velho”? Às vezes precisamos buscar alguns hábitos deste estilo de vida mais pacato para balancear essa nossa rotina turbulenta. Por exemplo, já parou para pensar na importância de tomar sol? De fazer palavras cruzadas? Ou até de ficar papeando à toa com a vizinha na porta da rua?

Não sei dizer como minha avó aprendeu crochê, mas sei que hoje, as coisas estão bem mais fáceis. Com alguns cliques você consegue vídeo em todos os idiomas possíveis ensinando você a fazer algo. Então é só decidir o que você quer começar e colocar a mão na massa.

Mas já te adianto que fazer algo do zero vai parecer assustador. Principalmente quando estamos inseridos em uma sociedade pautada pela produtividade 24/7, onde é glamuroso trabalhar até de madrugada e não ter tempo nem para comer, onde a frase “trabalhe enquanto eles dormem” não é vista com estranheza. Enfim, em uma realidade assim, fazer algo por puro prazer pode nos dar aquela pontada de culpa.

Aliás, eu percebi que até nas minhas horas vagas, eu não conseguia me desligar e continuava procurando referências e demais coisas para usar no trabalho. E para mim, ficou evidente o quanto ter um hobby era importante para a saúde mental.

Essa realidade que eu estava vivendo se refletia até nos livros. Durante muito tempo, eu só lia livros sobre empreendedorismo ou coisas relacionadas ao meu trabalho com marketing e publicidade. Isso acontecia porque eu achava que ler romance ou qualquer outro livro de ficção era perda de tempo. Eu não aproveitava a leitura para relaxar e curtir o momento sem compromisso. Eu tinha que estar o tempo todo aprendendo, não podia aproveitar o momento ocioso.

Outro ponto importante que aprendi com o crochê foi que você precisa se permitir errar e ser ruim em algo. Quando você começa algo do zero, seja um esporte, hobby ou qualquer outra atividade que você nunca tenha feito antes, lamento te dizer, mas: você vai ser ruim naquilo. A gente tem que superar o que eu costumo chamar “a síndrome do especialista”. Ou seja, na sua segunda aula de desenho você já quer ser o Picasso ou na sua terceira aula de canto já quer mandar um Freddie Mercury.

Por mais que o crochê estivesse nos genes da nossa família há muitos anos, a primeira vez que eu peguei uma agulha não foi tão fácil como eu imaginava. Nos vídeos do youtube parecia tudo mais simples. Acontece que isso é um processo natural, precisamos aceitar que a primeira vez fazendo algo você não será bom mesmo. Conforme você vai praticando e desenvolvendo, as coisas vão melhorando e você começa a perceber, pouco a pouco, a sua evolução. Mas não dá para começar já querendo ser “expert” naquilo que não vai rolar. Tenha paciência que tudo é um processo.

Eu, que não consigo ficar quieta na cadeira, tomo muito café, durmo tarde e não desgrudo do celular um segundo, nunca imaginei que hoje conseguiria passar horas fazendo crochê sem nem ver o tempo passar. Um movimento de cada vez, pontos que se repetem de forma calma e ordenada, que lentamente constroem algo maior.

Ainda tenho muito a aprender, mas tenho conseguido me dar o luxo de perder tempo fazendo algo que eu gosto sem me preocupar e sem peso na consciência.

Eu fiz crochê para não surtar. E você, tem adquiriu algum hobby nessa quarentena?

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