Seu rosto, expressões, papéis e atitudes são marcantes. Elisabeth Moss não passa batida. Nem parece ser essa a intenção de sua jornada. Ela é a cara de uma das séries mais aclamadas e comentadas dos últimos tempos, “The Handmaid ‘s Tale” ou “O conto da Aia”, em português. As cenas e um roteiro distópico fazem críticas a uma sociedade machista e revelam uma atuação única e inesquecível de Moss. Só por aí já valeria um texto inteirinho sobre ela, mas seu caminho envolve muitos outros trabalhos, que vamos indicar e comentar a seguir.

Elisabeth Moss marca a sua presença ao dar vida a mulheres reais, com histórias duras, complexas, que exigem, como sempre exigem de nós, força, coragem, resiliência e – por que não? – sensibilidade…

Em uma entrevista, a atriz explicou essa característica:

“Mulheres podem ser incríveis, falhas, boas e más. Para mim, tudo se resume a contar histórias honestas. Não é sobre falar sobre alguém perfeito ou dar lição de moral, é contar histórias verdadeiras sobre mulheres”, disse ela em entrevista ao site Independent.

Mas quem é a mulher por trás de tantas mulheres?

Vencedora de vários prêmios, como Emmys e Golden Globe Awards, Moss nasceu em uma família de músicos na Califórnia, e começou a carreira artística como bailarina. Aos 16 anos, à medida que a sua carreira foi crescendo, teve que escolher entre a dança e a atuação.

Desde a infância, ela é membro da Cientologia, um conjunto de crenças e práticas religiosas de alguns astros de Hollywood – envolta em certas polêmicas. E assim como é natural de sua personalidade, Moss não esconde esse vínculo. Como ela mesma diz, “é parte de quem eu sou”.

Suas atitudes não são em cima do muro. Aos 38 anos, não tem medo de se posicionar politicamente. A atriz se denomina feminista e já fez diversas declarações se opondo ao atual presidente americano, prestes a se despedir, Donald Trump.

Em uma entrevista à revista “Elle”, ela define o que pensa sobre certos estereótipos femininos:

“Eu odeio essa ideia de que temos que ser educadas como mulheres, ou dóceis. É bom ser gentil, é claro, mas odeio essa ideia de que temos que concordar com tudo, ou seremos rotuladas como ‘difíceis’. Eu tenho muitas objeções a isso”.

 

Quem lembra de ‘Mad men’?

cena de mad men com a personagem peggy em um corredor, segurando uma caixa e fumando um cigarro

 

Moss começou a ter seu rosto mais conhecido com sua personagem Peggy Olson, em 2007, na série dramática – clássica e premiada – “Mad Men”, que se passa em uma agência de publicidade na década de 1960 nos EUA. A obstinada Peggy protagonizou muitos momentos emblemáticos na série, que, mais uma vez, revela um ambiente machista em que a mulher parece precisar provar seu valor intelectual e profissional a todo momento.

A série é daquelas longas, com sete temporadas, e não tem a agilidade no roteiro que as mais recentes à la Netflix têm. Mas vale bastante a pena. Por essa, digamos, velocidade mais lenta, é possível entender e se envolver com cada personagem, trama específica. Além de ver na tela como muitos hábitos mudaram desde os anos 60, retratados na série, pra cá.

Já no filme “O homem invísivel”, a trama é atual. Muito atual, inclusive. A personagem de Moss, Cecilia, sofre na pele os efeitos perversos de uma sociedade machista em que o homem acredita ser dono da mulher. Em resumo, o longa, um suspense de 2020, conta a história de um relacionamento abusivo e tóxico do qual Cecília tenta se livrar a duras penas.

 

 

Mais uma vez a atriz interpreta uma personagem complexa, imersa numa realidade tão real quanto distópica. Apesar de ter um tom meio ficção científica – o ex-marido de Cecilia criou uma roupa que o deixa invisível -, o filme representa os muitos relacionamentos abusivos que não estão no cinema. Sem spoiler, mas o roteiro traça todos os estágios de uma relação deste tipo e as dificuldades de se libertar dele. Diante disso, fica uma reflexão no sentido de: quantas mulheres, de repente, se veem dentro de uma relação abusiva em que o homem controla da roupa às amizades, dos desejos a liberdade de ir e vir? E vale lembrar que nem sempre é fácil identificar que se está em uma situação dessas. Depois, menos fácil é sair dela.

Além de tratar do tema sob uma perspectiva menos óbvia, é mais um show de Moss.

 

Por fim, mas não menos importante, ‘The Handmaid’s Tale’

cena da série o conto da aia, com june em primeiro plano e três aias atrás

 

“The Handmaid ‘s Tale”, ou “O conto da Aia”, em português, é baseada no romance distópico da autora canadense Margaret Atwood. O enredo se passa em um futuro próximo nos EUA, em que, após um conflito interno, o país se divide e um governo totalitário instaura a “República de Gileade”. A fim de restaurar a “ordem e os bons costumes”, os novos governantes criam um sistema extremamente patriarcal, religioso, opressor, violento, hierárquico e ditatorial.

Na série, Moss interpreta June, uma jovem que foi separada da sua família, seu marido e filha, e escravizada dentro da função de “handmaid” ou “aia”. As handmaids são mulheres que têm suas identidades completamente anuladas e são mantidas pela sociedade exclusivamente para fins reprodutivos.

Os episódios são alternados com cenas do presente e flashbacks da vida dos personagens principais antes e durante a nova república. Quanto mais o espectador aprende sobre o passado dos personagens e o caminho percorrido, mais próximos ficamos da nossa realidade. As semelhanças não são coincidência. Ao escrever o livro, a autora se comprometeu de que todos os fatos tinham que ser baseados em algum fato antecedente real. Isso assusta. Mas, ao mesmo tempo, acende um alerta: governos totalitários nunca estão tão distantes quanto parecem.

A série tem três temporadas disponíveis no Globoplay e no Now. A quarta temporada tem previsão de estreia para 2021.

Bônus: E ela não para: acaba de estrear o filme “Shirley”, sobre uma escritora de contos de suspense; de assinar a minissérie “Candy”, em que interpretará uma assassina famosa nos anos 1980; e vai protagonizar a adaptação do livro “She Will Rise”, que conta a história da congressista americana Katie Hill.

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“Mad Men”: Disponível no NOW e Prime Video

“O homem invísivel”: Disponível no NOW, TeleCine, Looke e Apple TV

“The Handmaid´s tale”: Disponível no Globoplay e NOW

 

Fontes:

https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/series/atriz-de-handmaids-tale-acha-seu-trabalho-ridiculo-e-ainda-me-pagam-45340

https://www.thelist.com/186813/the-untold-truth-of-elisabeth-moss/